Eu confesso que estou preocupado com a imagem dos motoristas por aplicativos na sociedade brasileira, não só os usuários que pedem viagem todo dia, mas a população em geral. A cada semana, surgem mais casos de crimes cometidos por bandidos disfarçados de motoristas, e a categoria, como um todo, é que paga o preço.
Em Fortaleza, Manaus e Porto Alegre: casos recentes de golpe
O caso mais grave recente aconteceu em Fortaleza: uma organização criminosa usava contas fakes para forjar chamadas, gerar tarifa dinâmica e lucrar em cima do golpe. Só foram descobertos porque um motorista honesto, ameaçado por esse bando, procurou a delegacia. Cerca de 20 pessoas, entre motoristas e motociclistas, já foram presas, e a polícia segue atrás dos outros. E pode ter certeza que tem muito mais gente envolvida.
Em Manaus, outro absurdo: um moto Uber fez mais de 200 viagens com uma conta em que a foto de perfil era uma criança. Isso mesmo, uma criança! E ninguém viu? Ninguém bloqueou?
Já em Porto Alegre, a coisa foi com requinte de crueldade. A 99 fez uma campanha com o Hemocentro, oferecendo corridas grátis pra quem fosse doar sangue. Alguns golpistas usaram GPS fake, criaram corridas fantasmas e faturaram mais de R$ 1 mil num único dia, sem sair de casa.
E de quem é a responsabilidade?
Claro, cada um responde pelos seus atos, mas como diz o texto sagrado, “a quem muito é dado, muito será cobrado”. As plataformas, Uber e 99, têm mais poder e dinheiro que qualquer um. Só que responsabilidade? Nenhuma.
Você já viu tanto criminoso infiltrado em outro setor como tem entre motoristas de aplicativo? Isso é porque em todo setor sério, tem empresa séria por trás, com controle, fiscalização, ética. Mas a Uber e 99 só querem saber de uma coisa: faturar.
Não têm carro, não têm funcionário, não prestam serviço direto, não têm compromisso com nada além do lucro. É o dinheiro mais fácil do mundo, jogar o risco nas costas de quem tá na rua, e ficar com a parte gorda da corrida. E ainda por cima, fazem lobby pesado na política, nos bastidores da economia, e saem sempre ilesas.
Aí você pode até lembrar: “Ah, Claudião, mas a Uber chamou a polícia no caso do casal que fraudava com contas fakes lá no Rio…” Sim, chamou, mas sabe por quê? Porque o prejuízo bateu no bolso dela. Aquela fraude específica era burra, repetitiva, sempre com os mesmos nomes, nos mesmos lugares, e fez a Uber desembolsar dinheiro em corridas não pagas. Aí sim, ela agiu. Mas com as outras contas fakes? Com o resto? Finge que não vê.
Porque, no fundo, essas contas continuam rendendo. Mesmo com fraude, a corrida acontece, a Uber recebe o dela, e o prejuízo vai pro passageiro, que quase nunca reclama, ou pro motorista honesto, que é quem se lasca de verdade.
Sabe por que essas plataformas não combatem as contas fakes de verdade? Porque se derrubassem todas, o sistema entrava em colapso. Tem motorista que só tá na ativa hoje porque foi banido injustamente, perdeu na Justiça e recorreu a uma conta emprestada pra continuar botando comida na mesa. São minoria. Mas a maioria… tá mesmo é fraudando, enganando, macetando o algoritmo.
E quem paga? O motorista honesto. O entregador do iFood que rala na chuva, o moto Uber que leva esporro na rua. A imagem da categoria tá sendo destruída, enquanto a Uber e a 99 seguem no camarote, assistindo de longe, blindadas pelo dinheiro e pela influência.
A consequência é que nós, motoristas, recebemos mais desconfiança, mais desprezo, mais humilhação. Tem passageiro que entra no carro achando que tá falando com o funcionário dele, “Faz isso. Faz aquilo. Abre o vidro. Fecha o vidro. Vai por aqui”. Já entra de dedo em riste, cheio de ordem, como se o motorista fosse empregado particular, porque a imagem que tá colando é essa, de que todo motorista é suspeito.
E enquanto isso, o governo só pensa na tal da regulamentação pra botar a mão na grana. Os sindicatos, então? Não fedem nem cheiram. Só querem um pedaço do bolo. O trabalhador honesto, esse tá ali girando a roda, se matando pra sobreviver e, muitas vezes, perdendo até a vida.
Por isso eu insisto, e vou repetir quantas vezes for preciso: não dependa dessa atividade como sua única fonte de renda. Se hoje você tem que ligar o aplicativo desesperado, dizendo “meu Deus, tenho que ir pra pista para pagar as contas”, é hora de buscar outra saída. No dia em que você não depender da Uber pra sobreviver, vai trabalhar com mais calma, mais estratégia, mais dignidade, e principalmente, mais segurança.
Um abraço e até o próximo encontro. Fui!