“Tem motorista de app que fatura R$ 20 mil por mês — ele recebe 100% do valor das corridas e depois paga a taxa fixa de 15%”, diz gestor de app regional

CEO da Uby conta: “O motorista paga 15% por corrida toda semana. Diferente da Uber, que já desconta antes de repassar. Se ele não pagar, fica bloqueado”, diz o gestor.

Homem de barba, usando terno preto, camisa azul e óculos escuros, posando diante de um fundo azul. Ao lado, está escrito: "Goimy Rondinelli – CEO, UBY APP". No canto inferior direito, aparecem os logos da 55content e do 55content Premium.
Foto: Acervo 55content

Na noite de ontem (24), o 55content Premium promoveu um encontro virtual com Goimy Rondinelli, CEO da Uby, plataforma de mobilidade que já atua em mais de 30 cidades de Minas Gerais e São Paulo — e tem planos para 2025: atingir a marca de 100 cidades até o final do ano.

Durante a conversa, Rondinelli compartilhou detalhes sobre a origem da Uby, que nasceu após a má experiência de um colega motorista com outra plataforma. “Sou programador, trabalhei em multinacional, mas sempre gostei da parte comercial. Juntei forças com meus sócios Rafael e João Paulo e começamos em Muzambinho, Minas Gerais”, contou. O diferencial desde o início foi a escolha por cidades pequenas e a criação de um modelo ágil de expansão regional em espiral.

Crescimento com propósito

Atualmente, a Uby se aproxima das 40 cidades atendidas e tem como foco municípios com até 70 mil habitantes. “É onde conseguimos dominar o mercado e ditar a cultura local, tratando o motorista como pessoa, não como número”, explicou o CEO. Rondinelli reforçou que a ideia é oferecer um ambiente onde o motorista possa ter uma boa renda e uma relação próxima com a plataforma.

Modelo de negócio flexível

Ao contrário das grandes franquias, a Uby optou por operar com licenciamento, o que garante mais flexibilidade e menor custo. “Fizemos consultoria e fomos aprovados para franquear, mas optamos por manter o modelo de licença. Franquia come muita margem e burocratiza demais o processo”, explicou.

Tarifas e remuneração dos motoristas

A Uby aplica uma taxa de 15% sobre as corridas, podendo haver cobranças adicionais do cliente em categorias específicas. A média de faturamento dos motoristas varia conforme o engajamento. “Já tivemos motoristas que passaram de R$ 20 mil num mês, e dezenas que passaram de R$ 100 mil no ano”, revelou. Ele destacou que, seguindo as diretrizes da empresa, um motorista em cidade pequena pode conquistar o equivalente a um salário por semana.

Desafios da expansão

Apesar do entusiasmo com os planos de crescimento, Goimy é cauteloso: “A gente diz mais ‘não’ do que ‘sim’ para novas cidades. O maior desafio é encontrar gestores com perfil técnico e comportamental adequados. Não adianta vender licença para alguém que vai gerar mais problema do que retorno.” Segundo ele, a Uby prioriza qualidade à quantidade na hora de escalar.

Engajamento com motoristas e passageiros

Questionado sobre como convencer motoristas e passageiros a adotarem a Uby, Rondinelli foi direto: “Tudo começa com escuta. O motorista precisa ser ouvido, precisa saber que é parte do negócio. Eu comecei dirigindo, então sei exatamente o que ele enfrenta.” A empresa oferece suporte 24 horas, treinamento e acompanhamento constante.

Números da operação

A Uby alcançou a marca de 1 milhão de corridas realizadas em três anos e, desde o início de 2024, ultrapassou R$ 1 milhão em faturamento mensal. “Ainda estamos crescendo, mas com consistência. Nosso índice de atendimento gira em torno de 80% a 90%, o que mostra que estamos conseguindo entregar serviço mesmo com o aumento da demanda”, completou.

Com um modelo que valoriza o regional, humaniza as relações e aposta em tecnologia própria, a Uby segue desenhando um caminho promissor dentro do ecossistema da mobilidade — especialmente para quem atua fora dos grandes centros.

Perfil do gestor ideal

Questionado sobre as qualificações que um gestor precisa ter para operar uma unidade da Uby com sucesso, Goimy foi direto: “Hoje, o gestor que mais dá certo comigo é o gestor-motorista. Ele já conhece as dores do negócio. Mas o desafio é ensinar esse perfil a lidar com pessoas.” Para ele, há dois caminhos possíveis: formar um motorista para ser gestor ou ensinar uma pessoa com perfil de liderança a operar como motorista.

O CEO destacou a importância de uma cultura organizacional bem definida. “Uma empresa que tem o cliente como prioridade age diferente de uma que prioriza o motorista. A cultura precisa ser clara para todos.”

