Se você cancelar a viagem, pode dar ruim. E não é exagero. A Uber acabou de anunciar uma mudança importante para quem é motorista parceiro e não curte transportar animal no carro.
Eu sei que tem muito motorista que não gosta de pet: pelo no banco, cheiro, bagunça… por isso muita gente nem habilita o Uber Pet. Mas existe uma situação em que você é obrigado por lei a transportar o passageiro com o cachorro – e, a partir de amanhã, dia 9 de dezembro, a Uber vai deixar isso bem mais claro na tela do seu aplicativo.
Não é qualquer cachorro. Estou falando de cão-guia.
O que a Uber mudou
A empresa vai passar a usar um recurso de autoidentificação para usuários de cão-guia. Funciona assim:
- Quando a corrida tocar, você ainda não vai ver nada diferente.
- Só quando você estiver próximo do local de embarque aparece um aviso na tela, algo como: “Vítor, usuário com cão-guia”.
Ou seja, igual acontece hoje com corrida em dinheiro: você só descobre com o passageiro praticamente na sua frente.
E aí entra o ponto principal: se você pensar “ah, eu não levo cachorro no carro, não faço corrida com pet”, essa situação é diferente. Não estamos falando de pet por opção, e sim de cão-guia de pessoa com deficiência visual, que depende do animal para se deslocar.
Não é escolha: é obrigação legal
Quando você tentar cancelar essa corrida, vai aparecer uma mensagem da Uber mais ou menos assim:
“Quer cancelar a viagem? É sua obrigação legal transportar usuários com cão-guia. Cancelar uma viagem por causa de um cão-guia é contra a lei 11.126/2005.”
Repara nas palavras: “sua obrigação legal”.
Não está escrito “você pode escolher” ou “seria legal se você levasse”. A mensagem é direta: você tem que levar.
Na minha opinião, faz sentido a Uber só avisar nesse momento, porque não é uma “preferência” sua, é lei. Antes, o que acontecia?
- Você chegava para buscar o passageiro.
- Via o cachorro, falava “eu não levo animal”.
- O passageiro dizia “é cão-guia”.
- Você insistia que não leva animal.
- Dava BO: discussão, denúncia, estresse, bloqueio, etc.
Agora, pelo menos, antes do contato direto, o app já avisa:
“É cão-guia. Não é ‘pet de passeio’, é um equipamento de mobilidade dessa pessoa. Você é obrigado a levar.”
E aqui eu já deixo minha posição bem clara: não tem discussão. É uma pessoa com deficiência, que precisa do cão para se locomover com segurança. Na minha cabeça, é simples: tem que levar e ponto.
“E o pelo no carro, e a sujeira?”
Esse também é um medo comum. Mas, na prática, quem já levou cão-guia sabe:
- 99% desses cães são super treinados e educados.
- Ficam no tapetinho, aos pés do dono, quietos.
- Não ficam pulando no banco, nem fazendo sujeira.
- Você, inclusive, não deve fazer carinho nem brincar com o cão quando ele está em serviço. Enquanto ele está guiando o dono, ele está “trabalhando”.
Deu um pouco de pelo no tapete? Tira, bate o tapete, passa um aspirador depois e vida que segue.
Na boa: o transtorno é mínimo perto do impacto que você causa na vida de alguém que depende daquele cão para conseguir sair de casa.
E o problema REAL que eu vejo nessa mudança
Agora vem a parte polêmica – e é aqui que eu quero ouvir a opinião de vocês.
Muita gente vai dizer:
“Beleza, entendi. Se tiver cão-guia, sou obrigado a levar. Mas… e se eu quisesse cancelar por outro motivo?”
Esse é o ponto:
- Você chega perto do embarque.
- O app te avisa: “Usuário com cão-guia”.
- Só que você já ia cancelar por outra razão:
- endereço perigoso,
- corrida muito distante de onde você quer ficar,
- problema mecânico no carro,
- você passando mal,
- fim do seu horário de trabalho…
Mesmo assim, ao tentar cancelar, aparece a mensagem dizendo que é obrigação legal transportar usuários com cão-guia e que cancelar por causa do cão é contra a lei.
E aí vem o dilema:
- Você realmente não quer cancelar por causa do cachorro.
- Mas o sistema pode interpretar que sim.
- E o passageiro pode te denunciar como se fosse discriminação.
E aí, como fica?
Você vai explicar pra Uber “não foi por causa do cachorro”?
Será que eles vão acreditar?
Será que isso pode virar bloqueio, advertência, queda de taxa, sei lá?
É aqui que, na prática, o motorista fica de mãos atadas:
- A obrigação de levar o cão-guia é correta e necessária.
- Mas o sistema não sabe ler nuances: ele só vê “motorista cancelou corrida com usuário de cão-guia”.
E agora, motorista?
Minha opinião:
- Sobre a lei e o cão-guia: não tem debate. Tem que levar, sim.
- Sobre o jeito que a Uber aplica isso na prática: aí sim cabe discussão.
O que fazer se você realmente não puder levar?
Como explicar o cancelamento sem parecer discriminação?
Será que a plataforma vai criar outra opção de cancelamento específica para esse caso?
Ou vamos continuar no medo de sermos punidos por algo que não teve nada a ver com o cachorro?
Quero saber a sua visão como motorista:
- Você já levou cão-guia?
- Já teve problema com isso?
- O que acha desse aviso novo da Uber?
Deixa sua opinião aí embaixo. Abraço, tamo junto.