O portal de notícias de Mobilidade e Delivery do Brasil

Pesquisar

Uber agora avisa quando tem cão-guia a bordo — e quem cancelar pode perder a conta; lei não permite cobrar taxa extra por causa dos pelos

Aviso de cão-guia só aparece perto do embarque; recusar é crime e pode dar banimento, enquanto a política de limpeza não permite cobrar taxa só por causa de pelos, deixando a conta com o motorista.

ponto de exclamacao .png
Opinião
Textos assinados que refletem o ponto de vista do autor, não necessariamente da equipe do 55content.
Luis Hatada para o 55content.
Luis Hatada para o 55content. (Foto: Acervo pessoal)

A Uber começou a testar um novo recurso no Brasil: a autoidentificação de usuários com cão-guia. Na prática, funciona assim: você aceita a corrida normalmente e só quando se aproxima do ponto de embarque aparece um aviso na tela informando que aquele passageiro está com cão-guia.

É parecido com o que acontece em corridas em dinheiro: você só descobre perto do embarque. Se, ao ver o aviso, pensar em cancelar, o app mostra uma mensagem extra lembrando que recusar passageiro com cão-guia é contra a Lei Federal 11.126/2005 e contra a política da plataforma — e que isso pode levar à desativação da sua conta.

O que diz a Uber (e a lei)

Pela própria política da Uber no Brasil:

  • transportar usuário com cão-guia não é opcional, é obrigação legal;
  • recusar corrida por causa do cão-guia é considerado discriminação;
  • motoristas que fizerem isso podem ter a conta desativada de forma definitiva.

E a lei não vale só pra Uber: serve pra táxi, ônibus, metrô e qualquer transporte público ou individual. Ou seja, não é “porque a Uber quer”: é legislação federal.

Lembrando também do óbvio que às vezes a gente esquece: ninguém tem cão-guia porque acha bonitinho. A pessoa tem deficiência visual e precisa daquele animal pra conseguir se locomover com autonomia. O cão é literalmente os olhos dela na rua.

Onde a regra pesa pro lado do motorista

Na parte de limpeza, a política da Uber é bem clara — e um pouco injusta com a gente:

  • o passageiro não pode ser cobrado por taxa de limpeza só por causa de pelos do cão-guia;
  • se, mesmo assim, for cobrado, a Uber promete estornar;
  • só em casos de sujeira extra (xixi, cocô, vômito, lama etc.) é que a plataforma pode pagar taxa de limpeza ao motorista, depois de analisar fotos e nota fiscal.

Ou seja: se o cachorro só soltar pelo, você limpa e pronto. Nada de taxa automática.

Do ponto de vista da empresa, é uma forma de proteger o usuário com deficiência. Do ponto de vista do motorista, é mais um custo que cai no nosso colo sem muita conversa. Em casos de pelo em excesso ou cheiro muito forte, faria sentido ter mais flexibilidade — mas, hoje, a regra oficial é essa.

Na prática: o que cabe ao motorista

Você não está fazendo favor nem “caridade”: é trabalho pago sob uma lei específica. Gostando ou não, hoje o jogo é esse:

  • Apareceu aviso de cão-guia? A corrida tem que ser feita.
  • Não quer problema com conta bloqueada e processo? Não cancele por causa do cão.
  • Está com medo de sujeira? Dá pra minimizar o risco:
    • combine com o passageiro de deixar o cão no assoalho, e não no banco;
    • explique com educação que banco (ainda mais de couro) pode furar com unha;
    • mantenha pano, aspirador portátil ou escovinha no carro pra resolver pelo rápido.

Caso aconteça uma sujeira séria (xixi, vômito, algo que realmente impeça de seguir trabalhando), o caminho é o de sempre: parar de rodar, fotografar tudo, fazer limpeza em lugar com CNPJ, pegar nota fiscal detalhada e abrir chamado no suporte explicando a situação. A Uber pode ressarcir, mas vai analisar caso a caso.

Vale a pena brigar por isso?

Se a gente for olhar pelo lado frio da estatística, corridas com cão-guia são raríssimas. Em anos de volante, tem motorista que nunca pegou nenhuma; outros contam duas ou três viagens no máximo. Já passageiro bêbado vomitando no banco, por exemplo, é bem mais comum.

Então, no balanço geral:

  • o risco de perder a conta por recusar um cão-guia é alto;
  • o impacto no seu dia a dia é baixo, porque quase não aparece;
  • o custo de fazer a corrida, na maioria dos casos, é pequeno.

A política da Uber é longe de ser perfeita, principalmente quando o assunto é custo de limpeza. Mas, na realidade de hoje, bater de frente por causa de cão-guia é comprar uma briga grande por algo que você vai ver pouquíssimas vezes no ano.

Se aparecer o aviso, respira fundo, trata o passageiro como qualquer outro, deixa o cão no chão, protege seu carro do jeito que der e segue o jogo. Melhor isso do que arriscar sua conta — e sua renda — por uma corrida que a lei já decidiu que você é obrigado a fazer.

Foto de Giulia Lang
Giulia Lang

Giulia Lang é jornalista formada pela Fundação Cásper Líbero e há três anos cobre o mercado de mobilidade urbana e delivery pelo 55content.

55 branco Logo.png

Receba a principal newsletter da mobilidade e delivery do Brasil

Ao se inscrever você concorda com a nossa Politica de Privacidade e Termos de Uso

Pesquisar