fbpx

Ian Rocha: “Queremos criar a Frente Parlamentar dos Vereadores Motoristas de Aplicativo”

Screenshot 2024 07 03 184843
Motorista e influenciador, Ian Rocha durante audiência pública

Focado na mobilidade urbana, o motorista e influencer foca em sua pré-candidatura como vereador em BH.

Ian Rocha é motorista de aplicativo desde 2016 e utiliza suas redes sociais para compartilhar seu dia a dia nas corridas e opinar sobre os assuntos da classe. Agora, o influenciador lança sua pré-candidatura para vereador em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Com mais de 200 mil inscritos em seu canal do YouTube, Ian utiliza seu engajamento para opinar sobre assuntos dedicados aos motoristas de transporte, participando de reuniões e assembleias sobre projetos de leis, incluindo a PL 12/2024, famosa entre os parceiros dos apps.

Para 2024, o motorista deseja investir seu cargo na construção de uma melhor mobilidade urbana para a capital mineira, incluindo os reparos nas ruas e ajudando nas condições dos trabalhadores por app. Para explicar melhor sobre suas propostas, Ian conversou com o 55Content:

Como surgiu o convite para entrar na política?

Eu não tive um convite formal para me candidatar a vereador por Belo Horizonte. No entanto, diversos seguidores e motoristas me falavam sobre isso há muito tempo, acreditando que eu seria um excelente porta-voz para nossa classe. Essa ideia foi amadurecendo na minha cabeça ao longo do tempo, pensando se realmente fazia sentido eu me candidatar a vereador. Já havíamos enfrentado dificuldades na luta pela regulamentação municipal em 2018 aqui na cidade, sem nenhum apoio político e com muita gente querendo prejudicar nossa classe por interesses próprios.

E o que pesou para aceitar ser pré-candidato a vereador?

Sem dúvidas, a necessidade da nossa classe ficou evidente quando iniciou o processo da regulamentação federal. Eu e todos os motoristas sentimos a necessidade real de poder e apoio político. Além disso, a questão financeira pesou, pois precisávamos de condições para lutar por nossos direitos de igual para igual. Naquele momento, não havia mais dúvida: o motorista precisa de um representante motorista na política em todos os estados, já que os sindicatos, as plataformas de aplicativos e o governo estavam querendo nos sugar e prejudicar ainda mais.

Quando eu não pude participar de diversas audiências públicas por não ter condições de parar de trabalhar e nem dinheiro para viajar e apoiar a classe, percebi que não adiantava eu ter só boas intenções, estar preparado para as audiências e querer dar o meu melhor para os motoristas. Eu precisava de poder político para participar e falar nas audiências, ter autoridade como um representante eleito pela classe e, dessa forma, ser visto de forma diferente nas audiências. Também precisava do apoio da verba de gabinete para conseguir estar presente em todas as audiências e representar os motoristas de forma eficaz. Então eu, como motorista, me sinto preparado e estou disposto a fazer de tudo para lutar por todos nós, sem ter o entrave de não ter todas as ferramentas para isso.

Quais são suas principais propostas, caso eleito vereador?

Caso eleito, entendo que a minha principal luta é a classe dos motoristas de aplicativos. Estou ali por eles e para eles. No entanto, não irei deixar de lado as demais áreas de atuação de um vereador, como saúde e educação. Contudo, nesta resposta vou me ater às propostas que tenho visando a classe dos motoristas.

De início, falando das propostas focadas em nossa classe, eu diria que a base da necessidade do motorista está alinhada na área de atuação da mobilidade urbana, onde terei foco no trânsito, na pavimentação das ruas e na necessidade que os motoristas têm para exercer suas atividades com qualidade e dignidade. Existem vários bairros com vias abandonadas, sem nenhuma pavimentação, que requerem atenção. Além disso, muitos trabalhos são iniciados na cidade e não são concluídos devidamente. Como vereador, minha função será a fiscalização, e atuarei ativamente nessa questão. Buscarei melhorias na pavimentação onde não há e na conclusão dos trabalhos mal feitos.