Táticas de ativação e incentivo

O evento seguiu com outras contribuições práticas, como a estratégia de dividir turnos entre motoristas para cobrir a demanda e oferecer participação nos lucros. Goimy complementou com uma observação sobre novos motoristas: “Se você pegar um motorista que ainda não está em outros apps, ele vai se engajar mais. E quando ele vê resultado, vira seu maior divulgador.”

Ele também comentou sobre uma prática comum e delicada: motoristas que fazem corridas por fora. “Todo mundo enfrenta isso. A solução é criar incentivos positivos para quem roda mais. E não adianta cortar sem aviso — hoje, isso pode gerar multa judicial de até R$ 15 mil”, alertou, citando jurisprudência recente do STF.

Marketing e entrada em novas cidades

Sobre os lançamentos de cidade, Goimy explicou que a estratégia é “tudo ao mesmo tempo”: rádios locais, influenciadores, panfletagem, ações promocionais. Mas o investimento varia conforme o tamanho da cidade. “Em média, a gente calcula de R$ 0,60 a R$ 1 por habitante para fazer uma boa entrada. Por isso, evitamos cidades grandes por enquanto.”

O CEO reiterou que o foco da Uby são cidades com até 70 mil habitantes, não por falta de capacidade, mas por escolha estratégica. “Já demos consultoria para apps grandes. Sabemos fazer. Mas nosso modelo atual é voltado para crescer com qualidade. E isso exige respeitar nosso próprio limite.”

Instagram como ferramenta essencial

A força da presença digital da Uby foi elogiada por participantes, e Goimy fez questão de creditar o sucesso ao sócio Rafael, responsável por todo o marketing da empresa. “O Instagram tem um excelente custo-benefício. É muito mais barato do que panfleto ou cartão de visita e pode virar o jogo rápido quando o faturamento dos motoristas começa a cair”, explicou. Apesar de estarem presentes em outras redes como Facebook e TikTok, o foco principal permanece no Instagram.

Capacitação interna e liderança com experiência real

Goimy revelou que todos os gestores da Uby começaram como motoristas, incluindo ele próprio, que tem quase 7.000 corridas na bagagem. “Aprendi a lidar com as dores do negócio dirigindo. Isso me deu autoridade para formar e treinar nossos gestores.” A liderança prática é uma exigência da empresa: “Se você quer comandar um time de motoristas, tem que entender o que acontece na ponta.”

A formação contínua é uma prática na Uby: Goimy mencionou já ter feito cerca de 20 cursos desde a fundação da empresa, cujos aprendizados são sempre repassados aos times.

Incentivos e retenção de motoristas

A estratégia de retenção da Uby vai além do financeiro. “Reconhecemos os motoristas com troféus a partir de 5.000 corridas. Pode parecer simples, mas faz muita diferença. Às vezes, vale mais que dinheiro.” Rafael, responsável pelas campanhas digitais, usa anúncios (Ads) no Facebook e Google para atrair novos motoristas, testando diferentes formatos de vídeo para conversão.

Critérios para expansão e aprendizados

Inicialmente, a escolha das cidades se dava de forma orgânica, a partir da demanda dos próprios passageiros. Hoje, após uma consultoria de franquia, a Uby seleciona cidades com perfil compatível com seu modelo — normalmente municípios com até 70 mil habitantes. “As primeiras cidades foram muito aprendizado. Era mais feito do que perfeito. Agora inauguramos cidades com até 2.000 downloads logo de início.”

Infraestrutura tecnológica preparada para o crescimento

Goimy revelou que a Uby já enfrentou limitações em tecnologias terceirizadas no passado, inclusive com plataformas que caíram devido ao volume gerado por eles. “Hoje temos software próprio e uma estrutura que não depende de uma única plataforma. Estamos prontos para crescer e entregar o que outros apps não conseguem.”

Tecnologia como necessidade, não como luxo

Ao ser questionado sobre a transição da white label para tecnologia própria, Goimy foi transparente: “No começo, a gente não sabia nada. Pegamos o primeiro que apareceu. Mas depois, percebemos que estávamos competindo com outras plataformas idênticas na mesma cidade.” A necessidade de diferenciação e estabilidade o levou a desenvolver um sistema próprio. Ele, no entanto, ponderou que quem opera bem com white label não precisa mudar: “Os custos são menores e, se funciona, segue nela.”

Motorista: o maior desafio — e também o ativo mais valioso

A principal dor relatada por quase todos os participantes foi a dificuldade de manter motoristas online. Goimy foi categórico: “O maior desafio do app de mobilidade não é o passageiro. É o motorista.” Ele explicou que, com motoristas engajados, a demanda se cria sozinha. “Você pode ter o melhor marketing do mundo, se não tiver quem atenda, o passageiro vai embora.”

A estratégia da Uby tem foco total nesse ponto: formar um núcleo de motoristas fiéis, muitos deles que nunca trabalharam em outras plataformas, e usá-los como exemplo para atrair os demais. “Você traz 10 caras novos, aposentados ou disponíveis, que não dependem tanto do app. Quando eles estiverem rodando e a demanda crescer, aí sim você traz os da Uber e 99.”

