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Quando a Uber oferece R$100, R$500 ou R$1.000 de incentivo, não é incentivo  — é devolução parcial

A empresa tira dos motoristas todos os dias, manipulando tarifa e algoritmo, e depois devolve uma parte fingindo que está premiando.

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Opinião
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Cláudio Sena para o 55content.
Cláudio Sena para o 55content. (Foto: Acervo pessoal)

Você chama isso aqui de incentivo — aquele valor extra que a Uber oferece a alguns motoristas quando realizam uma quantidade X de viagens?

Pode até dizer que sim. É um incentivo, porque se eu fizer, por exemplo, 50 viagens, a Uber promete que eu vou receber R$70, R$80 a mais, às vezes até um valor maior do que isso, independente do que ganhei com as viagens.

Faz sentido. Mas neste texto eu explico por que eu, particularmente, não chamo isso de incentivo.

Veja bem: aconteceu aqui em Salvador um caso de um colega nosso que fez mais de R$1.000 — na verdade, R$1.056 — e foi duramente criticado pelos colegas, porque R$250 desse valor correspondiam a incentivos. Disseram: “Ah, assim é fácil! Num domingo, com movimento alto, fazendo X, Comfort e Black, dá pra fazer mais de R$1.000. Quero ver só o valor das viagens.”

Entrei no circuito e disse: “Vocês estão enganados, e eu vou explicar por quê.” Perguntei: quem aqui é motorista há pelo menos cinco anos? Vários levantaram a mão: “Eu, eu também.” Então perguntei: vocês lembram como era a tarifa em 2019, antes da pandemia? Lembram do dinâmico multiplicador?

Agora, quem é motorista desde 2016, como eu, percebeu que ao longo dos anos a Uber retirou ganhos dos motoristas — e todos concordaram.  Então, como é que agora vocês chamam de incentivo algo que vem de uma empresa que reduziu o valor das tarifas? Isso não é incentivo.

Vou usar um termo que pode soar forte para alguns, mas é o que melhor define o que acontece: isso é devolução de roubo.

A Uber rouba os motoristas na cara dura, manipulando a tarifa e o algoritmo. Ora paga R$12 por uma viagem de 7 km, ora oferece os mesmos R$12 por uma de 10 ou até 11 km — e por aí vai. Então, você, motorista há pelo menos cinco anos, chamar de incentivo o que a empresa te oferece para realizar uma quantidade X de viagens… desculpe, é ingenuidade. Isso é devolução parcial de roubo.

A Uber deveria devolver tudo o que tirou indevidamente dos motoristas. Portanto, se um colega seu faz um valor alto — R$1.000 ou mais, dependendo da cidade —, não tire o mérito dele. Em cidades onde fazer R$300 num dia já é extraordinário, se ele faz R$400 ou R$500 porque entrou um “incentivo”, não desmereça.

Ali não é incentivo. Ali é devolução parcial de roubo — do que a Uber retira escandalosamente dos motoristas todos os dias, em praticamente todas as viagens. Ou você ignora o fato de que, em muitos casos, a Uber cobra mais de 50% e raramente fica com menos de 30%? Por favor, né?

Então, quando você vir a Uber oferecer R$100, R$150, R$200, R$500 ou até R$1.000 de incentivo… não é incentivo coisa nenhuma. É devolução de roubo.

Foto de Cláudio Sena
Cláudio Sena

Cláudio Sena iniciou sua trajetória como motorista de aplicativo em 2016, quando começou a trabalhar com a Uber.

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