Por exemplo, temos as obras no bairro Dona Clara, na região da Pampulha em Belo Horizonte, onde ruas foram pavimentadas e dadas como concluídas. Porém, uma rotatória necessária que foi retirada durante a obra simplesmente não foi incluída novamente após a pavimentação. Além disso, eles sequer pintaram todas as faixas nos locais. É um trabalho porco, inacabado, e que não pode acontecer. Pretendo fiscalizar e garantir o início das obras onde são necessárias e a sua conclusão.

Pensando na necessidade do motorista, atuarei para melhorar o trânsito e as áreas de embarque e desembarque para aplicativos. Hoje, não são criados locais específicos para embarque e desembarque de passageiros de aplicativos em eventos ou locais cheios, onde a maior demanda vem para os aplicativos e não para táxis. Para os táxis, essas áreas são criadas, mas para os aplicativos, não. Parece que ainda estamos em 2014, onde só existiam táxis. Isso não pode ser mais ignorado. Em eventos e locais de grande lotação, a cidade precisa dessas áreas para aplicativos, facilitando o encontro e a rotatividade para o usuário e o motorista.

Além disso, é muito cruel como o motorista é multado por embarcar e desembarcar passageiros pela cidade. Vejo a necessidade de um planejamento melhor para esses embarques e desembarques, além da criação de algo para informar aos usuários onde podem e não podem solicitar um carro. Precisamos fazer um trabalho, até mesmo nas escolas, incentivando a educação do passageiro e futuro passageiro para que use o serviço da maneira correta, sem prejudicar o motorista ou colocar ele mesmo e o próprio motorista em risco de assalto ou multas.

Outro ponto são os banheiros. O motorista não tem um local para usar o banheiro pela cidade, principalmente as motoristas mulheres, que sofrem ainda mais com isso. Vejo a necessidade da criação de pontos de apoio com banheiros na cidade. Esses pontos de apoio também poderiam ajudar o motorista a ter um local para aguardar viagens com segurança durante a madrugada, poder se alimentar e descansar.

Além disso, não temos nada que garanta uma ação rápida em conjunto com a polícia em caso de assalto, roubo ou até sequestro, que é mais comum do que a maioria imagina. Portanto, segurança será um pilar para mim. Já existem sistemas de segurança avançados para garantir a segurança do motorista e a ação rápida da polícia, utilizando câmeras de segurança nos carros e monitoramento da localização dos veículos em tempo real. Pouco se conhece a respeito, mas podemos trabalhar para que a polícia atue em conjunto com a cidade e com os motoristas, de forma que o bandido saiba que, se tentar assaltar um motorista, as chances de se dar mal inibam sua ação.

Portanto, farei vários estudos para viabilizar esses projetos e também para tentar regulamentar o motorista em Belo Horizonte, como já foi tentado em 2018 de forma fraca. Porém, agora, tendo um representante da classe dos motoristas na câmara dos vereadores, podemos regulamentar de forma justa e garantir benefícios para a classe na cidade. Já somos muitos para ser ignorados; só falta um porta-voz para fazer acontecer.

Por qual partido você irá concorrer e como definiria seu posicionamento político?

Eu sou de centro-direita, mas acredito que sou uma pessoa sensata. Eu analiso toda e qualquer situação e proposta, independente do viés político dela, não me importa se vier da esquerda ou direita. Como vereador eu iria analisar se ela é boa para a classe na qual eu represento e defendo, e se será boa para a cidade. Então eu vou trabalhar pelo povo e pela minha classe. Sou pré -candidato a vereador pelo PMB (Partido da Mulher Brasileira), um partido de centro- direita.

Atualmente, apenas o vereador Marlon Luz está eleito com a bandeira da representação do motoristas de aplicativo. Nas últimas eleições, outros motoristas de app tentaram e não conseguiram. O que faz você acreditar que será diferente em 2024?

