“O motorista ganha só 5 reais em 15 minutos, mas precisa de 8 mil para trabalhar”, diz presidente da Amasp

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Motorista
Duda presidente da AMASP
Duda presidente da AMASP

Duda defende que sua associação pensa no motorista como uma classe, enquanto o sindicato visa um retorno financeiro para si.

A equipe da 55Content entrevistou, nos últimos dias, o presidente da Associação de Motoristas de Aplicativo de São Paulo (Amasp). Eduardo Lima de Souza, ou Duda, nos deu seus pontos de vista sobre o papel da associação, regulamentações, e mais.

A Amasp nasceu em 2016, dedicada a melhores condições na segurança, ganhos dos motoristas, possíveis injustiças, regulamentações municipais, estaduais e Federais. Com mais de 30 mil associados, a Associação enfrenta desafios de financiamento, mantendo-se afastada de cobranças como anuidades ou mensalidades para garantir sua independência e foco na defesa dos motoristas.

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O presidente da Associação destaca a dificuldade em estabelecer legislações que garantam benefícios diretos aos motoristas devido a desafios constitucionais e políticos. A Amasp propõe soluções desde negociações diretas com as plataformas de transporte até a implementação de medidas locais que podem aumentar os ganhos dos motoristas, como a liberação de rodízios e a criação de pontos de apoio.

Duda também enfatiza seu compromisso com a melhoria das condições de trabalho e ganhos dos motoristas. Isso inclui esforços para influenciar políticas públicas, desenvolver projetos que beneficiem diretamente os motoristas, como facilidades de crédito para aquisição de kits de GNV, e estratégias para enfrentar os custos operacionais elevados que os motoristas enfrentam para manter seus veículos em funcionamento.

A Associação vê sua missão como uma luta por dignidade, rentabilidade e segurança para a classe dos motoristas de aplicativo, destacando a importância dos motoristas no ecossistema de mobilidade urbana atual.

Confira, abaixo, a entrevista na íntegra:

Você pode falar sobre seu começo, como você começou a rodar, o começo da associação também, como você entrou nesse mundo?

Eu sou o Eduardo Lima de Souza, sou presidente da Associação Amasp desde 2016. Eu era motorista de ônibus até então, 16 anos como motorista de ônibus. Porém, eu queria encontrar algo que eu conseguisse ganhar o meu dinheiro e ter uma liberdade. Foi aí que eu conheci a Uber. A princípio eu não ingressei já de cara, porque eu tinha um pouco de medo devido à segurança, e outras coisas. No ônibus, pelo menos, você andava com 70 passageiros. Na Uber é um passageiro, então eu ficava meio perplexo por causa disso. Mas, fiz um teste, gostei, fui na empresa que eu estava trabalhando, pedi as contas. Fui na Nissan, comprei meu carro, um Nissan March 2016, tirei zero quilômetro, automático e tal. Estava muito feliz, trabalhando tranquilamente. Nessa época eu tinha apenas um grupo de WhatsApp, onde nós recebemos um áudio do vereador Adilson Amadeu, na qual estava dizendo sobre uma regulamentação para os motoristas de aplicativos. E eu, ao analisar essa regulamentação, eu vi que ia trazer problemas para a gente. 

E, só voltando um pouco no tempo, lá em meados de 97 até 2001, eu também participei da regulamentação das lotações clandestinas. Então, já tinha uma certa experiência. E como eu vi, através daquele áudio, que a gente ia enfrentar sérios problemas, o caminho que você tem para poder combater esse tipo de situação é através de uma entidade, através de um CNPJ. Na época, eu descartei já de cara abrir um sindicato, não vi muito sentido. Então, foi quando eu criei a Associação Amasp. 

Através dessa entidade, a gente combateu a regulamentação que estavam tentando implantar aqui na cidade de São Paulo. Em seguida, nós fomos trabalhar a regulamentação federal, que era a PL-28, atualmente conhecida como PL 13640. Isso teve grande atuação do nosso trabalho. 

