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“Motoristas que alugam carros pela Uber iniciam a semana com até R$ 900 retidos”, diz presidente de sindicato

Carina Trindade explica: “Se o motorista fica muito tempo parado, o algoritmo envia mensagens perguntando por que ele parou e ameaça cancelar a corrida”.

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Carina Trindade explica: “Se o motorista fica muito tempo parado, o algoritmo envia mensagens perguntando por que ele parou e ameaça cancelar a corrida”.
Carina Trindade Foto: Reprodução/YouTube

Carina Trindade, presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Aplicativos de Transporte Privado e Logística do Rio Grande do Sul (SINTRAPLI/RS), afirmou que os motoristas sofrem pressão constante dos algoritmos das plataformas, que controlam desde o ritmo das corridas até a permanência dos trabalhadores nas regiões de alta demanda.

A declaração foi feita durante o debate sobre a regulamentação dos trabalhadores por aplicativo, realizado nesta terça-feira (07) na Câmara dos Deputados.

Carina destacou que o Supremo Tribunal Federal (STF) está analisando o tema da subordinação algorítmica, e que o Congresso tem o poder de legislar sobre esse tipo de controle.

“O STF está se debruçando sobre a subordinação algorítmica, e esta Casa tem o poder de legislar sobre isso”, afirmou.

Pressão e limitação de autonomia

Segundo a presidente do SINTRAPLI/RS, os aplicativos monitoram o comportamento dos motoristas em tempo real, enviando mensagens automáticas e penalizando quem permanece parado por muito tempo ou rejeita corridas.

“Se o motorista fica muito tempo parado, o algoritmo envia mensagens perguntando por que ele parou e ameaça cancelar a corrida”, explicou.

Ela apresentou exemplos de mensagens automáticas recebidas pelos motoristas, que segundo o sindicato, funcionam como mecanismos de coerção e impedem que os trabalhadores controlem o próprio ritmo de trabalho.

Carina citou ainda que as plataformas impõem limites de horas diárias, desligando automaticamente o aplicativo após determinado tempo de uso, e que os motoristas são penalizados por alterações de rota — mesmo em casos de congestionamento ou desvios necessários.

Falta de transparência nos valores e retenções

Durante a audiência, Carina Trindade também apontou a falta de clareza na divisão dos valores das corridas. Ela apresentou exemplos de viagens em que a plataforma reteve até 40% do valor pago pelo passageiro, sem informar ao motorista os critérios utilizados para calcular a tarifa.

“Uma corrida de R$ 37 gera apenas R$ 22 para o motorista. O restante fica com a plataforma, sem qualquer explicação”, relatou.

A presidente mencionou também que, nos casos de aluguel de veículos vinculados a parcerias das plataformas, como a Uber com a Localiza, os motoristas já iniciam a semana com valores retidos.

“Muitos começam a semana com quase R$ 900 descontados automaticamente, antes mesmo de rodar”, afirmou.

Banimentos e punições automáticas

Carina denunciou ainda a ocorrência de banimentos sem justificativa clara, o que, segundo ela, deixa motoristas sem direito de defesa. Em alguns casos, basta o passageiro relatar um problema para que o motorista seja suspenso temporariamente ou até bloqueado definitivamente.

Ela mencionou que problemas técnicos, erros do sistema e situações injustas são comuns. Um exemplo citado foi o de uma motorista surda que recebe avaliações negativas por dificuldades de comunicação, sem possibilidade de registrar sua condição no aplicativo.

“Os feedbacks automáticos penalizam motoristas por falhas inexistentes. Muitos são suspensos sem chance de se defender”, disse.

Impactos na saúde mental

Ao final da fala, Carina Trindade alertou para o agravamento de casos de depressão e esgotamento emocional entre os motoristas. Segundo ela, o sindicato registrou três mortes por suicídio em seis meses no Rio Grande do Sul, todas relacionadas a dívidas, dificuldades financeiras e pressão das plataformas.

“Esses trabalhadores não conseguem pagar os veículos, não conseguem levar o sustento para casa. A saúde mental está sendo destruída”, afirmou.

A dirigente encerrou sua participação pedindo um minuto de silêncio em homenagem aos motoristas que morreram vítimas de depressão e reforçou a necessidade de que a regulamentação inclua medidas de saúde e proteção psicológica para a categoria.

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