Marlon não é o único vereador eleito pela classe dos motoristas de aplicativo. Acredito que ele seja o mais visado por ser um influente do tamanho que ele é e por estar na cidade de São Paulo, mas existem outros. Pelo menos três que eu conheço, inclusive um que admiro muito o trabalho dele. Ele se chama Ítalo, não sei se todos conhecem, mas existem pelo menos três cidades menores onde foram eleitos vereadores pela classe dos motoristas de aplicativo.

O que me faz acreditar que vai ser diferente em 2024 é o simples fato da necessidade que todos os motoristas enxergam hoje. Antigamente, até na primeira eleição para vereador, quando os motoristas começaram a sinalizar interesse em ter uma representação com pessoas que se dispusessem a representar a classe dos motoristas, ainda existia uma visão de que o cara queria se dar bem na política. Hoje, principalmente depois das regulamentações municipais que fracassaram, e agora com a regulamentação federal, tivemos dores de cabeça com sindicatos, governo e as próprias plataformas nos engolindo. O motorista de aplicativo percebeu que sem a representatividade política, não conseguimos combater e trazer um trabalho digno sem ser sugado e prejudicado pelos aplicativos, sindicatos e até pelo próprio governo.

O fato da necessidade e a visão do motorista terem mudado, a percepção de que precisamos de um porta-voz, me faz acreditar que será diferente em 2024. Nessas eleições para vereador, que é o primeiro passo, queremos trazer vereadores para todas as cidades, para termos força para lutar pela regulamentação federal. E depois, daqui a dois anos, talvez até termos deputados para representar a nossa classe em todos os âmbitos políticos, de acordo com o tamanho da nossa classe, que hoje ultrapassa 2 milhões de motoristas. Então, vai ser diferente pela conscientização e pela necessidade do motorista, que foi provada durante esse período de teste das regulamentações, que precisamos disso.

Quando influenciadores de uma determinada categoria decidem entrar para política, é comum haver críticas que estaria se aproveitando da influência para fins próprios. Como você responderia a essas críticas?

Eu vejo o seguinte, primeiro, dada a necessidade que nós temos. O influenciador hoje é a pessoa que atinge o maior número de pessoas, e para entrar na política requer um número elevado de votos. Então, eu vejo uma dificuldade enorme para uma pessoa anônima conseguir entrar na política e ter voz ou votos suficientes para representar a classe. O influenciador nada mais é do que a pessoa que está disposta a dar a cara para representar a classe dos motoristas de aplicativo e que teria condições de ser eleito numa primeira demanda de entrar na política, conseguir os votos suficientes para representar a classe, dada a necessidade que temos. Necessidade essa que ficou muito clara durante a regulamentação federal.

Ficou evidente para todos nós, motoristas de aplicativo, que um vereador eleito, como o Marlon, teve condições financeiras e de trabalho para estar presente nas audiências públicas, viajando várias vezes para Brasília e outros estados, para argumentar, criticar e debater todo o projeto da PLP 12 de 2024, que somos totalmente contra, pois veio para prejudicar o motorista. Eu, por exemplo, como influenciador, estive duas vezes em Brasília, uma vez em Curitiba, e arrumei uma dívida enorme. Não consegui viajar mais do que isso e ainda tive que trabalhar para pagar essas dívidas. Não é só o gasto, mas também a falta de verba que deixo de adquirir no momento da viagem. Como influenciador somente, eu não consigo ser esse porta-voz.

