O que eu mais vejo são motoristas chegando a longos períodos de plataforma e, de repente, perdendo a sua conta. Parece que a gente tem um prazo de validade para trabalhar com os aplicativos. E quem tem mais tempo acaba enfrentando mais dor de cabeça. Não é segredo que, recentemente, eu fui bloqueado da Uber. Depois de cinco dias, consegui reverter e recuperar a conta, o que é muito incomum, mas mais do que falar do meu caso, quero abrir os olhos sobre os bloqueios que estão acontecendo em massa e o que você pode fazer se passar por isso.
O que eles alegaram?
No meu caso, a acusação foi duplicidade. Não que eu tenha criado outra conta, mas alguém usou meus dados para tentar abrir uma conta fake. Fiz boletim de ocorrência por estelionato, mas, mesmo sendo vítima, a própria Uber me puniu sem contato, sem telefonema, sem explicação. Tirou meu trabalho da noite para o dia. E aí começa a indignação: nós temos financiamento, contas, família e, ainda assim, a empresa não olha para o lado humano. Simplesmente te corta.
Depois de expor minha situação, recebi dezenas de relatos iguais. Motoristas bloqueados por duplicidade e sem conseguir voltar. No meu caso, o que funcionou foi insistir presencialmente. Solicitei reanálise pelo app e fui até o escritório. Um atendente me ouviu, pediu alguns dias, mas em 24 horas minha conta foi liberada. Por isso, minha recomendação é clara: se for bloqueado, tente resolver pessoalmente. Se não houver escritório na sua cidade, vale viajar. O caminho judicial existe, mas pode levar anos.
Sabe quais são os outros motivos que a Uber usa para justificar bloqueios?
O segundo motivo de bloqueio em massa é a análise de antecedentes criminais. Desde que a Uber contratou uma empresa para revisar o histórico de motoristas, até quem já estava há anos na plataforma começou a ser desligado. Conheço o caso de um amigo que foi parado na Lei Seca, perdeu a CNH por um tempo e, dois anos depois, foi bloqueado quando a empresa identificou a ocorrência. Não importa se você tem 10 anos de Uber, nota 5, ou 500 mil corridas. Entrou no relatório, o sarrafo vem.
O recado é sério, tenha muito cuidado. O carro é seu ganha-pão, então, não arrisque em nada que possa gerar antecedente criminal. Porque se entrar no histórico, o bloqueio é certo. E, nesses casos, dificilmente há volta. Talvez só na Justiça, mas não dá para ter certeza de vitória.
As plataformas não ligam para nós. O que fazer?
Essa realidade mostra como as plataformas não ligam para nós. Estamos discutindo projetos de lei para regulamentar o trabalho de motoristas de aplicativo, mas até agora nada foca na dignidade do trabalhador. Pensa num CLT: se for demitido, tem aviso prévio, fundo de garantia, seguro desemprego. O motorista de aplicativo não tem nada. Somos chamados de autônomos, mas não definimos preço, não temos direitos e ainda podemos ser desligados a qualquer momento, sem explicação.
Amanhã, você pode acordar bloqueado. Pai de família, aluguel para pagar, financiamento do carro, filhos. E o aplicativo simplesmente corta sua renda e te deixa com dívidas. É cruel, mas é a nossa realidade. Por isso, o que eu recomendo é: não trate esse trabalho como renda eterna. Use enquanto puder, mas busque alternativas fora da plataforma. Diversifique, pense em outras fontes de renda.
E, principalmente, faça dívidas com os pés no chão. Não se comprometa com financiamentos ou investimentos altos achando que vai ter o aplicativo para sempre. Porque não existe garantia. Somos o elo mais fraco dessa corda. Uma denúncia de passageiro, um dado usado de forma errada, um antecedente criminal, qualquer detalhe pode te tirar da plataforma da noite para o dia.
Então fica a reflexão: se organize, não dependa só do aplicativo e, quando precisar investir em carro ou assumir dívidas, faça de forma que não vá acabar com sua vida caso perca a conta. Porque, infelizmente, a Uber e as demais plataformas não estão preocupadas com o lado humano.
Tamo junto. Abração.