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“Só recomendo (trabalho como motorista) se for pra renda extra, sem pressão, sem ficar doido querendo ganhar R$ 10 mil por mês”, diz motorista de app

Motorista de app desabafa:  “Se eu começar a fazer conta demais — “ah, fiz R$ 10, gastei R$ 1,50 de gasolina, 60 centavos de pneu, mais o meu tempo” — ninguém vai querer continuar no aplicativo.”

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Motorista
Mulher loira sorridente segura uma placa estilizada com os dizeres “Loira Uber” em frente a um fundo dividido entre rosa e verde claro. Ela veste blusa rosa decotada, cinto verde e colar de flor amarela.
Foto: Taynara para 55content

Com mais de oito anos de volante, Taynara, conhecida nas redes como @loiradouber, é uma exceção no cenário dos apps: não reclama da profissão, não persegue metas e diz que ama rodar de madrugada com gente bêbada saindo da balada. Mas por trás do bom humor e da leveza com que encara o trabalho, há histórias de frustrações com os aplicativos e críticas diretas ao modelo atual — que, segundo ela, sufoca a saúde mental dos motoristas. Sem papas na língua, ela relembra os tempos em que uma corrida de 5 km pagava mais de R$3 o km, e diz que não recomenda o trabalho para ninguém que precise de renda principal. “Se um dia não valer mais a pena, eu faço outra coisa. Simples assim.”

Taynara, queria saber há quanto tempo você é motorista, por que começou a atuar nessa área e como decidiu começar a produzir conteúdo sobre esse trabalho?

Taynara: Vamos lá. Eu sou motorista há 8 anos, quase 8 anos e meio. Decidi seguir essa profissão porque sou terapeuta e tive um acidente muito grave no local onde eu trabalhava. Depois de 9 anos atuando na área de saúde mental, resolvi abandonar a carreira.

Na época, a Uber tinha chegado ao Brasil fazia apenas quatro meses. Eu não sabia o que fazer da vida — minha formação era toda voltada para a terapia, eu não sabia fazer outra coisa.

Alguém me indicou o aplicativo, que naquela época funcionava só por código de convite. Só aceitava carro preto, não podia carro popular, era cheio de burocracias. Entrei e nunca mais saí. Não consegui me interessar por mais nada depois que a Uber entrou na minha vida.

Eu realmente gosto de ser motorista. Sou aquela que não reclama, que está lá porque quer e porque gosta.

Sobre a criação de conteúdo, não foi algo planejado. Há uns dois, três anos, eu usava meu celular antigo para gravar vídeos, mas nem postava nada porque eu nem tinha rede social.

Viralizei na pandemia. Fui filmada escondida enquanto levava uma marmita para minha irmã e, sem querer, aquilo viralizou. Levei mais de dois anos para começar a postar algo relacionado à Uber, corrida ou passageiro.

Minha primeira postagem sobre isso foi só uns três ou quatro anos depois de já ter viralizado. Até então, meu conteúdo era só de humor: dancinhas, palhaçadas…

Um dia me perguntei: “Será que as pessoas gostariam de ver uma corrida?”. E foi quando publiquei meu primeiro vídeo com passageiro — uma situação engraçada com um bêbado que dormia no carro. Era um vídeo de 2021, no meio da pandemia.

Testei e vi que o público gostou. O segundo vídeo, com outro bêbado cantando comigo em Balneário Camboriú, bateu milhões de visualizações. Mas tive problemas com o uso de imagem — os dois melhores vídeos eu precisei arquivar. Um dos envolvidos virou evangélico e pediu para remover, a outra ia se casar e também pediu para tirar do ar.

Hoje, não posto mais nada sem autorização de imagem. Ou recebo a autorização formal ou coloco um emoji cobrindo o rosto da pessoa.

Mas vale dizer que o foco da minha rede social não é a Uber. Posto conteúdos relacionados ao aplicativo quando acontece algo engraçado, absurdo ou impactante, como o caso de um passageiro que me assediou e tocou em partes íntimas — esse eu publiquei.

Mas, no dia a dia, não sou do tipo que reclama: “Corrida de R$ 6, R$ 2 por km, gasolina cara, óleo…”. Não. Eu sou a motorista que gosta do que faz. Se a corrida é R$ 6 por 2 km, eu vou mesmo assim.

Então, minha entrada no mundo da criação de conteúdo foi totalmente sem querer. Começou no humor e, aos poucos, fui trazendo situações das corridas — especialmente as mais inusitadas.