Além disso, por não estar presente na política, muitas vezes eu não tinha autoridade ou não conseguia oportunidades para falar e debater sobre o projeto, já que não era um político ou um representante da classe política, apenas uma pessoa fazendo volume. O Marlon nos ajudou muito tendo essa representação política, mas não foi suficiente. Veja bem, com um vereador presente dessa forma em âmbito nacional, na regulamentação, não tivemos força suficiente. Quando elegermos mais vereadores, teremos uma representatividade em grande escala dos motoristas de aplicativo. Acredito que isso só será viável através de pessoas que têm popularidade para conseguir votos, desde que o motorista veja que essa pessoa realmente representa a classe, não basta ser influenciador. Tem que ser uma pessoa disposta, que luta pela causa, que entende o que está acontecendo e corre atrás. Essa sim tem representatividade e popularidade.

Eu, como influenciador, tenho a disposição e o prazer de estar imerso nesse meio que é do nosso interesse, porque penso na vida do motorista de aplicativo, assim como sou um motorista de aplicativo. Quero essas melhorias e estou disposto a lutar. Mas eu não tinha condições financeiras, não tinha condições de parar de trabalhar, e não tinha condição política para conseguir debater muitas vezes que eu estava preparado, mas não me deram a voz.

A crítica de que o influenciador só quer se beneficiar vem de pessoas que não pensam no que a classe precisa, mas sim no mal do outro. Diria que são pessoas mais preocupadas em atacar alguém do que em beneficiar a classe. Elas pensam: “Eu não quero que ele seja vereador, porque não quero que aquele cara deixe de ser motorista para ser vereador. Quero que ele se lasque.” Essas pessoas prejudicam nossa classe. Essa crítica não só não ajuda, mas também prejudica, pois não conseguem enxergar a necessidade geral.

Hoje, a maioria já entende isso e não precisa mais rebater tanto essa crítica. Eu era uma pessoa que não tinha interesse em entrar na política, mas hoje vejo a necessidade e acredito que poderia ser esse porta-voz. Quando alguém me questiona, eu pergunto: “Você acha que não precisamos de representação política? Olha o que estamos passando. Quem você acha que conseguiria votos suficientes para se eleger?” Normalmente, combato essas críticas mostrando a necessidade da popularidade para se eleger. Explico que não tive condições de viajar e que não é fácil organizar manifestações. A maioria das manifestações não dá resultado. Nosso real poder está no âmbito político, onde podemos combater de igual para igual, com poder aquisitivo para estar presente e discutir tudo que é necessário.

Como pretende usar um possível cargo de vereador para modificar a regulamentação federal?

Talvez não seja do conhecimento de todos, mas nós, influenciadores que somos pré-candidatos a vereador, temos um projeto em conjunto. Estamos alinhados a nível nacional e pretendemos criar um projeto chamado Frente Parlamentar dos Vereadores Motoristas de Aplicativo. O intuito dessa Frente Parlamentar, como estamos alinhados e próximos, lutando pela mesma causa, é fazer com que cada projeto de cada vereador se expanda por todo o Brasil. Se um vereador em Curitiba fizer um bom projeto ou uma boa regulamentação, seja municipal ou em outra esfera, tentaremos implementar e trazer isso para outras regiões.

Como isso pode nos ajudar na regulamentação federal? Pensa bem, com o apoio de todos os vereadores de várias cidades, sempre teremos alguém representando o motorista de aplicativo nos debates sobre regulamentação federal. Já é muito difícil termos voz ativa, mas com essa frente conseguiremos participar de todos os debates, mudando aos poucos a regulamentação, derrubando medidas emergenciais e modificando a regulamentação para construir um projeto melhor. Mesmo com a pouca influência que temos hoje no âmbito político, conseguimos fazer muito através do debate. Imagina se elegermos vereadores em várias cidades do país e tivermos força política. Isso não se trata apenas de ter verba para debater, mas também de ter apoio político de partidos, coligações e pessoas que nos ajudam. Com alianças com outros vereadores, políticos, deputados estaduais, federais e até senadores, conseguiremos muito mais.

Para combater a regulamentação federal utilizando o cargo de vereador, diria que o meio político em que nos envolvemos nos permite fazer alianças e obter maior apoio. