Parar um dia sendo motorista de app significa não ter dinheiro no bolso. Mas e a sua mente, como tá?

A gente cuida do carro, do aplicativo, do dinheiro... mas esquece de cuidar da cabeça. E quando a mente quebra, não tem oficina que resolva.

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Opinião
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Motorista de aplicativo com vitrine de perfumes e cosméticos instalada no encosto do banco dianteiro do carro.
Foto: Daniel Piccinato para 55content

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Você, motorista de aplicativo, já sentiu aquele peso mental? Aquela sensação de cansaço, estresse, cobrança por resultados… e ainda precisa lidar com as contas do dia a dia e a ausência da família? Em muitos casos, você tem uma discussão em casa e precisa sair para trabalhar — isso traz uma aflição enorme.

No vídeo de hoje, quero falar sobre um assunto que pouca gente aborda: saúde mental. A rotina do motorista de aplicativo é puxada. Somos autônomos e, se paramos um dia, significa que não entra dinheiro no nosso bolso.

Essa pressão constante vai nos corroendo por dentro. Muita gente sente ansiedade, raiva, frustração, e nem percebe que isso é uma questão de saúde mental. Ser motorista não é fácil — é ter que aguentar muita coisa calado.

Mas vou mandar o papo reto: isso não é frescura, não é luxo. Cuidar da sua saúde mental é prioridade. Se você não estiver bem, sua família também não estará. Se você não estiver bem, não vai conseguir trabalhar direito nem garantir o sustento da sua casa.

Agora, como fazer isso se, muitas vezes, o motorista de aplicativo não tem plano de saúde, não tem tempo para parar, e ainda por cima vive uma profissão solitária? É sobre isso que quero conversar com você nesse vídeo. Às vezes, a gente precisa parar, refletir, reavaliar, ressignificar e começar a tomar atitudes.

Vou tentar trazer alguns conselhos aqui, se é que posso te ajudar. Mas já passei por situações difíceis na vida e tudo que funcionou comigo, quero compartilhar com você.

Primeira coisa: pare de se comparar com os outros. Cada um tem sua caminhada. Na internet, todo mundo parece feliz, com o carro melhor que o seu, com um sorriso no rosto… mas isso não é verdade. Muita gente está passando por dificuldades, mas não tem coragem de contar. Muitos vivem de aparência. E é muito difícil assumir que a vida está ruim, que se está cheio de problemas. Ninguém gosta de expor suas derrotas.

Segundo conselho, talvez o mais importante: pratique a gratidão. Você já agradeceu pelo ar que respira? Pela comida na sua casa, mesmo que seja um simples arroz com ovo (que, aliás, está caro, né)? Pela sua saúde, pela saúde dos seus pais, dos seus filhos, da sua esposa ou namorada? Pela sua própria vida?

Às vezes, deixamos as coisas importantes de lado — e a coisa mais importante é a nossa vida.

Terceiro conselho: sobre dívidas. Calma. Não se desespera. O que o banco e quem está te cobrando querem é te pressionar para que você aceite acordos ruins. Muitas vezes, o banco ou o cartão de crédito vai oferecer “promoções” e “facilidades” que parecem boas, mas não são. Às vezes, até ameaças por telefone são estratégias para te empurrar juros altíssimos.

Quando eu digo que você sai no prejuízo, é porque o banco quer que você aceite um mau acordo. Um exemplo: quando a fatura do cartão chega e aparece “pague o mínimo”. A primeira coisa a fazer é respirar. Se não estiver conseguindo pagar, liga no banco, tenta negociar. Veja o que é vantajoso para você. Não se precipite.

Toda dívida tem alguém muito interessado em receber — quem está te cobrando. Mas eles vão tentar lucrar com juros. Então, negocie, explique sua realidade, seja honesto, mostre sua situação. Faça um acordo e vá pagando. Se for do carro, vá pagando o acordo do carro. Tudo se resolve.

Outra dica muito importante: pode parecer bobagem, mas separe R$20, R$30, R$40 por dia. Trabalhe uma ou duas horinhas a mais, junte esse dinheiro e coloque numa poupança. Faça uma reserva de emergência. Por quê? Porque quando acontece algum imprevisto, você terá onde recorrer.

Essa reserva não é para passeio, não é para sair. E isso te traz mais leveza. Pare de usar cartão de crédito para comprar bobagens, luxos, restaurante, videogame… essas coisas te endividam.

Cuide das suas finanças. Coloque tudo no papel. Veja o que realmente é essencial. Liste o que você precisa para sobreviver — isso é o que deve ser prioridade. O que não for essencial, você pode deixar para depois. Renegocie com o banco, corte gastos. Quando você colocar os pés no chão e começar a respirar, tudo vai se encaixar.