Tenho, por exemplo, um vídeo de uma passageira que pulou do carro para não pagar R$ 10. Outro em que um cara me pediu para buscar droga. Esses ainda estão no meu feed.

E como é a sua rotina? Quais horários você costuma trabalhar? Você tem dias de folga?

Taynara: Eu saio de casa todos os dias pela manhã. Acordo às 5h30 ou 6h. Inclusive, acabei de chegar, por isso pedi 20 minutinhos antes da entrevista.

Geralmente trabalho das 6h às 9h da manhã. Enquanto muita gente está começando o dia, eu já trabalhei três horas. Depois disso, volto para casa, cuido das minhas tarefas pessoais e da internet, que consome bastante tempo também.

À tarde, entre 13h e 17h, eu não trabalho. Não gosto desse horário. Nem sei te dizer quanto se ganha nesse período porque nunca me adaptei a ele.

Prefiro trabalhar de madrugada — especialmente nas noites de quinta, sexta e sábado. Gosto do público que sai da balada, que bebe, que dança, que entra no carro agradecendo. Nem chamam de Uber, pedem pelo app e entram dizendo: “Pelo amor de Deus, obrigada por ter aceitado!”. Às vezes a corrida custa R$ 35 e a pessoa te dá R$ 50 e não pede troco.

Esse é o público com o qual eu gosto de trabalhar. 90% dos motoristas não gostam da madrugada, mas eu adoro. Adoro chegar e ver três jovens na porta dizendo: “Ah, tia, adoro!”.

Prefiro isso do que o pessoal da manhã que entra quieto, dormindo. Eu sou elétrica logo cedo, e nem todo mundo acompanha esse pique.

Costumo folgar às terças-feiras, porque aqui geralmente é um dia muito fraco. Mas, no geral, trabalho quase todos os dias.

Não digo que trabalho todos os dias porque às vezes minha agenda está muito cheia. Em dias assim, saio para tentar encontrar algum conteúdo interessante — uma história, uma situação inusitada.

Durante a manhã, o público está mais introspectivo, indo para o trabalho, com sono. Então nem sempre é o melhor horário para gravar algo divertido. Eu prefiro a noite e o início da manhã, tanto pelo valor das corridas quanto pela vibe das pessoas.

Você é motorista em Balneário Camboriú?

Taynara: Não, eu sou motorista em São José dos Campos e Jacareí, no interior de São Paulo. Tenho parentes em Curitiba, então também trabalho lá de vez em quando. E já fui duas vezes para Balneário Camboriú, onde passei 15 dias trabalhando.

Mas, sinceramente, foi uma péssima experiência. Tem motoristas que adoram, dizem que dá para ganhar muito dinheiro, mas comigo não foi assim. Fui pensando que seria ótimo financeiramente, que as pessoas iam interagir, mas não rolou.

Fui principalmente na intenção de encontrar algum conteúdo interessante — e até encontrei, como o vídeo do bêbado cantando comigo no carro — mas em termos de retorno, não compensou. No dia a dia mesmo, trabalho em São José dos Campos e Jacareí, que é onde moro. Fui para Balneário em período de férias.

E você trabalha com metas de faturamento? Só volta para casa depois de atingir um determinado valor?

Taynara: Hoje em dia, não mais. Já tive metas, sim. Por exemplo, colocava como objetivo do dia fazer R$ 200. Mas, se não chegasse nesse valor e já estivesse cansada, eu simplesmente voltava para casa.

Nunca passei do meu limite físico ou mental por causa de meta. Acredito que dirigir exige muita atenção, e se você estiver cansado, física ou mentalmente, pode acabar se envolvendo em acidentes por falta de foco — mesmo sendo um bom motorista.

Hoje, tenho apenas uma meta mínima, só para justificar sair de casa, colocar gasolina e voltar com algum ganho. Divido o meu dia em dois turnos: trabalho de manhã e depois no final da tarde até a noite. Com isso, consigo atingir um valor que para mim já está ótimo.

Tem gente que fatura três vezes mais do que eu e ainda reclama. Acho que tudo depende da necessidade financeira de cada um.

Sinceramente, não acho saudável trabalhar com metas rígidas. Quem está no aplicativo precisa saber agradecer o que vem, escolher boas corridas, e não ficar obcecado por atingir um valor fixo. Esse pensamento de “se eu não fizer X reais, não volto para casa” vira uma pressão muito grande.

