Parceria da 99 para carros elétricos falha: postos quebrados aparecem como “disponíveis” no app

Estação próxima do Parque Trianon está há 30 dias sem funcionar! Há uma demanda por carros elétricos, mas a infraestrutura para atendê-los não é suficiente. 

Dois homens conversam em um estacionamento coberto, um usando camisa preta e o outro de camisa branca com óculos.
Foto: Marcelo Fora da Curva para 55content

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do 55content

Hoje quero compartilhar uma reflexão importante, baseada na experiência de quem realmente vive o dia a dia do aplicativo nas ruas de São Paulo. Falo sobre o uso de carros elétricos por motoristas de aplicativo, mais especificamente a opinião do Marcelão, um motorista experiente que já está há bastante tempo rodando com um veículo elétrico na capital.

Conversei com ele para entender melhor sua visão, e posso dizer que ela traduz exatamente os desafios e pontos positivos que muitos colegas enfrentam.

O Marcelão trabalha com um BYD Dolphin (ou como ele chamou, o “Di Wan”), aquele modelo que já vem com porta automática. O carro em si, segundo ele, é “sem comentários”, impecável, muito bom de dirigir e excelente para o trabalho. Basta um toque e a porta abre sozinha. Mas claro, nem tudo são flores — e é aí que começa a verdadeira discussão.

Quando perguntei sobre as dificuldades, ele foi direto: o maior problema está no carregamento. Não na autonomia, não no desempenho, mas sim na infraestrutura oferecida para quem precisa manter esses carros elétricos rodando 12, 14, 15 horas por dia.

Apesar das parcerias anunciadas, como a da 99 com a Zeletric, na prática, elas deixam muito a desejar. Os postos de carregamento que deveriam ser um alívio acabam sendo fonte de frustração. Muitos estão com equipamentos quebrados, parados ou fora de funcionamento — e o pior: no aplicativo, aparece como “disponível”.

Marcelão relatou algo que, infelizmente, não é incomum: ele mesmo já se deslocou para uma estação, gastando tempo e energia, acreditando que o carregador estava liberado, só para chegar e descobrir que estava estragado. Para ilustrar, ele mencionou uma estação próxima ao Parque Trianon, embaixo do parque, que já está há cerca de 30 dias sem funcionar. Trinta dias!

A parceria oferece um preço atrativo para o carregamento? Sim, sem dúvida. Mas de que adianta um preço bom se as opções são escassas e as estações vivem em manutenção? Não basta colocar a logomarca da 99 e das elétricas e achar que o problema está resolvido. É preciso expandir a rede de carregamento e, principalmente, cuidar para que ela funcione de forma contínua e confiável.

Durante a semana, o cenário piora: filas com três, quatro carros aguardando para carregar, o que implica mais tempo perdido, mais prejuízo. Enquanto isso, o número de carros elétricos nas ruas só cresce, sem que a infraestrutura acompanhe esse crescimento.

Outro ponto levantado foi a dificuldade em acessar alguns dos pontos indicados no app. Muitas vezes, eles estão dentro de garagens particulares, hotéis ou condomínios, sem acesso para motoristas comuns. Marcelão até contou que deu sorte de encontrar uma estação liberada perto do hotel onde estava hospedado. Mas sorte não é estratégia. Não dá para depender disso para trabalhar.

No fim das contas, a crítica não é só para a Zeletric ou para a 99. É para todo o setor. Há uma demanda crescente por carros elétricos, mas a infraestrutura para atendê-los está longe de ser suficiente. Se as empresas realmente querem incentivar essa transição e manter sua logomarca vinculada ao serviço, precisam investir de verdade, com mais estações, mais manutenção e melhores condições para o motorista.

A opinião do Marcelão não é isolada. Outros motoristas que conversei compartilham do mesmo sentimento: depois que você consegue desbloquear o primeiro carregamento, o restante até flui. Mas para quem depende disso diariamente, a sensação é de que estamos tentando construir o futuro com os pés presos no passado.

Fica aqui meu agradecimento ao Marcelão pela sinceridade e pela disposição em dividir sua vivência. É ouvindo quem está na rua que conseguimos enxergar onde, de fato, precisamos melhorar.

Até a próxima.

Foto de Marcelo Ribeiro
Marcelo Ribeiro

Marcelo Ribeiro, conhecido como Marcelo Fora da Curva, é de Porto Alegre e iniciou sua carreira como vendedor. Em 2016, tornou-se motorista de aplicativo, usando sua experiência em vendas para oferecer um excelente atendimento ao cliente, o que lhe rendeu a nota mais alta entre motoristas da cidade e vários prêmios da Uber. Em 2017, criou um canal no YouTube para compartilhar suas experiências, que rapidamente se tornou popular, alcançando 300 mil inscritos e 92 mil seguidores no Instagram.

Pesquisar