O deputado Carlos Zarattini, que escreveu a PL 28, era um representante dos taxistas criando a regulamentação para motoristas de aplicativo, não vi com bons olhos. Também nesse período a gente enfrentava a guerra contra os taxistas, era um quebra-quebra geral, porém a gente, com a nossa força, o nosso trabalho, a nossa dedicação, nós conseguimos conscientizar os taxistas de que eles poderiam quebrar 10 carros, mas apareciam mil. Então, assim, nós chegamos pra ficar. Esse foi o lema que nós usamos e os taxistas entenderam que não tinha mais o que fazer, a não ser criar suas próprias metodologias para poder enfrentar essa era digital de mobilidade urbana que estava ingressando aqui no país. E, quando a gente terminou de tirar todos os pontos negativos que o deputado Carlos Zarattini queria trazer pra nossa classe, garantimos, então, o serviço do motorista de aplicativo, porque estava ameaçado. Se nós não tivéssemos atuado com grande êxito em 2017 e 2018, nós hoje não teríamos mais essa classe. 

Esse foi um dos trabalhos fundamentais que a Associação Amasp trabalhou. Mas, quando eu saí de lá, eu sabia que o problema ia migrar do âmbito federal para o âmbito municipal. Até porque a PL deu poder para as prefeituras. Por eu estar muito empenhado e inteirado nessa questão, eu já sabia que, por se tratar de uma classe nova, os parlamentares, eles não iam ter uma expertise para criar regulamentações que fossem favoráveis. Eu sabia que a gente ia enfrentar problemas no Brasil inteiro. Como enfrentamos atualmente. 

Qual era o maior problema? O maior problema é que cada prefeitura queria sua unidade. Elas queriam regulamentar a classe dos motoristas de aplicativos como se nós fôssemos taxistas. Algo centrado localmente. Mas nós não somos algo centralizado. Nós somos motoristas que estamos operando na cidade de São Paulo. Porém, se você pegar uma corrida para Santo André, o motorista que te levar para Santo André, ele vai continuar operando lá normalmente. O grande problema que eu vi que nós íamos enfrentar era que esse motorista regulamentado na cidade de São Paulo, levar você na cidade de Santo André, ele até iria trabalhar. Porém, correndo risco, se uma fiscalização da regulamentação da cidade pegasse ele, ele teria carro apreendido, sérios problemas. Então, levaria esse motorista a voltar batendo lata, que é como que nós chamamos. Esse motorista batendo lata, ele ia ver que, pelo valor das corridas, não ia compensar. Então, você já não ia conseguir motoristas de aplicativos para te levar pra cidade de Santo André. Todos iriam rejeitar. É uma situação muito complexa. E é uma coisa levando a outra.

Outro ponto também que nós esbarramos em problemas municipais era o cadastramento. Toda cidade que quis implementar o cadastramento presencial também viu problemas. Por quê? Porque a mesma cronologia que eu te expliquei agora há pouco iria acontecer novamente. Por quê? Porque o Duda é da cidade de São Paulo. Porém, Guarulhos criou sua regulamentação. O Duda ia ter que sair de São Paulo para ir até Guarulhos para poder se cadastrar lá. E a mesma coisa o Duda ia fazer em Osasco, Santo André, São Caetano, São Bernardo, Mauá, enfim. Veja quanto tempo eu perderia pra fazer todo esse cronograma de cadastramento. Então, nós começamos a lutar e reivindicar o cadastramento online. Como funciona o cadastramento online? Eu, como motorista, busco a passageira e levo lá pra Campinas. Campinas já tem sua regulamentação, porém, lá também é feito o cadastramento online. O Duda entrou no perímetro da cidade, automaticamente o Duda é cadastrado no município. Então, se uma fiscalização abordar o Duda, o Duda já consta no cadastro deles. Assim, o Duda não sofre problema algum. E as cidades que quiseram, mesmo assim, mesmo sabendo desses problemas, quiseram aí prejudicar a classe dos motoristas, que é o caso de Guarulhos, é o caso de Sorocaba, nós derrubamos a regulamentação. Guarulhos é uma regulamentação bloqueada até hoje, devido a nossa ingressão junto ao Ministério Público. Sorocaba derrubamos por duas vezes, até elegemos lá um vereador que conseguiu trazer uma regulamentação que fosse favorável para a classe dos motoristas. 