Lembro que quando os aplicativos chegaram no Brasil, o slogan da Uber era algo como “Trabalhe nas suas horas vagas”. Ninguém falava em transformar isso em renda principal. Essa realidade de que “sou motorista, sustento minha casa, pago aluguel” é recente.

Antigamente, a gente saía para ganhar um extra. Estava escrito lá: “Faça uma renda extra”. Só que o negócio cresceu demais e as pessoas começaram a estabelecer metas porque decidiram viver disso. Elas mesmas inventaram um salário ideal, tipo: “Quero ganhar R$ 5 mil, R$ 10 mil”. Aí decidem fazer 50 corridas por dia.

Então, tudo depende da realidade de cada um. Mas eu, Taynara, acredito que essa lógica de meta constante prejudica a saúde mental do motorista e, automaticamente, afeta a qualidade do serviço que ele oferece.

Ah, mas que qualidade? Qualidade é dar bom dia com um sorriso. Não precisa oferecer água ou bala. É não passar no sinal vermelho, não xingar quem buzina atrás de você. Essas pequenas coisas fazem diferença. E a meta sufoca esse lado humano do motorista.

E você trabalha cerca de quantas horas por dia?

Taynara: De 5 a 6 horas por dia, em média.

E você é uma motorista muito seletiva nas corridas que aceita? Tipo, você só pega corrida que paga determinado valor por km? A gente vê muito isso, né? Ou não?

Taynara: Sim. Eu só aceito corrida que pague R$ 2 por km. Pode tocar o dia inteiro, que se não tiver esse valor, eu não aceito.

Minhas taxas de aceitação são baixíssimas por causa disso. Meu cérebro já vai direto ali pro valor por km. Às vezes até olho o endereço, mas entrar em quebrada não me incomoda muito não — o negócio é saber entrar e saber sair.

Agora, valor abaixo de R$ 2 o km, eu não faço mesmo. Pode ser corrida de R$ 6, desde que seja ali 2 km no máximo.

E trabalhando dessa forma, você tem uma média de faturamento — tipo diário, semanal, mensal?

Taynara: Amiga, eu não consigo te passar esses valores, porque tem semana que eu nem tô aqui. Semana passada, por exemplo, eu estava em Curitiba e nem fiz aplicativo.

Então não tenho como te dizer quanto eu tiro por mês. Eu não fico colocando tudo na ponta do lápis, sabe? Acho que se fizer isso, a pessoa fica doida.

Aplicativo não é pra isso. Ele era pra ser uma renda extra, e se virou renda principal, que pelo menos seja algo prazeroso.

Porque se eu começar a fazer conta demais — “ah, fiz R$ 10, gastei R$ 1,50 de gasolina, 60 centavos de pneu, mais o meu tempo” — ninguém vai querer continuar no aplicativo.

A conta até pode fechar, mas nunca vai ser o suficiente pra quem quer sempre mais. Se o cara tá ganhando R$ 3.000, ele quer R$ 5.000. Se ganha R$ 5.000, vai querer R$ 10.000. E aí reclama de tudo.

A pessoa fica tanto na reclamação que acaba não rendendo o que poderia. Eu acho que a pessoa tem que ter noção: “Coloquei R$ 50 de gasolina, ganhei R$ 150. Meu lucro foi R$ 100. Tá ótimo.”

Porque, olha, ninguém ganha R$ 100 por dia fácil, viu? Um CLT ganha R$ 30, R$ 40 por dia.

Já ouvi motorista dizendo: “Nossa, mas você gosta demais de ser motorista.” E eu falo: “Pô, gosto mesmo!” (Desculpa a palavra da entrevista, risos.)

Mas é isso, eu gosto mesmo. Gosto de verdade. Me divirto, dou o meu melhor, puxo papo, converso… Já aprendi tanta coisa dentro do carro. Já aprendi até a trocar pneu de caminhão conversando com caminhoneiro.

Então é uma troca. Não encaro como algo pesado, como se fosse a única forma de colocar comida na mesa.

Pra mim, é algo mais leve. Não é uma pressão absurda. Não é por aí o caminho. Então não, não sei te dizer quanto eu ganho certinho por semana ou por mês. Como eu disse, não é muita coisa, porque hoje eu priorizo passar mais tempo com a minha família.

Claro que eu preciso ganhar pra pagar minhas contas, senão eu estaria fazendo outra coisa. Mas saber valores exatos? Não sei.

Tá certo, sem problemas. Agora queria saber: qual é o melhor tipo de corrida pra você? Aquelas que você mais gosta? E qual você detesta?

Taynara: Então, eu vou contra a maioria dos motoristas: eu gosto das corridas curtas.

