O motorista recebe uma corrida em dinheiro, realiza a viagem e, ao final do serviço, quando vai cobrar o passageiro, ele solicita: “O senhor pode colocar para pagar na próxima”.
Nos grupos de Whatsapp, canais de motoristas e até no Reclame Aqui, chove reclamações sobre o “pagar na próxima”.
No principal site de reclamações do Brasil, um motorista de Cachoeirinha, Rio Grande do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre, relatou que realizou uma corrida com um passageiro que pediu para que deixasse para pagar na próxima viagem. Segundo ele, a opção não aparecia mais no app e acabou ficando sem o dinheiro do serviço realizado. “Suporte da Uber não responde! E essa não foi a primeira vez. Outra vez que aconteceu eles simplesmente afirmaram que não poderiam fazer nada”.
Mais de quatro meses se passaram e a Uber ainda não respondeu ao motorista. Contudo, parece provável que o recurso tenha sido retirado porque a empresa considerou que ele foi utilizado com uma frequência acima do limite permitido.
O motorista Ian Rocha, de Belo Horizonte, também disse já ter sofrido calotes de passageiros em pagamentos com dinheiro na 99.

Ele conta que, certa vez, pegou uma corrida que foi solicitada no nome da namorada do passageiro. O casal saiu junto de casa, mas apenas ele entrou no carro, enquanto ela ficou com o telefone que tinha feito a chamada. A corrida era para ser paga em dinheiro.
“Levei o passageiro até o destino que ele indicou. Durante o trajeto, ele me orientou sobre onde parar, já que a casa não tinha numeração visível. Ao chegar, ele me pediu para parar em frente a um portão específico e disse que iria buscar o dinheiro para me pagar”.
Ele então ficou esperando por um tempo, mas o passageiro não retornava. “Comecei a ficar preocupado, buzinei e decidi verificar o que estava acontecendo. Ao empurrar o portão, que estava em péssimo estado, percebi que não havia casa alguma atrás dele, apenas um terreno vazio com saída para outra rua. Foi nesse momento que percebi que tinha sido enganado”.
Frustrado, tentou entrar em contato com a passageira pelo aplicativo, mas não obteve resposta. Então, reportou o incidente à 99. “A corrida custava cerca de 40 reais, mas a 99 só me reembolsou R$ 15, que era o máximo que pagavam nesse tipo de situação.”
Em uma segunda ocasião, ele conta que estava trabalhando à noite como motorista de aplicativo no centro de Belo Horizonte.
“Quando cheguei, as duas mulheres estavam saindo de uma casa de prostituição e estavam discutindo intensamente. Durante a viagem, uma delas tentou acender um cigarro dentro do carro, o que provocou mais discórdia. A discussão aumentou até que ambas decidiram não continuar a viagem e saíram do carro”.
Ele encerrou a corrida, que deveria ser paga em dinheiro, mas elas não me pagaram. “Posteriormente, reportei o incidente à 99, mas a empresa se recusou a reembolsar ou cancelar a corrida. Além disso, fui penalizado com a cobrança de uma taxa, mesmo não tendo recebido pelo serviço prestado. Me senti prejudicado, pois fiz o deslocamento até as passageiras, não completei a corrida e ainda tive que arcar com a taxa.”
Assim como Ian, o motorista Ronaldo Lopes, de São Paulo, também já sofreu calotes trabalhando pelo aplicativo da 99. Ele relata que já foi vítima desse tipo de situação mais de uma vez.

“Lembro de uma vez em Carapicuíba, quando fui deixar uma passageira. Naquela época, ainda não existia Pix. Ela disse que iria buscar o dinheiro em seu apartamento e não voltou mais. Perdi 10 reais nessa ocasião. Outra vez, também pela 99, fiz uma corrida de Carapicuíba para Jaçanã. Os passageiros, três pessoas, desceram do carro e um deles disse que buscaria o dinheiro no condomínio. Suspeitei que seria outro calote e disse isso a eles, mas me asseguraram que não. Mesmo assim, o passageiro entrou no prédio e sumiu. Essa corrida custou 50 reais, mas, felizmente, a 99 me reembolsou. Ao todo, já sofri quatro calotes no aplicativo da 99.”
Em seu site, a Uber explica que oferece várias opções de pagamento para seus usuários: cartão de crédito e débito, PayPal, PIX, UberCash e dinheiro. Em situações onde o usuário opta por pagar em dinheiro, mas se encontra sem dinheiro ou sem troco, a empresa disponibiliza a opção “pagar na próxima viagem”.
Este recurso é exclusivo para o aplicativo dos motoristas e só aparece para corridas pagas em dinheiro. No final da viagem, se o usuário não puder pagar o valor total, o motorista pode registrar o valor que faltou no app. Esse montante será então adicionado como crédito na conta do motorista, podendo ser descontado nas próximas corridas do usuário.
Funcionamento:
- Para passageiros que devem dinheiro: se o passageiro não tiver dinheiro suficiente para pagar a corrida, o valor devido será adicionado como saldo negativo na sua conta Uber. Esse valor deverá ser quitado na próxima corrida.
