Acabei de assistir à audiência pública da Câmara dos Deputados sobre a regulamentação dos aplicativos, e vou te dizer: foi revelador. A Amobitec, que representa empresas como a Uber e a 99, deu declarações que, na minha opinião, escancaram o que essas plataformas realmente pensam da gente. E o melhor é que o relator do projeto, o deputado Augusto Coutinho, não deixou barato. Deu uma verdadeira lapada, e das boas, quando ouviu o representante da empresa tentando justificar as taxas que nos são cobradas.
O cara da Amobitec teve a coragem de dizer que as plataformas nunca cobram mais de 40% e que as taxas variam de 1% a 40%. Só que o Coutinho, que é quem vai escrever o texto da regulamentação, rebateu com clareza. Ele disse: “Na minha interpretação, o algoritmo vê o máximo que o consumidor consegue pagar e o mínimo que o motorista consegue receber”. E é exatamente isso! Esse é o coração do problema. O tal do algoritmo é feito para sugar até a última gota do nosso trabalho.
Enquanto o representante da empresa falava de “espírito de competição” e “livre mercado”, o relator mostrava que entende como a coisa realmente funciona: a Uber não está competindo, ela está explorando. O sistema é desenhado para cobrar o máximo do passageiro e repassar o mínimo para quem faz o trabalho de verdade.
Vou te explicar por que o mínimo vira o teto
Durante a discussão, outro ponto importante apareceu, e foi levantado pelo deputado Dani Agrobom, que criou a frente parlamentar para defender os motoristas. Ele disse que o mínimo que o trabalhador deveria receber é o salário mínimo. Perfeito. Mas aí vem a pergunta: como é que alguém consegue sobreviver ganhando só um salário mínimo, tendo que manter um carro, pagar combustível, seguro, IPVA e todas as despesas que a gente conhece?
Cada motorista tem um custo diferente. Cada cidade tem um IPVA diferente, um preço de combustível diferente, e o consumo do carro muda completamente. Então como é que o governo e as plataformas vão definir um “mínimo” que faça sentido pra todo mundo? A resposta é simples: não vão. O que eles querem é colocar o mínimo como regra, e, com o tempo, esse mínimo vira o teto.
Foi assim que aconteceu com a tarifa variável da Uber. Antes, a taxa era fixa: 20% no Black, 25% no X. Depois que abriu capital na bolsa de valores, ela criou o modelo de taxa variável. Desde então, os lucros da empresa disparam trimestre após trimestre, bilhões e bilhões, e a gente continua recebendo cada vez menos.
Sabe o real interesse que o discurso bonito esconde?
O representante da Amobitec ainda tentou justificar dizendo que as taxas variáveis permitem cobrar mais de quem pode pagar e menos de quem tem menos renda, criando um “modelo equilibrado”. Conversa fiada. No fim das contas, quem paga a conta é o motorista, que continua arcando com os custos do carro e recebendo cada vez menos.
E quando o deputado perguntou quanto exatamente as empresas cobram, o cara da Amobitec se esquivou. Não respondeu. Não é à toa. Eles sabem que a verdade é difícil de engolir: o sistema é feito para aumentar os lucros das plataformas, e não o nosso ganho.
O relator Augusto Coutinho, pelo menos, parece ter entendido isso. E é um bom sinal. Porque se o texto da regulamentação for escrito com base nessa visão realista — de que o algoritmo é desenhado para explorar o motorista, talvez a gente finalmente tenha alguma chance de equilibrar o jogo.
A luta é pelo justo, não pelo mínimo
Então fica aqui o alerta: a nossa luta não é para garantir o mínimo, é para garantir o justo. Porque se deixarem, o mínimo vira o teto, e a gente vai continuar rodando 12, 14 horas por dia para levar migalha pra casa enquanto a Uber e a 99 batem recorde de lucro.
Enquanto o representante da Amobitec tenta vender um discurso de “modelo sustentável”, quem sustenta esse sistema somos nós, com o combustível caro, o carro desgastado e a conta sempre no vermelho. E isso não é sustentabilidade, é exploração.
O debate está acontecendo agora, e o texto da regulamentação ainda vai ser escrito. Mas se continuar do jeito que as plataformas querem, o motorista vai ter o mínimo por direito e o máximo de custo no bolso. E isso, meu amigo, não é avanço, é retrocesso.
Deixa aí sua opinião. Você acha que o mínimo vai virar o teto também?
Tamo junto. Abração!