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Mandei descer mesmo: o dia em que perdi a paciência com passageiros sem noção

Entre uma passageira controladora e quatro playboys bêbados, aprendi que respeito se impõe — ou se perde. E você, deixaria passar?

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Opinião
Textos assinados que refletem o ponto de vista do autor, não necessariamente da equipe do 55content.
Motorista de aplicativo de camisa branca e óculos dirige durante o dia com o carro vazio, registrado por uma câmera interna no painel.
Foto: Luís Hatada para 55content

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do 55content

Em um único dia de trabalho, precisei tomar duas decisões difíceis: pedi para uma passageira descer do carro e quase fiz o mesmo com outros quatro passageiros. Não foi uma escolha fácil, mas senti que era necessário.

Quero compartilhar o que aconteceu, com todos os detalhes, porque, por trás de cada vídeo que você assiste nas redes, há o peso da vivência de quem está ali no volante. Analisar de fora é uma coisa. Estar ali, dentro do carro, passando por isso, é outra completamente diferente.

Muito além de dirigir: a complexidade do motorista de app

Nós, motoristas de aplicativo, precisamos ir além do papel de condutores. Somos psicólogos, estrategistas, mediadores. Enfrentamos desde passageiros tranquilos até os mais sem noção. Precisamos ter jogo de cintura. Mas, como tudo na vida, há um limite. E quando ele é ultrapassado, temos que agir.

Primeira situação: a passageira com energia ruim

A primeira situação aconteceu em uma corrida aparentemente comum. A passageira me fez esperar muito tempo — algo que já me deixa incomodado, como qualquer motorista. Não somos pagos para esperar. O tempo de espera mal rende centavos, o que gera frustração constante.

Quando ela finalmente entrou no carro, colocou o destino, mas o GPS indicava um trajeto diferente do que ela queria. Ela passou a insistir em um caminho alternativo, me dizendo para virar à direita, mesmo que o trajeto sugerido dissesse o contrário. Mas como eu adivinharia que o “vira à direita” dela seria só lá no fim do trajeto? Motorista nenhum gosta de ser guiado pelo passageiro quando já há um GPS em uso.

O caminho certo é o que otimiza o tempo e o custo para o motorista. O passageiro vai pagar o mesmo valor, independentemente do trajeto. Por isso, decisões estratégicas devem ficar nas mãos do condutor. A insistência dela, somada ao seu tom de voz e postura, gerou tensão. Ela me olhava no retrovisor de um jeito esquisito, quase desafiador. Quando ela me perguntou se queria que ela descesse, eu simplesmente disse: “Sim, pode descer”. Ela ameaçou denunciar, mas eu fui firme. Fiz minha denúncia também. Antes isso do que seguir viagem com alguém que vibra pura negatividade.

Segunda situação: a bagunça no carro

A segunda situação foi ainda mais tensa. Era minha última corrida do dia, eu já estava direcionado para casa. Peguei quatro jovens no Itaim. Desde que entraram, já chegaram fazendo algazarra. Notei que estavam alterados, provavelmente tinham bebido. Pensei em relevar — são jovens, estão se divertindo, vai passar.

Mas a coisa escalou. Gritaria, discussões sobre conectar o bluetooth, pedidos para colocar música alta… Chegaram a bater no banco de trás, como se fosse um tambor. Isso não dá. Falar alto é uma coisa. Gritar, bater no carro, é outra totalmente diferente.

Eu me impus, fui firme. Disse que, se repetissem aquilo, eu encerraria a corrida. E notei que estavam fazendo de propósito: começaram a cantar ainda mais alto, desafiando minha autoridade no carro. Se passassem do limite de novo, eles desceriam. A verdade é que, quando você não se impõe, perde o controle da corrida. E segurança vem em primeiro lugar.

Autoridade e respeito: até onde ir?

Alguns que assistiram ao vídeo disseram que eu fui paciente demais. Outros, que fui explosivo. A verdade está no meio. Sim, demonstrei nervosismo. Talvez mais do que deveria. Mas eu prefiro ser firme do que ser desrespeitado.

Vale destacar: esses jovens não representavam ameaça física real. Eram mimados, “filhinhos de papai”, saindo de restaurante caro, e não bandidos. Tanto é que nem me avaliaram mal. Mas mesmo assim, denunciei e bloqueei todos. Assim como fiz com a passageira anterior. Não quero mais esse tipo de passageiro.

Energia importa

Com o tempo, aprendi a perceber a energia das pessoas. Quando alguém entra no carro em paz, a viagem flui. Mas quando carrega tensão, irritação, desrespeito… o clima muda. E isso afeta diretamente nosso trabalho. No caso da primeira passageira, ela não estava bem nem com ela mesma. Isso ficou claro.

E, olha, eu tentei contornar. Disse que gostava de sertanejo, deixei colocarem música, pedi apenas que respeitassem o volume. Mesmo assim, parece que cantaram alto só para provocar. Eu não tolero esse tipo de atitude. E você também não deveria.

Conclusão: impor limites é necessário

Talvez, alguns de vocês tivessem pedido para todos descerem já no primeiro sinal. Outros, talvez, aguentassem calados até o fim. Eu já fui do tipo que engole sapo. Mas hoje, não mais. Aprendi a me impor. Às vezes, é preciso falar firme. Só assim conseguimos o mínimo de respeito.

Quis compartilhar essas histórias como forma de reflexão. Para que cada um pense sobre seus próprios limites. Seja você motorista ou passageiro. Porque respeito, dentro de um carro de aplicativo, precisa ser mão dupla.

Foto de Luis Hatada
Luis Hatada

Luis Hatada, conhecido como "Uber do Japa", é motorista de aplicativo desde 2018 e, ao perceber as dificuldades dos colegas em gerenciar ganhos e despesas, criou um canal no YouTube em 2019. Nele, compartilha orientações sobre gestão financeira e desenvolvimento pessoal, defendendo que a profissão exige uma mentalidade empreendedora. Seu conteúdo aborda temas como administração financeira e autodesenvolvimento, com o objetivo de ajudar motoristas a melhorar a rentabilidade e superar desafios diários.

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