- Para pagamentos excedentes: caso o passageiro pague mais do que o valor da corrida (por exemplo, pagar R$100 em uma corrida de R$20), o troco (R$80) será convertido em crédito na conta do usuário para uso futuro.
- Notificação de pagamento pendente: na próxima vez que o usuário abrir o aplicativo e solicitar uma corrida, será notificado sobre o pagamento pendente, e deverá escolher uma forma de pagamento para quitar a dívida.
Restrições e Consequências:
- Limitações do recurso: O uso do “pagar na próxima viagem” é limitado. Motoristas que usarem frequentemente podem ter essa opção removida de seu aplicativo.
- Consequências para abuso do sistema: Passageiros que tentarem abusar desse recurso podem enfrentar penalidades legais e, em casos graves, podem ser impedidos de criar novas contas na Uber.
- Reporte de má-fé: Motoristas são aconselhados a relatar passageiros suspeitos, especialmente aqueles que já entram no carro dizendo que não têm dinheiro. Em caso de dúvida, a recomendação é cancelar a corrida ou entrar em contato com a Uber.
Já a 99, apresenta aos seus usuários as seguintes opções: cartão de crédito ou débito cadastrado no app; Alelo Mobilidade e Ticker Car, na mesma opção do cartão de crédito; conta PayPal registrada no app; Apple Pay; voucher corporativo (caso sua empresa seja cliente da 99); e 99 Pay. Para pagar no carro existem as opções de pagar em dinheiro e no cartão de Débito, que será cobrado na própria máquina do motorista.
Porém, caso surja uma situação em que não seja possível pagar a corrida por nenhum dos métodos disponíveis, o motorista tem a opção de solicitar reembolso diretamente pelo aplicativo.
Segundo a 99, esse processo é rápido e simples, exigindo apenas quatro cliques. Uma vez feita a solicitação, ela será avaliada e, se aprovada, o valor será depositado na carteira do motorista em menos de um minuto, com um limite máximo de R$50 por corrida.
Além disso, os passageiros serão informados sobre corridas pendentes de pagamento e que a prática recorrente de postergar o pagamento de corridas pode levar ao bloqueio do usuário no aplicativo.
O 55 entrou em contato com a 99 para entender o procedimento em relação a golpes financeiros aplicados durante as corridas:
“A 99, mantendo o seu compromisso de cuidado com os motoristas parceiros, conta com uma Política Anticalote que oferece mais proteção e segurança quando acontece dos passageiros não quitarem a viagem.
Dentro do aplicativo do motorista, há uma ferramenta à disposição dos parceiros e permite, após quatro cliques, que o ressarcimento seja realizado em até 1 minuto após o fim da corrida. Já o passageiro que não pagou a corrida, é impedido de solicitar novas viagens até que o débito seja quitado. Caso haja reincidência no não pagamento de corridas, o usuário estará sujeito a medidas educativas, que podem incluir o bloqueio.
Com o objetivo de promover um ambiente de respeito, empatia e gentileza, a 99 conta com o Guia da Comunidade 99 que traz orientações de comportamentos aceitos ou não durante as corridas, incluindo um capítulo dedicado à questões de pagamento.”
Procurada, a Uber não se manifestou sobre o assunto até a publicação da matéria.
A advogada Luisa de Sousa Manganelli explicou que, de acordo com o Código de Defesa do Consumidor, nos artigos 30 e 31, os consumidores têm o direito de utilizar as ferramentas oferecidas pelos aplicativos de transporte. “No entanto, ao analisar o site da 99, percebe-se que a opção de pagamento alternativa não é um método de pagamento padrão. Ela é, na verdade, uma solução desenvolvida pela 99 para casos de erros no processamento de pagamentos pelo método inicialmente escolhido, representando um benefício adicional ao consumidor”.
Quanto à Uber, ela não verificou informações detalhadas, mas supõe que a política seja similar, já que esta alternativa de pagamento não é listada como um método oficial em seu site.
“Embora eu reconheça que o uso desta facilidade é um direito do consumidor, é importante notar que ela constitui uma concessão voluntária por parte das empresas. Isso significa que não parece viável exigir o cumprimento obrigatório desta oferta (conforme o artigo 35, I, do CDC) em situações onde ela não está disponível. Isso ocorre porque se trata de um benefício oferecido em circunstâncias específicas, que pode até ser concedido de maneira discricionária pela empresa, baseando-se, por exemplo, no histórico de viagens do usuário.”
Vale lembrar que o artigo 176 do Código Penal pune com detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa, quem tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento.
Saiba como solicitar reembolso pela 99
1. Assim que a corrida em dinheiro for finalizada e não houver sido paga, o motorista deve clicar na opção “outro valor”;
2. O motorista deve informar o valor do recebimento, e caso o passageiro não tenha pago a corrida digitar R$ 0,00 no campo “valor recebido” e clicar em “enviar”;
3. Confirmar o valor e clicar em “ok”;
4. Por fim, o motorista deve avaliar o passageiro e clicar em “enviar”