Sócios do aplicativo encaram pedidos como elogios, mas desejam focar em auxiliar motoristas de outra forma.
Os sócios do StopClub, Luiz Gustavo Neves e Pedro Inada, estiveram na última quinta-feira (18) no Web Summit Rio. Neves participou da mesa “Além dos ideais: por que empresas com propósito prosperam”.
Ao 55content, eles falaram sobre as inovações e desafios enfrentados pela empresa, destacando a introdução de um plano premium acessível e a regulamentação do mercado de transportes.
O StopClub, conhecido por suas ferramentas gratuitas destinadas a motoristas, introduziu uma versão premium do aplicativo que, segundo Neves, tem valor acessível para o motorista e visa melhorar o rendimento.
O sócio destaca a recepção positiva, e afirma que a ferramenta já conta com mais de 16 mil assinantes ativos, e oferece benefícios para os motoristas: “O que a gente está percebendo é que, em média, quem usa esse produto tem um ganho de 20% de rentabilidade no final do mês.”
Um tema crucial discutido foi a regulamentação do setor de transportes. Tanto Neves quanto Inada expressaram preocupações com as propostas de regulamentação atuais, alegando que não atendem às necessidades dos motoristas. “A regulamentação é necessária, mas tem que ser justa e eficaz”, destacou Neves.
Segundo ele, as propostas vigentes poderiam reduzir a receita dos motoristas sem oferecer garantias substanciais em troca.
Inada completa a posição da empresa sobre a questão: “A gente não é contra a regulamentação, na verdade, a gente acha que é uma regulamentação importante, mas não essa regulamentação. Não entendo porque não segue algum molde que já existe e é bem recebido por toda a população. Tem muita coisa faltando, parece que foi uma coisa muito corrida para ser entregue. Mas a gente é a favor de uma representação”, completa.
A StopClub também está focada em investimentos estratégicos, tendo recebido recentemente um aporte destinado principalmente à inovação tecnológica. Os sócios destacam que, no segundo semestre, novas ferramentas e melhorias serão adicionadas ao aplicativo.
Por mais que seja vontade de alguns usuários, Neves e Inada afirmam que não pretendem tornar o Stop Club um aplicativo de corridas. Ele vislumbra o Stop Club como uma plataforma integrada que atenderá todas as necessidades dos motoristas: “Ele vai encontrar tudo o que precisa em um único lugar”, projetou o CEO.
Confira a seguir a íntegra da entrevista.
Como está a recepção da versão premium?
Isso está estreitamente ligado à forma como precificamos o nosso serviço premium; por exemplo, o valor do premium não dá para comprar um café e um pão de queijo. No entanto, foi concebido para ser acessível. Estima-se que o investimento se pague no primeiro dia ou, no máximo, no segundo dia de uso. Observamos que, em média, os usuários deste produto alcançam um aumento de 20% em rentabilidade ao final do mês. Trata-se de um acréscimo considerável. Como empresa, temos funcionários e investimos em tecnologia. Esse investimento é vital para o crescimento contínuo do nosso produto, que está se aprimorando constantemente. A receita que obtemos é um retorno positivo. O produto está em expansão, e acreditamos que todos os nossos usuários desejam que continuemos a evoluir. Foi com esse pensamento que decidimos criar a ferramenta Free. Já estamos com mais de 16 mil assinantes ativos.
O que será o StopClub?
Será uma solução completa para as necessidades dos motoristas. Ele oferecerá acesso a uma ampla gama de recursos necessários para o seu trabalho, tudo em um único local: o stop-to-go. Seja para alugar um carro, adquirir peças, encontrar os melhores preços de combustível, acessar crédito ou serviços bancários, ou utilizar as melhores ferramentas de trabalho para otimizar o rendimento, o motorista encontrará tudo isso integrado no aplicativo.
Qual a visão da empresa em relação à regulamentação?
A necessidade e a importância da regulamentação constituem um tema para debate. Observamos que a proposta atual de regulamentação não atende às necessidades dos motoristas; ela parece beneficiar outros interesses, mas não os dos motoristas. Anteriormente, tínhamos o projeto do Microempreendedor Digital, derivado do MEI, que estabelecia obrigações mais razoáveis e se mostrava como uma alternativa mais equitativa e funcional.