Nós atuamos no Brasil inteiro, dando suporte para outras associações que estavam enfrentando os problemas que nós enfrentamos aqui. Fora isso, a Associação Amasp também criou um bolsão para motoristas de aplicativos no aeroporto de Guarulhos e no aeroporto de Viracopos. Foi a primeira associação a criar um bolsão em um aeroporto. Outro feito também, nós entramos com uma denúncia junto ao Ministério Público para tirar o Uber Pool e o 99 Promo, que eram aquelas viagens compartilhadas na qual trazia muito problema pro motorista. Por mais que uns falavam que ganhavam dinheirinho, a maioria falava que dava problema. A Amasp também inaugurou o bolsão que Congonhas, inicialmente foi da Amasp, toda papelada, conversação com taxistas do vermelho e branco. Inclusive, a Associação Amasp foi até processada por eles, mas hoje esse bolsão quem gere é o gabinete do vereador Marlon Luz, por ter mais condições. 

A Amasp não cobra nenhuma taxa, nenhuma anuidade, nenhuma mensalidade dos seus afiliados, então ela é desprovida de verbas. Isso é algo que favoreceu a Associação Amasp em questão de números de associados. Hoje a gente conta com mais de 30 mil associados, porém, em contrapartida, é uma associação que não conseguiu progredir muito na questão de projetos para motoristas de aplicativos devido aos problemas financeiros. Na verdade, não são problemas financeiros, é que não captamos verbas. Por isso, o foco da Associação Amasp é mais voltado para a parte política, defesa de motorista e representação. 

Inclusive, atualmente, estamos trabalhando em Brasília, nesta regulamentação que o Lula quer trazer para a classe. A Associação Amasp está trabalhando desde o início, criou, ajudou, contribuiu na criação de uma frente parlamentar no Congresso, na qual contamos hoje com mais de 240 deputados federais. Construímos uma rede de deputados, criamos uma proposta de projeto de lei para poder colocar na mesa, juntamente com essa proposta que está vindo pelo governo, para ver qual é o melhor projeto. 

Os projetos que visam prejudicar o motorista, a Amasp vai estar atuando. A Amasp faz parte da Federação FEMBRAP. Eu fui presidente por quatro anos dessa federação, venceu o meu prazo, saí, mas continuamos lá. Agora, estamos também trabalhando juntamente nas questões que o STF quer trazer a decisão de vínculo empregatício para a classe dos motoristas de aplicativos. 

A Amasp tem uma grande atuação, porque a política, ainda mais em ano eleitoral, muitos parlamentares querem criar projetos. Recentemente tivemos um projeto, que ainda bem que não foi para frente, de um deputado que queria punir o motorista de aplicativo se não tivesse troco. Os deputados, não têm muita sabedoria, muita visão, não têm muito entendimento do que é a classe dos motoristas de aplicativos, e visam trazer projetos aí para chamar atenção, para se alavancarem politicamente. A Amasp, ela tem grande trabalho nessa parte. 