Porque eu me movimento pouco — 2, 3 km no máximo — e, se tiver dinâmica, vale super a pena.

Agora, o tipo de corrida que eu não gosto de jeito nenhum é pra área rural. Eu moro no interior, então tem corrida que leva pra represa, sítio, estrada de terra…

Se aparece um destino com nome de estrada assim, estrada tal-tal-tal, eu já cancelo. Não vou, não.

E você comentou que não anota tudo certinho, mas tem ideia de quanto gasta com combustível por dia? Ou também não sabe? Você é daquelas que abastece pela manhã, ou prefere depois do expediente?

Taynara: Eu abasteço a cada dois dias. Coloco pouco, vou colocando aos poucos.

Geralmente gasto entre R$ 50 e R$ 90 a cada dois dias. Meu carro é bem econômico — é um Prisma 1.0 — então consigo rodar bem com pouco.

Coloco de 5 a 10 litros e só abasteço de novo quando precisar. Mas, na ponta do lápis mesmo, nunca coloquei não.

É bem diferente mesmo… Você é uma das motoristas mais diferentes que eu já entrevistei. 

Taynara: Com certeza! Porque a maioria que você deve ter entrevistado reclamou de tudo o que pode imaginar.

Eu não reclamo, não. Eu tô lá porque eu quero, amiguinha. Não tenho nem do que reclamar. Quem liga o aplicativo sou eu.

Você tem uma média de quantos km roda por dia?

Taynara: Num dia bom, que eu trabalho direitinho, rodo entre 80 e 100 km. Não chega a ser muita coisa. Porque eu trabalho 6, 7 horas por dia, então dá mais ou menos isso, uns 100 km no máximo.

Tem motorista que roda 300. Mas esses ficam 12, 15 horas no volante, né? Eles até burlam o aplicativo quando ele manda descansar.

Mas eu não sou assim. Como eu falei no começo da nossa conversa, tem que ser leve, tem que ser algo que não atrapalhe o resto da vida.

Agora, entra no carro de um motorista que tá há 11, 12 horas rodando… você vai ver. Nem bom dia ele te dá. Já vai estar de mau humor, cansado, querendo ir pra casa tomar banho e dormir.

Por quê? Porque ele se colocou uma meta, ele mesmo se cobra, e aí vira essa loucura. E aí vem: “ah, tô estressado porque sou motorista de aplicativo”. Ué, mas por quê? Regula aí, escolhe melhor as corridas.

Para com preconceito de corrida curta, de bairro pra bairro… tem jeito de trabalhar sem se desgastar tanto.

Você roda só pela Uber? Trabalha no X, Comfort, Black? Ou também faz por outros apps?

Taynara: Tenho dois carros — o meu e o do meu marido. O meu é UberX, e o dele entra no Comfort. Já fiquei um mês rodando só no Comfort, e olha, paga muito melhor mesmo, viu?

Aqui em São Paulo, faço Uber e 99. Quando vou pra Curitiba, pra visitar minha família no Paraná, faço 99 e inDrive.

Lá a Uber não funciona pra mim porque ela é estadual e meu cadastro é de São Paulo. O InDrive também só rodo lá, porque aqui na minha cidade ninguém chama.

Já fiquei 15 dias em Curitiba trabalhando. Fui pra conhecer a cidade e trabalhar ao mesmo tempo. Foi bem legal.

Em Balneário Camboriú também, conheci quase Santa Catarina inteira rodando por lá.

E você, que tá há 8 anos nessa, como compara o começo com agora? Melhorou? Piorou? Fala um pouco sobre taxas, valores, gasolina…

Taynara: Sim, tudo mudou. Só as taxas da Uber que não evoluíram (risos).

Sempre brinco: tudo na vida evolui, menos a tarifa do aplicativo. Lá atrás, quando comecei, nem existia o 99. Ele veio quase um ano depois.

Pra você ter uma ideia, uma corrida de 5 km dava mais de R$ 3 o km. Tenho print de tela de 2017 com valores absurdos, dinâmico alto…

Do meu bairro pro centro, era R$ 25. Hoje é R$ 11, R$ 12, sem dinâmico. Na época, o valor mínimo era R$ 8. Hoje é R$ 5,50 ou R$ 6.

Tudo subiu — gasolina, manutenção, comida — menos o valor da corrida. E olha que hoje todo mundo sabe o que é Uber. Antes, o pessoal tinha medo, não confiava. Hoje, ninguém quer mais voltar pro ônibus.