A nova proposta de projeto não oferece nenhuma melhoria significativa para os motoristas. Não apresenta garantias adicionais e impõe obrigações que podem comprometer uma parte significativa de sua renda, sem oferecer contrapartidas tangíveis. A possibilidade de uma futura aposentadoria não é suficiente; os motoristas deveriam ter a liberdade de escolher como investir para a própria aposentadoria, em vez de serem forçados a aderir a um sistema predeterminado.
Na minha opinião, a ideia de retirar dinheiro do bolso dos motoristas para colocá-lo nas mãos de terceiros que tomarão decisões por eles é inaceitável. Além disso, a regulamentação atual não estabelece um piso salarial efetivo nem oferece uma rede de segurança para os motoristas. Se houvesse uma mudança real na maneira como eles trabalham atualmente, talvez pudéssemos considerá-la. Mas, como está, a regulamentação não deve ser aprovada.
Pedro Inada: Nós não somos contrários à regulamentação; pelo contrário, consideramos que a regulamentação é essencial. No entanto, acreditamos que a regulamentação proposta atualmente não é apropriada. A indústria de táxi já opera com um modelo eficaz que inclui tarifas baseadas em quilometragem e tempo mínimos, o qual já é amplamente aceito pelo público. Não compreendemos a razão pela qual não se adota um sistema semelhante, que tem comprovada aceitação. Portanto, percebe-se que há lacunas significativas na proposta atual, que parece ter sido desenvolvida às pressas. Apesar disso, somos favoráveis à ideia de uma representação que verdadeiramente reflita as necessidades e as realidades dos trabalhadores do setor.
Como foi o processo de captação do investimento?
O processo de captação de recursos é, por natureza, demorado. É incomum que tal captação seja concluída rapidamente. Esse processo envolve diálogos extensivos com diversos investidores até que se concretize uma parceria efetiva. Ao longo do último ano, mantivemos conversações com vários interessados e, felizmente, identificamos investidores que se alinham com nossa visão e estão dispostos a embarcar nesse grande desafio conosco. O capital obtido é essencial, sobretudo para investimentos em tecnologia. Estamos trabalhando para aprimorar significativamente nosso aplicativo e seu crescimento tem sido notável. Podemos adiantar que, no segundo semestre, anunciaremos grandes inovações relacionadas à experiência na web, à tecnologia integrada e à usabilidade. As mudanças prometem ser significativas e positivas.
Por que o StopClub não vai virar um aplicativo de transporte?
É evidente a confiança que os motoristas depositam em nós, a ponto de quererem que sejamos também a plataforma de sua atuação profissional. Interpretamos isso como um verdadeiro elogio. Contudo, essa aspiração apresenta um nível de complexidade significativo, não apenas técnico, mas também financeiro. Em localidades mais remotas, como pequenos centros no Brasil, faz sentido que os motoristas de aplicativos desenvolvam suas próprias plataformas e, dessa forma, possam ter mais controle sobre o mercado. No entanto, para a nossa operação, que já alcança mais de mil cidades brasileiras, iniciar a oferta de um produto assim, que já opera de maneira estabelecida e exigiu grandes investimentos para a aquisição de usuários, não é viável. Compreendemos que os nossos recursos e esforços devem ser direcionados para resolver os desafios atuais, criando ferramentas que aprimorem o cotidiano dos motoristas, ao invés de tentarmos assumir um problema que demandaria um investimento substancial e que foge ao nosso escopo. Portanto, a nossa estratégia é resolver os problemas dos motoristas por outros meios, trabalhando em prol deles e deixando a questão dos passageiros para outras partes interessadas. Essa decisão trata de priorização: estamos focados em melhorar os serviços que já oferecemos. O grande desafio é convencer os motoristas a adotarem uma nova plataforma e mudar os hábitos dos passageiros que já estão acostumados com as opções existentes. Essa mudança de hábito é onerosa; muitos já tentaram e a maioria não obteve sucesso.