Outro ponto também, a Amasp fez inúmeras manifestações de reivindicações para melhores tarifas, incluindo uma manifestação internacional, na qual a Amasp esteve em 2018, lá em Londres, numa convenção internacional das associações, para poder tratar sobre esses assuntos. De lá, nós demos apoio aí em regulamentações da Bolívia, Cuba,  contribuímos grandemente. Conseguimos ajudar nossos parceiros, nossos vizinhos, e seguimos na luta. Eu, Duda, sou pré-candidato a vereador na cidade de Guarulhos para esse ano, porém o meu intuito não é tão financeiro. Através desse mandato, eu pretendo criar a um instituto da Associação através de recursos próprios mesmo, criação de um aplicativo municipal para a cidade de Guarulhos, na qual engloba toda a sociedade guarulhense, para, através desse aplicativo, trazer fundos para a própria prefeitura, para trazer melhorias tanto para os munícipes, quanto para os motoristas de aplicativos. E a Associação Amasp adquirir verba para poder criar um projeto que está paralisado, um projeto que eu tenho, um sonho, que é a criação de um ponto de apoio, um centro de abastecimento para os nossos associados, onde os motoristas de aplicativos associados abastecem os seus veículos com valores praticamente diretos das usinas. A gente pretende mexer só com etanol, então, o valor que a usina revender esse produto, nós vamos colocar só uma adição para poder custear a mão de obra, a locação, e o restante, o motorista vai levar isso no bolso. E esse ponto de apoio também vai contar com locais para o motorista de aplicativo ter descanso, lavagem veicular, tudo isso a gente pretende trazer gratuitamente para os motoristas de aplicativos. Atualmente, eu não consigo ter recursos para poder criar esse projeto. Mas, através desse mandato, eu acredito que eu consigo trazer isso para a classe, além do que, também, trazer uma regulamentação municipal para os motoristas, que seja um espelho para outras cidades, municípios, estados, e até mesmo o âmbito federativo. Então, através desse meu mandato eu acredito que eu consigo ter uma certa visibilidade e trabalhos reais e concretos para que a gente tenha êxito em vários âmbitos que, até hoje, nós não tivemos muita exatidão. Como pontos de embarque e desembarque em rodoviárias, espalhados em municípios. Eu consegui um bolsão juntamente com o nosso vereador Nelson Hossri, na cidade de Campinas, na rodoviária da cidade. 

Mas, o que que acontece? São parlamentares que fazem esse trabalho, beleza, ok, tá concluído, mas não tem uma continuidade assistida nesses projetos. Então, o projeto acaba ficando meio abandonado. A gente quer dar total atenção na cidade para que sirva de exemplo para outros parlamentares vindo dentro da nossa classe, para que eles também levem esses projetos para seus respectivos municípios, estados, enfim. 

Então, o que eu quero dizer com isso é que nós temos um trabalho gigante ainda pela frente. Todo o trabalho político, acredito que esse trabalho federal aí que nós estamos trabalhando, que não vai sair ainda esse ano de 2024, na minha previsão não vai sair. Pode sair a proposta, pode sair muitas coisas, mas a sanção do projeto não sai nesse ano. Eu acredito que em 2025, o ano que a gente estiver lá no mandato a gente vai conseguir contribuir com muito mais peso. 

A Associação Amasp vai seguir, eu não pretendo virar as costas para essa associação, porque hoje ela é considerada como a maior associação de motoristas de aplicativos do Brasil. A Amasp tem grande nome, tem um poder, eu estou entrando aí no âmbito político como vereador por intermédio dela, então vamos trabalhar em conjunto, nosso gabinete juntamente com a Associação Amasp, para o benefício do motorista, sempre em prol ao motorista. Porque eu sou motorista também, e eu quero estar num âmbito que esteja plausível para mim, que eu esteja com melhores ganhos, que esteja com vários pontos de apoio que me favoreçam, regulamentações que me tragam reais benefícios, que eu tenha um trabalho que me dê a dignidade que eu consiga trocar de veículo com mais frequência do que eu tenho hoje, para não ficar refém de manutenções e tal. Então, nós temos um trabalho passado, um presente e um futuro.

Como a associação aborda as questões da regulamentação do trabalho de motorista, qual é a proposta de vocês, especialmente em relação aos ganhos?

