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No dia 3, as tarifas dos táxis em Belo Horizonte foram reajustadas e agora ultrapassam R$ 4,00 por quilômetro. E os aplicativos, como ficam nessa história? Vamos falar sobre esse jogo desigual, que acontece não só em BH, mas em várias cidades do Brasil.
Você ainda acredita que nós, motoristas de aplicativo, somos concorrentes dos táxis, ônibus ou metrô? Pois se liga nos dados.
Novas tarifas dos táxis em Belo Horizonte
A bandeirada — valor inicial da corrida — subiu de R$ 4,90 para R$ 5,15, um aumento de 5,10%, correspondente à inflação anual. Isso significa que, no mínimo, os taxistas têm seu poder de compra preservado anualmente. Mas não para por aí.
O quilômetro rodado na bandeira 1 passou de R$ 3,74 para R$ 4,11 — um aumento de 9,89%. Isso já é mais alto do que a tarifa do Uber Black na cidade. E aos fins de semana, feriados e horários especiais, entra a bandeira 2, que saltou de R$ 4,47 para R$ 4,92, um aumento de 10,07%.
Ou seja, além da correção da inflação, os taxistas ainda têm ganhos adicionais por quilômetro rodado, em ambas as bandeiras.
Hora parada e outros adicionais
Taxistas também recebem por tempo parado. Se o passageiro pede para “dar uma passadinha” no supermercado, o taxista continua ganhando. Já o motorista de aplicativo, que muitas vezes se submete a isso “só para agradar”, acaba comprometendo seu tempo de trabalho.
Dez passageiros parando dez minutos cada? Lá se vão 100 minutos, ou 1h40 do seu dia. E quanto isso custa? A hora parada dos táxis subiu de R$ 32,25 para R$ 35,48 — mais um reajuste de 10,02%.
Tem motorista de UberX em BH que não ganha nem isso por hora rodando com carro!
Outros acréscimos nas tarifas dos táxis
Transportar carrinho de supermercado ficou mais caro: de R$ 2,20 para R$ 2,40. Pode parecer pouco, mas veja a diferença: o passageiro de táxi paga por esse adicional. Em contraste, motoristas de aplicativo muitas vezes carregam sacolas por R$ 5,00 ou menos e sem qualquer taxa extra.
Se o volume transportado for acima de 60 cm, é cobrado um adicional de R$ 1,80. Tudo tem um preço. Para o táxi, isso não é luxo — é questão de sobrevivência diante da inflação.
E os motoristas de aplicativo?
Desde que a Uber chegou em 2014/2015, tudo aumentou: gasolina, pneus, manutenção, IPVA, seguro… menos a tarifa. Em algumas cidades, motoristas estão ganhando R$ 1,00 por quilômetro rodado — isso quando ganham.
Enquanto isso, os aplicativos ainda retiram sua parte da corrida. E o governo? Ao invés de oferecer proteção, regulamentação justa ou representação, quer apenas arrecadar: impostos, taxas e obrigações que vêm sem retorno algum.
Por que os aplicativos não reajustam?
Será medo da concorrência? Se a Uber aumenta, a 99 mantém os preços e o passageiro troca de plataforma. A tal “concorrência saudável” acaba sendo vantajosa apenas para o usuário final — e, claro, para a plataforma, que fica com seus 40% da corrida sem sequer prestar o serviço em si. A Uber, como empresa de capital aberto, precisa apresentar lucro para seus acionistas, mesmo que às custas do motorista.
Táxi tem reajuste, motorista de app tem prejuízo
O taxista paga taxas, tem custos com a placa, mas todo o valor da corrida vai para ele. Já o motorista de aplicativo precisa dividir com a plataforma, arcar com custos crescentes e ainda trabalhar sob pressão.
E aí fica a pergunta: se os táxis reajustam suas tarifas todos os anos, por que os usuários continuam usando táxi? Por que ainda existe demanda? Isso mostra que o preço não é tudo.
Enquanto isso, os motoristas de aplicativo cobram preços de banana, concorrendo com ônibus — cuja tarifa em BH é de R$ 5,00, praticamente o mesmo valor da corrida mínima. Algo está muito errado.
A grande pergunta
O passageiro do táxi paga mais. O motorista de aplicativo trabalha mais. Quem está ganhando com isso?
Compare a tarifa mínima da Uber em 2016 com a de hoje. Na maioria das cidades, se não está igual, está menor. Então deixo aqui uma pergunta fundamental: qual seria o valor ideal da tarifa mínima e do quilômetro rodado hoje?
Se os taxistas conseguem reajuste todo ano, por que nós não conseguimos?
Reflexão final
Isso não é só uma crítica — é um chamado para reflexão. Precisamos discutir o que é justo. Reajuste não é luxo, é uma necessidade para não sermos esmagados pela inflação e pelos custos crescentes. Se você também sente isso na pele, compartilha esse conteúdo, comente, reflita. É hora de fazer essa pergunta circular: por que a gente não consegue o que o táxi consegue?
Tamo junto. Abração.