A Uber realizou mais de 152 milhões de viagens em 2019 apenas na cidade do Rio de Janeiro.
O dado foi repassado para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), para a produção da pesquisa “Acessibilidade Urbana por Ride-Hailing e Transporte Público Considerando o Trade-Off entre Custo Monetário e Tempo de Viagem”, divulgado no dia 4 de outubro.
As viagens foram realizadas entre março e dezembro de 2019 e ajudaram o instituto a concluir que a acessibilidade proporcionada pelos aplicativos de transporte individual se mostra mais vantajosa para viagens curtas e para pessoas com alta renda.
A pesquisa buscou entender de que forma o uso de serviços como Uber pode influenciar no acesso a oportunidades de trabalho, analisando a relação entre custos monetários e tempos de viagem.
Acesso ao emprego e políticas públicas
O estudo revela que o uso isolado de transporte por aplicativo supera a acessibilidade do transporte público para trajetos de até 40 minutos. No entanto, em percursos de até 30 minutos, a combinação de aplicativos e transporte coletivo, conhecido como “primeira milha”, pode ampliar significativamente o acesso ao emprego.
Segundo o instituto, ssses dados reforçam a ideia de que políticas públicas podem aproveitar “grandes ganhos de acessibilidade” promovendo a integração entre transporte público e serviços de transporte sob demanda com roterização dinâmica.
Custo X Benefício
No entanto, a principal barreira é o custo. O uso de aplicativos de transporte pode chegar a ser 32,60% mais caro do que a tarifa mais alta do transporte público coletivo, tornando o benefício mais acessível para populações de alta renda.
“Nota-se a vantagem no uso dos aplicativos para viagens a partir de R$ 12, valor 32,60% acima da tarifa mais alta da modalidade de transporte público coletivo encontrada no estudo, a integração ônibus/metrô (sem desconto), que custava R$ 9,05 à época do levantamento”.
A pesquisa aponta que, para a população, o comprometimento com deslocamentos casa-trabalho pode variar entre 10% e 40% da renda mensal. Isso torna a estratégia de “primeira milha” pouco acessível para a parcela mais pobre, que já enfrenta desafios ao arcar com os custos do transporte público.
Metodologia e autores
O estudo foi dividido em quatro etapas, que incluíram a construção de matrizes de custos e tempos de viagem por diferentes modalidades de transporte. O objetivo era analisar os efeitos da integração entre aplicativos e transportes coletivos e entender como essa acessibilidade se distribui entre diferentes grupos socioeconômicos.
“Em duas delas, foram calculadas as matrizes de custos monetários e de tempos de viagem por transporte público coletivo e para serviços de transporte individual por aplicativos. Esses dados então foram combinados com o objetivo de construir uma matriz capaz de demonstrar os efeitos do uso da estratégia de integração de primeira milha entre aplicativos e coletivos. Cada uma das três matrizes serviu de insumo para que então fossem calculados os níveis de acessibilidade e comparadas como elas, em cada cenário, são distribuídas entre diferentes grupos socioeconômicos”, esclareceu o Ipea em seu site.
O trabalho foi conduzido por Rafael H. M. Pereira, do Ipea, juntamente com Daniel Herszenhut, Marcus Saraiva, também do Ipea, e Steven Farber, professor da Universidade de Toronto.