Em relação aos ganhos, devido à inconstitucionalidade, nós não conseguimos criar um projeto de lei que traga reais ganhos para o motorista de aplicativo. Já foram criados inúmeros projetos, inclusive federais, que reduziriam a taxa de desconto dos aplicativos. Os ganhos mínimos só estão andando para frente, porque se trata de uma negociação, um acordo entre plataformas e motoristas, com intermédio de sindicatos, que não nos representam. Por se tratar de um acordo, pode até ser que saia alguma coisa, porém, acredito que não vai muito para frente. Então, a minha previsão, pela experiência que a gente teve em relação ao âmbito político, é criar mecanismos para que o motorista de aplicativo tenha um retorno financeiro para o seu bolso. 

Por exemplo, uma regulamentação municipal é liberar o motorista no dia do rodízio, aqui em São Paulo. Já é um dia a mais em que o motorista não pode trabalhar, nisso o motorista pode colocar um valor a mais no seu bolso, coisa que ele não coloca hoje. Criações de pontos de apoio, esses que eu falei. O motorista que frequenta um ponto de apoio desse, ele tem uma economia tanto no abastecimento quanto na lavagem veicular, e também na sua alimentação. O motorista leva a sua marmitinha, tem ali o local para esquentar, coisa e tal. Então, se você jogar todos esses valores que ele está economizando e jogar até o fim do mês, praticamente ele vai ter verba suficiente para pagar uma prestação do seu veículo ou até mesmo o valor da locação veicular. É criando mecanismos que o motorista de aplicativo terá melhores ganhos. E também, com o poder parlamentar, trazer as plataformas e dialogar. E já é prova que elas vêm para o diálogo. Então, através dele, pode ser que nós tenhamos uma melhoria em relação a taxas e repasses para motoristas de aplicativos. É uma troca. Você dá para a classe uma redução da tarifa, da taxa cobrada para o motorista e também um melhor repasse para o motorista. Em contrapartida, a gente disponibiliza para o aplicativo, algo que eles tenham interesse. Nós temos a experiência de que esse tipo de mecanismo é legal. Porém, não tivemos ninguém para poder estar tratando sobre os ganhos do motorista de aplicativos. Então, acredito que é por esse mecanismo que nós vamos conseguir ter êxito. Fora isso, não temos chance. 

Manifestações, por exemplo, não têm êxito para melhorias de tarifa, porque nós não conseguimos mobilizar uma grande parte dos motoristas. Segundo o levantamento da CPI, somos 536 mil motoristas cadastrados na cidade de São Paulo. Se a gente colocar 3 mil motoristas de aplicativos na rua, numa manifestação em prol dos reajustes, nós ainda vamos ter 533 mil motoristas operando. Você acha que vai afetar a operação das empresas? Não vai. Elas nem dão atenção. Então nós já descartamos esse mecanismo de manifestação, ela só funciona em âmbito político. Uma decisão política pode trazer graves problemas para o motorista, e o pouco de motoristas que nós conseguimos remanejar para essas manifestações já é de grande impacto parlamentar. Para o âmbito político parlamentar, eu vejo êxito. Para reajustes, infelizmente, não.

Como é a relação entre associação e esses aplicativos atualmente? 

Temos uma boa relação. Com a Uber, com a 99, inDrive, em municípios fechados, como Bragança Paulista, lá nós temos o aplicativo municipal, que é o VR Drive. Numa cidade em Minas Gerais temos o iLeva. O nosso diálogo com todos é muito bom. Eles sempre nos ouvem em relação a projetos, propostas, problemas que motoristas enfrentam. Muitos cadastros que foram excluídos, nós conseguimos reverter através dessa conversa. Corridas que o motorista fez e não conseguiu receber. Nós, através do diálogo, fazemos com que o motorista receba. Em relação à segurança, a gente contribui muito com a melhoria da plataforma, levando a experiência da rua para a parte técnica, segurança, estratégia, promoção, mecanismos, até mesmo para o motorista ganhar um pouco mais. 