Cuidado próximo e cultura forte

O CEO destacou que a proximidade entre gestores e motoristas é uma das grandes forças da Uby. “Meus gestores são motoristas. Eles se encontram nas praças, jantam juntos, fazem churrasco. Isso gera uma relação de confiança. Você precisa de um líder dentro da rua.”

Para ele, liderança local é mais forte que qualquer anúncio: “Às vezes um cara insatisfeito leva todo mundo embora. Mas se você der uma fatia do bolo para um líder, ele traz uma galera junto.”

Cancelamentos, cultura local e variações de preço

Sobre cancelamentos, Goimy reforçou a importância de monitorar os números desde o início. “Se você deixa acumular problema, depois é difícil corrigir.” O contato ativo com quem está cancelando — motorista ou passageiro — é parte da rotina da Uby.

Já sobre preços, ele explicou que a empresa adapta sua política à cultura da cidade. “Se a cidade tem tarifa mínima alta ou taxas baixas, você precisa entender o mercado antes de entrar. Não adianta tentar mudar tudo de uma vez.”

Mensalidade? Não combina com a Uby

Apesar de conhecer o modelo mensalista, Goimy explicou que ele foge dos princípios da empresa. “O app mensalista foca no cadastro do motorista, não no sucesso da corrida. A gente prefere um modelo onde todos ganham junto com a operação.”

Cuidado com a comunicação interna

Um ponto de atenção importante foi levantado: o cuidado com a forma de comunicação com motoristas. Grupos de WhatsApp, por exemplo, foram desencorajados por poderem gerar rachas, rumores ou sensação de panelinha. Goimy recomendou o uso de listas de transmissão como alternativa mais segura e eficiente: “Grupo é perigoso. De repente, surge um líder paralelo e você perde o controle do discurso.”

Primeiros passos: da gambiarra ao ROI

Voltando ao início da Uby, Goimy revelou que o investimento inicial foi modesto — entre R$ 15.000 e R$ 20.000 — e que os fundadores fizeram tudo à mão, desde panfletagem até divulgação nos stories dos amigos. “Demoramos mais de um ano para ver retorno. Hoje, nossos licenciados têm ROI em até 10 meses, com alguns batendo em 3,5 meses. Aprendemos na marra para hoje entregar estrutura.”

Características essenciais de um bom gestor

Questionado sobre o perfil ideal para liderar um app, Goimy foi direto: “Tem que gostar de gente. Tem que cuidar do motorista. Ele vive altos e baixos no mesmo dia, tem medo, enfrenta situações difíceis. Se o gestor não entende ou não se importa com isso, não dura.”

Pagamentos e adaptação regional

Um dos temas mais técnicos da noite foi o fluxo de pagamento para motoristas. Goimy explicou que, por ser de cidade pequena e com limitações de internet, a maioria das transações da Uby ainda é feita presencialmente ou de forma manual. Em outras regiões, no entanto, há recursos para automatizar o repasse — como o crédito direto ao motorista após a corrida, desde que ele tenha conta bancária cadastrada.

Participantes discutiram alternativas como saques programados, repasses semanais e o uso estratégico da função de cash-out via WhatsApp. A recomendação foi buscar suporte junto à plataforma white label utilizada, pois nem todos os recursos estão disponíveis nos planos mais básicos. “Mas cuidado com automatização demais”, alertou Clayton. “Se o dinheiro não cair, a culpa vai sobrar para você.”

Modelo de repasse: flexível, humano e adaptado

A Uby trabalha com repasse semanal, em modelo onde o motorista paga à empresa o percentual de 15% sobre as corridas. Goimy explicou que esse formato surgiu por necessidade, devido à baixa conectividade em regiões do interior. “Cobramos semanalmente. E funciona, porque o motorista valoriza o que está conquistando. Ele não quer perder. Temos inadimplência menor que plataformas automatizadas.”

Em cidades maiores, o modelo muda para o pré-pago, com maior controle sobre rotatividade. Mas a lição principal foi clara: adaptar o modelo à realidade da cidade é mais importante do que seguir um padrão rígido.

O que gostaria de ter ouvido no começo?

Perguntado sobre o conselho que gostaria de ter recebido no início da Uby, Goimy não hesitou: “Eu queria que tivessem me falado que eu precisava ser motorista antes de liderar motoristas. Parece óbvio hoje, mas isso mudou tudo. Entender a realidade da rua foi meu maior diferencial.”

Encerramento: colaboração e comunidade

O evento se encerrou com uma última mensagem de Goimy: “No fim das contas, o que muda o jogo é ter motorista crescendo com você. Cuida deles. Escuta. Aprende. Testa. E acima de tudo, não desiste.”

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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