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Por que motoristas evitam levar passageiro no banco da frente e o que a Uber tem a ver com isso?

Mais que “birra”, decisão de não permitir passageiros ao lado envolve segurança, respeito e reação à postura da plataforma.

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Opinião
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Cláudio Sena para o 55content.
Foto: Reprodução/Acervo 55content.

Por que motoristas por aplicativo não gostam de levar passageiro no banco da frente? Essa pergunta vive aparecendo nas redes sociais. Passageiro se pergunta, blogueiro comenta, usuário reclama, mas poucos entendem os motivos reais.

Como tudo começou?

Pra isso, a gente tem que voltar um pouco no tempo, quando os aplicativos chegaram ao Brasil. Até 2019, isso não era problema. Todo mundo andava de ar-condicionado ligado, vidros fechados, passageiro no banco da frente ou de trás, tanto fazia. Não havia restrição.

Aí veio a pandemia e, junto com ela, novas regras. Era obrigatório circular com o ar desligado, janelas abertas e, claro, nada de passageiro na frente. Era a orientação da época e os motoristas obedeceram. Só que junto com isso, a Uber viu uma chance e, pra ficar bem com a opinião pública, criou a tal da “tarifa social”.

A plataforma baixou o valor da corrida pro passageiro, dizendo que era pra ajudar a manter o uso do aplicativo durante a crise. Só que, esperta como sempre, jogou o prejuízo no colo do motorista. Reduziu o valor pro usuário, mas também pro parceiro. E a parte dela, da Uber? Essa não caiu, se manteve firme.

No começo, ninguém reclamou. Afinal, tinha pouca demanda na época, então mlhor pouco que nada. Mas a pandemia acabou, as restrições caíram, só que a tarifa nunca voltou ao que era. E aí o motorista olhou e pensou: “Ué, e agora? Eu vou voltar a ligar o ar, fechar o vidro e botar passageiro do meu lado, pagando tarifa de pandemia?”. Claro que não.

Você acha que foi só a pandemia que causou isso?

Esse foi o primeiro motivo. O segundo é a onda crescente de assédio contra motoristas. Tem sido cada vez mais comum homens pedindo viagem pra tentar realizar algum tipo de fantasia com quem está ali só querendo trabalhar.

E não, não estamos falando de gays ou travestis, que não causam problemas, não dão em cima de motorista. O problema tem sido homens aparentemente héteros, pais de família, com cara de bom moço, que mandam mensagem indecente pelo chat, ou nem falam nada e partem pro assédio direto dentro do carro.

O caso mais recente e mais revoltante envolveu o influenciador Atan Uber, aqui de Salvador. O passageiro, um homem que mora num edifício de classe média alta, chamou uma corrida de madrugada. Quando o motorista chegou, ele inventou uma história mirabolante, dizendo que a avó precisava de ajuda pra descer e pediu que o motorista entrasse no prédio.

Olha que criatividade! O motorista desconfiou, começou a gravar e registrou tudo. O caso repercutiu nos portais de notícia e revelou o que muitos já sabem: o assédio nos aplicativos não é só contra mulheres, é muito comum contra motoristas homens.

Mas ninguém fala disso, ninguém denuncia. Aí o motorista se protege como pode: não levando passageiro no banco da frente. Você, passageiro, pode até não concordar. Mas agora sabe o motivo. Não é birra, não é má vontade. É proteção. Primeiro, contra a sacanagem da Uber, que reduziu a tarifa lá atrás e nunca mais devolveu o valor. Segundo, contra o assédio.

Um abraço e até o próximo encontro. Fui!

Foto de Cláudio Sena
Cláudio Sena

Cláudio Sena iniciou sua trajetória como motorista de aplicativo em 2016, quando começou a trabalhar com a Uber.

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