Outro ponto também, nós discutimos muito a situação política que envolve o motorista aplicativo. É uma troca de informações muito grande. Enfim, é uma infinidade de projetos que a gente faz juntamente com as plataformas, devido a esse diálogo, essa abertura que nós temos.

E sobre os sindicatos, que você falou que não te representam, por que você tem essa posição?

Eu tenho essa posição porque em 2016, quando eu criei a Associação Amasp, foi criado também um sindicato. Ele foi inaugurado documentalmente em 2017. E na inauguração desse sindicato, quem esteve presente foi o sindicato dos taxistas. Ao ver esse sindicato dos motoristas de aplicativo envolvido com sindicatos dos taxistas, eu já não vi com bons olhos. Eu percebi que esse sindicato, ele poderia ser ludibriado pelo sindicato dos taxistas, que estão há muito mais tempo que eles em operação. Então, eu tive uma visão de que os sindicatos dos taxistas poderiam usar os sindicatos dos motoristas de aplicativo para conseguir ter o êxito que eles queriam. 

Fora isso, a gente entregou a regulamentação de Mogi das Cruzes, e, ao ter finalizado essa regulamentação, os motoristas tiveram um problema gigantesco e recorreram à Associação Amasp, tivemos que ir para a cidade e consertar essa regulamentação, na qual sindicatos operaram. Então, assim, isso me levou a uma pergunta. Por que esse sindicato, por exemplo, não conseguiu trazer uma regulamentação favorável para a classe? E aí foi onde não precisei de muito esforço para poder identificar que eles não são motoristas e aplicativos. São pessoas que criaram os sindicatos, na qual, através da Constituição de 1988, nossa Constituição Federal, eles têm poder, na classe, apesar de a classe ainda não ter sido profissionalmente construída. Todas as conversas que eles tiveram, juntamente com o governo e com as plataformas, nessa construção da regulamentação federal, foram muitos pontos ali que não se encaixavam. Eles falavam uma coisa, a mídia falava outra, o governo falava outra, daqui a pouco eles saíam como que o governo e as plataformas eram mentirosos. Daqui a pouco eles estavam juntos nas partes que eles disseram não defender. Ficou muito confuso. Então, é por esse ponto que eu não consigo confiar na representação da classe por essas entidades. Por isso que quanto mais sindicatos abrem, mais força eu busco, não só para a Associação Amasp, mas para a nossa federação e todas as associações que a compõem.

Quais são os principais objetivos da Amasp e qual é o papel da Associação para os motoristas?

A maior visão da Associação Amasp é ver a nossa classe saudável. Trabalhando, operando de forma digna, de forma rentável para o motorista, de forma protegida no âmbito político, que o motorista tenha garantias de que vai ter o seu trabalho ao decorrer dos anos. As maiores investidas da Amasp são mais no âmbito político, pois foi o âmbito político que mais pesou e ainda pesa na nossa classe, então é onde que a Amasp atua. E também criar e colocar em prática programas e projetos que nós temos em andamento, em prática, para que o motorista tenha melhores ganhos. 

Uma coisa que eu esqueci de dizer é que no governo anterior, nós chegamos a levar um projeto para o governo do estado de São Paulo, na qual o motorista de aplicativo teria uma linha de crédito praticamente sem juros para aquisição de kits de GNV. A nossa visão era o motorista ter um combustível na qual não lhe tirasse grandes valores do seu bolso e também uma contribuição com o nosso meio ambiente. Porém, o governo anterior não foi eleito, então o projeto ficou paralisado. A Amasp se preocupa muito com o meio ambiente e se preocupa muito mesmo com o bolso do motorista, porque o motorista, é o maior responsável pelo modal existente de mobilidade urbana por intermédio de aplicativos. Se não fosse o motorista, um aplicativo seria apenas um aplicativo. Então, o motorista de aplicativo, ele tem que ser o maior favorecido em todas as investidas, seja política, seja em projetos, em programas. 

