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Cláudio Sena: “A Uber não vai acabar com as contas falsas porque precisa delas; empresa opera no Brasil sem regras”

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Opinião
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Homem de meia-idade com óculos e barba rala dentro de um carro, usando uma camisa preta, olhando diretamente para a câmera.
Foto: Cláudio Sena para 55content

Cláudio Sena diz que a Uber opera sem regulamentação adequada no Brasil, alimentando o uso de contas falsas e transferindo responsabilidade por fraudes e crimes.

Por Cláudio Sena

Até quando as autoridades brasileiras permitirão que a Uber opere no país sem estar sujeita a uma legislação que a obrigue a um mínimo de responsabilidade? Se analisarmos friamente veremos que a empresa que opera o maior sistema de transporte não é regida por qualquer regra, como ocorre com todos os demais segmentos. 

Não me refiro a uma regulamentação engessada que atrapalhe o desenvolvimento do negócio, mas a um parâmetro que deixe claro as regras que ela deve obedecer para realizar sua atividade em solo brasileiro. Todos os segmentos estão sujeitos a um conjunto de regras que tornam claro até onde é possível ir, e quais as responsabilidades em diversas circunstâncias. Isso não se aplica à Uber, que atua livremente no Brasil desde sua chegada em 2014.

Daí decorrem uma série de situações, algumas das quais de natureza criminal, em que a Uber dá as costas, e atribui a responsabilidade ora a motoristas, ora a passageiros, ora a fatores externos, como insegurança pública. Já percebeu que a empresa jamais assume qualquer responsabilidade, a menos que seja indiciada e condenada pela justiça?

Um exemplo prático do que exponho são as “contas fakes”, ou contas falsas na plataforma. Recentemente dois dos maiores portais de notícias do país, Folha de São Paulo e Band News, divulgaram reportagens sobre o comércio de contas falsas no aplicativo Uber. As matérias apontaram a existência de quadrilhas especializadas na venda de contas falsas, sendo que alguns dão até garantia para reconhecimento facial, que frequentemente é exigido tanto por Uber quanto por 99.

Essas contas são usadas por motoristas banidos pela Uber, ou por qualquer pessoa que pague até R$ 600,00. Como é sabido, as contas falsas são comumente usadas para fraudes contra o próprio aplicativo, mas também contra os passageiros. E por falar nesses,  ultimamente aumentou e muito a quantidade de golpes contra passageiros. São viagens não encerradas no destino, para gerar receita enquanto o motorista se desloca para outro lugar, seja no reporte à Uber que a viagem não teria sido paga, quando, na verdade, o pagamento foi feito pelo cliente. 

Afora isso, com uma conta fake qualquer bandido pode utilizar a plataforma para, enquanto dirige, assaltar ou assediar, principalmente mulheres, conforme todos acompanham casos divulgados no noticiário. O que chama atenção é a irresponsabilidade da Uber diante desses casos, que sempre atribui a responsabilidade a quem está ao volante, ou à insegurança pública. 

A Uber não vai acabar com as contas falsas porque precisa delas. Entenda: a empresa vende viagens, mas não as realiza. Ela precisa que as viagens sejam realizadas, independente de quem ou por quê estão realizando. A Uber quer faturar, e pronto. Diz a empresa que adota medidas de combate a esse tipo de fraude, mas, na prática, essas medidas são tão eficazes quanto comer farinha para passar dor de cabeça.

Se existisse uma lei que atribuísse à Uber responsabilidade solidária por crimes cometidos durante as viagens contra seus clientes, seguramente a empresa já teria adotado medidas para impedir a utilização de contas falsas. Já viram como os bancos adotam duras medidas contra golpes? Assim agem por que estão sujeitos a rígidas regras do Banco Central, que os pune se não adotarem medidas preventivas contra fraudes. 

O mesmo deveria acontecer com a Uber, mas infelizmente as autoridades brasileiras fazem vistas grossas diante da poderosa multinacional, que aqui tem seu segundo maior mercado global, e manda toda a riqueza para fora do país, sem qualquer responsabilidade com pessoas, sejam motoristas ou passageiros. 

Até quando?

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Cláudio Sena

Cláudio Sena iniciou sua trajetória como motorista de aplicativo em 2016, quando começou a trabalhar com a Uber.

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