Você sabia que agora a Uber tem uma parceria que permite comprar o carro que você está alugando? Quando vi isso, pensei: “Deixa eu entender se realmente é interessante”. E, fazendo as contas, percebi que é mais uma daquelas situações em que, além das taxas altas, ainda criam formas criativas de sugar mais do motorista. Não é de hoje que a Uber monetiza de tudo: corridas, entregas e até parcerias divulgadas dentro do aplicativo.
Alugar o carro que você vai comprar depois?
A proposta é com a Kovi, uma locadora. No aplicativo, aparece: “Conquiste seu Polo 0 km com desconto de R$ 6.990”. Ao entrar nos detalhes, vi que oferecem modelos como Polo, Fiat Argo e Onix Hatch, todos 1.0, mas com condições específicas. Você aluga por 12 meses e, no 13º, pode comprar o carro por um valor “abaixo da Fipe”, sem análise de crédito e com entrada parcelada.
À primeira vista, parece bom. Todos os carros são 0 km, você cuida dele como se fosse seu e depois compra. Mas vamos aos números. No plano para um Polo Track 1.0, a entrada à vista é R$ 1.800. Se parcelar em quatro vezes no Pix, sai R$ 2.200, tendo juros de 22% sobre o valor. No cartão, dá pra dividir em seis vezes e pagar só R$ 90 de juros. Estranho, né? Mas isso é só o começo.
O aluguel semanal, no plano de 5 mil km/mês, é R$ 1.190. Se quiser 6 mil km/mês, R$ 1.262. E se quiser quilometragem livre, R$ 1.273. Ou seja, mais de R$ 4.300 por mês só de aluguel, sem contar combustível. Ainda tem exigência: precisa rodar na Uber, senão quebra contrato. No regulamento, há cláusulas que permitem à Kovi e à Uber cancelar sua participação sem aviso prévio, mesmo após 11 meses pagando, e simplesmente não vender o carro.
Aluguel com outras empresas chega a uma diferença de R$ 1 mil por mês
Comparei com a Localiza. Lá, o aluguel de um Hatch similar custa R$ 819 por semana, cerca de R$ 3.279 por mês, ou seja, mais de R$ 1 mil a menos do que na Kovi. No ano, a diferença é gritante: na Localiza, quase R$ 40 mil; na Kovi, R$ 52 mil. Isso sem contar o combustível. Fiz as contas para BH: gasolina a R$ 6,19, Polo fazendo 11 km/l, rodando os 5.000 km do plano, dá mais R$ 2.803/mês de combustível. Resultado: na Localiza, você começa o mês devendo R$ 6.093; na Kovi, mais de R$ 7.100. Isso significa que, se faturar R$ 8 mil no mês, sobra R$ 900; se faturar R$ 7 mil, não sobra nada.
E estamos falando de carro Comfort, não Black. E se você ficar doente ou tiver qualquer imprevisto e não rodar por alguns dias? O prejuízo é certo. O que me preocupa é que esse tipo de parceria atrai motoristas desesperados para sair do aluguel. Muita gente topa porque acha que vai “investir um pouco a mais” e, no fim do ano, ter o próprio carro. Mas entra numa dívida alta, com metas de faturamento apertadas e risco de não conseguir comprar o carro no fim.
No fim das contas, essa parceria só reforça que a Uber lucra em cima do motorista de todas as formas possíveis. Eles ganham com as corridas, com a taxa que chega a 40% e, agora, com acordos que obrigam a fidelidade à plataforma. Enquanto isso, o motorista arca com todos os custos, riscos e ainda começa o mês com R$ 7 mil de dívida só pra rodar. Então, pense bem: será que vale assumir um compromisso desses, com tantas exigências e pouca segurança, só para talvez ter o carro no final? Pra mim, não faz sentido. Quero saber: pra você, faz?
Tamo junto. Abração.