O que eu vejo hoje? Como está a nossa classe hoje? Hoje, nós temos motoristas de aplicativos lutando para se manter firmes em operação. Eu digo isso porque um motorista de aplicativo hoje, para manter um veículo operando como veículo próprio, ele precisa desembolsar 8.300 reais por mês, para manter por 26 dias. E um veículo locado, ele tem que desembolsar 7.300 reais por mês. Só depois que o motorista levantar estes valores, é que o motorista vai conseguir ver o seu lucro. Porém, no intermédio de 26 dias, um carro pode quebrar. O carro particular quebrou, o motorista fica dias parado e tira dinheiro do bolso. Um carro locado quebrou, ele fica dias parado, mesmo não tirando nada do bolso. Quando ele volta à atividade, ele volta mais sobrecarregado do que antes. Eu consigo ver, até porque eu também sou motorista de aplicativo, o sofrimento que nós temos na rua. Até porque uma corrida às vezes é 5 reais e 62 centavos. Você leva cerca de 10 a 15 minutos para concluir essa viagem. Agora imagina como fica o psicológico de um motorista que leva de 10 a 15 minutos para ganhar 5 reais e sabendo que ele tem que levantar 8 mil reais para o carro estar operando. Depois disso, ainda tem o seu aluguel, o seu sustento. Sua água, sua luz, a escola das crianças, o lazer. 

Hoje eu vejo uma classe com esse problema. É um problema que, para a empresa, tanto faz, porque o motorista que sofre. Aqueles que ainda conseguem permanecer no modal, permanecem com problemas financeiros. E aqueles que já saíram, são substituídos. Porque o motorista de aplicativo para as empresas é só um número. Nós precisamos dar uma atenção muito importante, muito incisiva nesse ponto dos ganhos dos motoristas. Para que nós consigamos ver uma classe saudável operando com carros novos entregando para você, passageiro, uma qualidade e uma excelência de um serviço que hoje eu acredito que você não tem. Hoje você pega um veículo, se não está depredado, está meio sujo, o motorista está de cabeça quente, muitos deles não dão nem bom dia, boa tarde, boa noite. Está ali no volante, sempre pensativo, trazendo até uma certa negatividade para a sua própria corrida. E nós entendemos esse motorista. Porém, o passageiro não tem percepção. Enfim, a nossa visão, a nossa busca, a nossa luta é essa.

Para fechar, o que você gostaria que o público geral soubesse sobre o trabalho das associações ou da MASP, especificamente. O que você quer que fique muito claro.

O que eu quero que fique muito claro é que os motoristas entendam que a associação Amasp, ela é uma associação e não um sindicato. A associação Amasp é composta por diretores motoristas que trabalham no dia a dia igual a todos os que compõem a categoria. Muitos confundem associação com sindicato e a gente não consegue chegar a uma parte da classe por eles não saberem essa diferença. Eles acham que associação e sindicato é uma mesma entidade. Não é. São entidades totalmente diferentes. O sindicato, toda investida de sindicato, ele sempre está visando um retorno financeiro para a sua entidade. Esse é o intuito. Já uma associação, não. A visão da associação é não pensar somente na árvore, mas sim na floresta. Não pensar somente em um motorista, mas sim no montante, na classe como um todo. Ver a classe como um todo em âmbito mundial. É uma classe que todo motorista de aplicativo tem prazer em ser motorista de aplicativo. Essa é a nossa luta. Essa é a visão, essa é a busca da associação.

Foto de Anna Julia Paixão
Anna Julia Paixão

Anna Julia Paixão é estagiária em jornalismo do 55content e graduanda na Escola Superior de Propaganda e Marketing.

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