Calma. Todo mundo passa por isso. Isso é vida adulta. Todo adulto enfrenta momentos difíceis. A vida não é fácil — ela é mais difícil do que fácil. E só vivemos o melhor dela quando adquirimos maturidade.

Se você não está bem psicologicamente, como eu disse, busque ajuda. Vá a uma igreja, converse com um amigo, procure alguém com a cabeça boa, alguém mais maduro.

Chama um colega para almoçar, diga que precisa conversar. Troque uma ideia. E aí, vá refletindo. Mas coloque uma coisa na sua cabeça…

A única pessoa que pode tirar você da situação em que está é você mesmo. Não adianta colocar a culpa no Estado, no governo, na Uber, na 99, no presidente, no prefeito, na sua esposa, na sua família… e viver apenas reclamando.

A partir do momento em que você entende que é você quem precisa tomar as rédeas da situação e começa a encarar a realidade como ela é, aí sim você vai conseguir evoluir na vida.

Agora, se a pressão está muito grande e você sente que precisa de ajuda, você tem dois caminhos. O primeiro é buscar ajuda profissional — talvez procurar um psicólogo, se planejar financeiramente para isso. É um investimento na sua saúde mental.

Lembre-se: esse dinheiro que você gasta com terapia vai trazer bem-estar, clareza, vai ajudar você a refletir e evitar decisões precipitadas. Porque, com a cabeça quente, a gente age no impulso, gasta sem pensar, se endivida, tenta preencher um vazio com compras, tenta se distrair de um problema emocional com atitudes que só pioram tudo.

Se você está com problemas na família, no seu casamento, e não tem condições financeiras para pagar por um psicólogo, talvez possa buscar apoio em uma igreja. Muita gente está realizando trabalhos sociais sérios e acolhedores.

Mas o primeiro passo é reconhecer que você precisa de ajuda. E foi algo que eu mesmo já vivi. A própria igreja me ajudou muito nessa área.

Eu sei que estou entrando numa parte mais pessoal, até religiosa, e entendo que tem gente que acredita em Deus, tem gente que não acredita — não é sobre isso. É sobre reconhecer que, às vezes, existe um trabalho social disponível, e ele pode fazer diferença na sua vida.

Seja buscando um psicólogo ou uma igreja, você pode encontrar um ambiente de acolhimento — algo que, muitas vezes, falta na vida da gente. Às vezes, até mesmo dentro da própria família é difícil, tem pessoas que simplesmente não entendem o que estamos passando.

Outro ponto importante: pare de andar com pessoas que te colocam para baixo. Pare de conviver com gente pessimista, grupos de WhatsApp tóxicos… Não adianta estar cercado de pessoas que só te fazem mal.

É melhor ter poucas amizades, mas amizades de verdade — aquelas que, se você ligar, estarão lá por você, para bater um papo, te ouvir, almoçar contigo, te dar apoio. Menos é mais. Saia do convívio com quem te suga emocionalmente.

E, por fim, cara, escute coisas que te elevem. Ouça podcasts, consuma conteúdos positivos. Tem muita coisa boa na internet: psicólogos, psiquiatras, profissionais de autoajuda… conteúdos com os quais você pode se identificar.

Eu mesmo ouço bastante podcast e isso me ajuda demais. Então pare de consumir conteúdo que só te deixa irritado — tipo discussões políticas, brigas ideológicas… “é Bolsonaro”, “é Lula”… Isso só alimenta sua raiva, e não resolve nada.

Esse momento é para você se curar, se fortalecer, se reencontrar.

Espero, de coração, ter ajudado. Vai passar. Vai dar tudo certo. Trabalhar como motorista de aplicativo não é fácil. Só a gente sabe o que realmente passa nas ruas.

E lembre-se de uma coisa: pratique a gratidão. Seja grato pela sua saúde, pela sua vida, pela roupa que você veste, pela comida que você come.

Tudo passa, meu irmão. Estamos juntos. Fique com Deus e até o próximo vídeo. Valeu, tchau!

Foto de Daniel Piccinato
Daniel Piccinato

Daniel começou a trabalhar como motorista de aplicativos em 2016, buscando maior estabilidade após sentir insegurança na empresa onde estava. Inspirado por conversas com o filho do dono, ele logo se uniu a outros motoristas em um grupo de WhatsApp, onde trocava dicas para melhorar seu desempenho. Em 2018, criou um canal no YouTube para compartilhar orientações sobre horários e estratégias de trabalho. Com o sucesso, expandiu para o Instagram em 2020, continuando a ajudar motoristas ao compartilhar sua experiência.

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