Uber encaminha a corrida para o motorista que aceita receber o menor valor e não para aquele que aceita primeiro

Antes o motorista recebia 75% do valor das corridas. Hoje, os preços e tarifas variam: do ponto A ao B, o valor pode ser X, X² ou, na maioria das vezes, menos que X.

Homem de meia-idade com barba rala e cabelo curto grisalho, usando óculos com lentes levemente refletivas e camisa verde, em um ambiente interno bem iluminado.
Foto: Cláudio Sena para 55content

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do 55content

Você entra no baile, ouve a música, a banda tocando, alguns dançando, outros parados assim como você, sem entender aquela música. E aí, você, que foi para se divertir, não consegue dançar e gera aquela frustração. Este cenário acontece com os motoristas em relação à política tarifária da Uber.

Há muita gente sem entender a regra do jogo, embora a Uber tenha mudado essa regra há cerca de quatro anos, após o período crítico da pandemia. A gente vai para a pista na expectativa, obviamente, de fazer um bom resultado. E aí considera principalmente que no dia anterior o resultado foi bom, deu para fazer boa parte das viagens, o que é raro, por sinal, tendo em vista que, geralmente, os preços não são atraentes.

Mas você veio de uma sequência de dias em que conseguiu fazer um bom resultado. E aí, de repente, o movimento está normal, mas os valores estão menores, o que gera uma frustração. Aí você fica como aquela pessoa que foi para o baile, entrou no salão, ouve a música, mas não consegue dançar.

Você vai para a pista, vê as solicitações de viagens chegando, mas não se sente disposto a realizá-las, porque os preços não estão atraentes. Para ficar bem claro para você, que ainda não entendeu, sabe o que é preço variável, tarifa variável? É isso que a Uber está fazendo, e ela não vai dar satisfação a absolutamente ninguém. É uma política que a empresa adotou em substituição à tarifa pré-definida, previsível, que ela manteve até mais ou menos o período da pandemia.

Se você é novato e não sabe, antes o motorista ficava com 75% do preço das viagens, e esse valor era previsível. Ou seja, você já sabia que, sem tarifa dinâmica, uma viagem do ponto A ao ponto B daria aproximadamente X. A Uber mudou isso. Hoje, do ponto A ao ponto B, em um determinado horário, pode dar X. Em outro, X². Ou, na maioria das vezes, dá menos X. E isso dá um nó na cabeça dos motoristas, que se irritam e acabam ficando frustrados. Portanto, não considere a previsibilidade da tarifa com base em um resultado muito bom que você teve em um determinado dia, porque isso vai variar muito.

De acordo com a Uber, essa variação leva em conta diversos fatores, como a quantidade de solicitações feitas pelos passageiros, a quantidade de motoristas que estão na pista, dentre outros fatores que ela não costuma revelar. Mas para você, meu querido, saiba que é uma loteria, a verdade é essa. Você vai para a pista, você tem a estratégia, você faz o posicionamento e nem sempre esse conjunto de ações que você adota para conseguir um bom resultado surte o efeito esperado.

Mas a empresa espera e consegue — acaba conseguindo — que o resultado para ela seja alcançado. Porque, na variação de preços, há sempre quem faça aquela viagem que você não faz de jeito nenhum. Haja vista o radar de viagens que ela introduziu como complemento dessa política tarifária.

E se você é novato e também não sabe, no radar de viagens a Uber adota a mesma estratégia da inDrive. Só que, no caso da inDrive, o valor é definido pelo passageiro e é o mesmo exibido para diversos motoristas. Já no caso da Uber, a coisa é perversa.

Ela exibe vários preços para diversos motoristas e vai encaminhar a viagem para aquele que pegar primeiro, certo? Não, para aquele que aceitar o menor preço, porque com isso ela vai pegar uma gordura maior naquela viagem. Portanto, entenda que, quando o valor estiver mais baixo do que o habitual, faz parte do jogo da Uber. Compete a você desenvolver uma estratégia para se adaptar a essa realidade.

Alguns desligam o aplicativo. Aqueles que podem — e são poucos — vão para casa, vão fazer outra coisa. Outros insistem, passam o dia todo, fazem pouquíssimas viagens, mas pelo menos não ficam no prejuízo de sair feito aspirador de pó, pegando tudo quanto é viagem que vem pela frente. E já tem aqueles que são os verdadeiros aspiradores de pó, saem catando tudo, não importa.

Afinal de contas, tem despesas a serem honradas: é aluguel do carro, é financiamento, é despesa com a família, que todo mundo tem. Porém, como quem tem calo no pé sabe onde o sapato aperta, vai adotar a estratégia que lhe for mais conveniente. Eu chamo aqui de aspirador de pó, mas não é no sentido pejorativo, por favor, entenda.

Aspirador de pó é porque ligou, ele sai aspirando tudo que vem pela frente, né? E só depois é que ele para para fazer a conta. Quando o correto é você calcular antes para ver o que vai pegar ou não. Consegui ajudar você com a informação do texto de hoje? Então dá um like e também compartilha com seus colegas.

Um forte abraço e até o próximo encontro. Fui.

Foto de Cláudio Sena
Cláudio Sena

Cláudio Sena iniciou sua trajetória como motorista de aplicativo em 2016, quando começou a trabalhar com a Uber.

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