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Insensibilidade, hipocrisia, injustiça. Essas são as palavras que definem a atitude da 99 ao banir milhares de contas de motoristas por causa de nota baixa. E, curiosamente, na justificativa que a própria empresa apresentou para fazer essa limpa em sua base de motoristas, ela acabou se condenando.
Neste texto, eu vou te explicar por quê.
Existe um princípio: toda pessoa que acusa está, de alguma forma, envolvida naquilo que acusa. E outro: a quem muito é dado, muito também é cobrado. Essas duas ideias se aplicam perfeitamente à 99, que recentemente desativou de forma definitiva as contas de milhares de motoristas.
A empresa afirma que foi apenas 1% do seu contingente. Mas como a 99 não revela a quantidade exata de motoristas ativos, sabemos que 1% pode representar um número bem expressivo, especialmente considerando a abrangência nacional da empresa e o volume de motoristas nas ruas.
Mesmo que fossem 10, 100 ou 1000 motoristas, isso não muda o problema. Do ponto de vista administrativo, a empresa tem o direito de fazer isso. Mas do ponto de vista moral, trata-se de uma verdadeira tragédia.
Segundo a 99, o motivo dessas exclusões foi o acúmulo de avaliações negativas feitas pelos passageiros. Os dois principais motivos apontados foram: o atendimento prestado pelo motorista e o mau estado de conservação dos veículos.
E é aí que mora o problema. Antes de punir os motoristas, por que a 99 não ofereceu uma tarifa justa, que permitisse a eles manter o veículo em boas condições? Se isso tivesse sido feito, a empresa teria legitimidade para dizer: “Você está recebendo uma tarifa justa, corrigida conforme a inflação desde 2017. Portanto, não há justificativa para trabalhar com o ar-condicionado quebrado, pneus carecas ou bancos rasgados.”
Só depois disso, seria justo dizer: “Desculpe, mas não dá mais para você continuar com a gente.”
Em vez disso, a empresa optou pelo caminho mais fácil: desligar pais de família cuja única fonte de renda era justamente essa atividade. E todos sabemos que, diferente da Uber, a 99 ainda adota o sistema de multiplicador na dinâmica. Comparando os serviços Pop (99) com o UberX, a tarifa da 99 pode até ser um pouco melhor, mas continua sendo imoral. É como vender banana podre no fim de feira.
Não há nada de extraordinário nisso.
Muitos motoristas se dedicam com afinco à atividade, trabalhando 8, 10, 12 horas por dia ou até mais, porque têm uma família para sustentar. E aí fica a pergunta: qual é a responsabilidade da 99 diante de um cenário de devastação econômica?
Sim, porque há motoristas que rodam exclusivamente pela 99. Alguns não conseguiram entrar na Uber, outros não fazem outras plataformas como a inDrive, e estão ancorados exclusivamente nessa empresa.
E entre os motoristas que foram excluídos em definitivo, estão pessoas assim. Como fica a consciência dos senhores e senhoras diretores e diretoras da 99 numa situação como essa?
Por que não chegar para os acionistas chineses e dizer: “Temos uma preocupação social. Sabemos que as notas estão baixas, mas também reconhecemos que não estamos pagando um valor justo. Vamos melhorar, dar uma chance, conceder um tempo para que esses profissionais possam se recuperar.”
Mas não. A decisão foi simplesmente a mais cômoda: dispensar o motorista como se fosse papel higiênico usado — usou, jogou fora, pega outro. Que venham outros motoristas.
Importante: não estou aqui defendendo motoristas desleixados. Não confunda bife à milanesa com bife ali na mesa, por favor.
O que estou dizendo é que, sim, existe negligência de muitos motoristas. Mas também é verdade que quem tem poder de decisão, quem está no topo, cometeu uma injustiça. Porque poderia, sim, fazer um exame de consciência e dizer: “Não é certo fazer isso.”
Ah, Cláudio, mas tem o fator atendimento ao cliente. Concordo. Isso é uma questão comportamental. Mas ainda assim, toda empresa que se preze investe no recurso humano. Capacita, treina, acompanha, para manter um padrão de atendimento que satisfaça os clientes e preserve a reputação da empresa.
Esses dois fatores caminham juntos: investimento em capacitação e recompensa justa.
Aí sim, uma empresa pode dizer com propriedade: “Nós oferecemos tudo que você precisa para entregar o melhor. E mesmo assim você não corresponde. Então, infelizmente, não dá para continuar.”
Mas do jeito que a 99 fez, foi, sim, uma tragédia moral.
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