Se a corrida é R$ 10, o passageiro paga, do mesmo jeito que paga R$ 30 num café ou numa dúzia de ovos.

Então, o problema não é o passageiro. É que os aplicativos ganham mais a cada dia e o motorista ganha menos. Nunca teve um reajuste real.

O valor mínimo aumentou de R$ 5,50 pra R$ 6 — 50 centavos!

Antigamente, eu já fiz R$ 560 num único dia, em 6 horas de trabalho, na capital. Nunca me esqueço. Porque o pessoal precisava se locomover, pagava o que tinha que pagar.

Hoje a demanda continua, mas os apps não têm boa vontade. E já fizemos de tudo: manifestação, protesto… Participei de oito!

Uma vez, trouxe 400 carros pra dentro da cidade. Deitei no chão, subi em caminhão, gritei no microfone, quase perdi minha conta.

Mas não adiantou. Fizemos de tudo por anos, e nada mudou. Nunca fomos recebidos nem pelo prefeito, quem dirá pela Uber.

Assessoria de imprensa deles nem responde. Então, desisti. Hoje eu só faço minha corrida e pronto. Tô ali porque gosto.

Se um dia não valer mais a pena, eu vou fazer outra coisa.

E você recomenda esse trabalho pra quem tá precisando de uma grana extra? Que dica você daria pra quem tá começando?

Taynara: Não recomendo, não. E olha que chega a ser engraçado, porque muita gente acha que eu indicaria.

Mas hoje, o pessoal transforma isso aqui numa profissão pra sustentar filho, sogra, cachorro, papagaio…

Só recomendo se for pra renda extra, sem pressão, sem ficar doido querendo ganhar R$ 10 mil por mês.

A dica que eu dou é: aprenda a calcular o valor por km. Só dá lucro se você souber fazer conta.

Agora, se for o tipo metódico que quer colocar tudo na ponta do lápis — gasolina, pneu, o tempo, a água que bebeu, a coxinha que comeu — não vai virar motorista de app.

Hoje em dia tem mais de 1 milhão de motoristas no Brasil. Aí vira bagunça: mais carro, mais trânsito, mais poluição, mais gente sem noção dirigindo.

Tem gente que nem sabe dirigir e quer virar Uber. Pega o carro uma vez por semana e quer se meter no meio de São Paulo por R$ 10.

Então não, não recomendo. Procura outra coisa.

E pra quem tá começando, foca no valor por km. Corrida com R$ 2 por km vale. Menos que isso, não vale a pena.

Senão você vai viver estressado, reclamando, com qualidade de vida ruim. Daqui a pouco, tá com úlcera, pressão alta… Só falta a gastrite nervosa.

Você gostaria de acrescentar alguma coisa? Algo que a gente não falou e que você gostaria de comentar?

Taynara: Bom, primeiro eu queria convidar quem tá me assistindo a me seguir — pra dar risada, pra levar as coisas de forma mais leve. De vez em quando aparecem umas situações bem interessantes por lá.

Não tem nada de blogueirice, tá? Nada de “make do dia”, “look do dia”… Pode ficar tranquilo (risos).

E queria também agradecer a oportunidade de estar aqui, falando com outros motoristas como eu.

Sim, eu sou uma motorista diferente mesmo. E já fui muito criticada por gostar de ser motorista de aplicativo. Mas eu gosto, de verdade.

Tive experiências incríveis nesse trabalho, e também vivi coisas horrorosas — principalmente por ser mulher: assédio, cantadas, até situações de pornografia… Tá tudo lá no feed. Mas a gente releva, porque, no fim, as corridas tranquilas são muito mais frequentes do que as problemáticas.

O que eu queria dizer pra todos os motoristas é: cuidem da sua qualidade de vida. Sua saúde mental, o bem-estar com a sua família — isso tem que vir em primeiro lugar.

Não adianta rodar 14 horas por dia, se estressar, colocar sua segurança e a dos outros em risco, e ainda chegar em casa pra brigar com a esposa.

Pra todos os meus parceiros de volante, eu digo isso: sejam mais leves. Se você não tá feliz, procura outra coisa.

Não adianta bater de frente com os aplicativos — a gente só perde. Faz 8 anos que só perdemos. Nenhuma manifestação deu resultado, nem aquela enorme em São Paulo. Tenho conhecidos em Fortaleza, Manaus… Mesma coisa.

Então, o que nos resta é fazer o melhor que a gente pode com o que temos hoje.

Foto de Giulia Lang
Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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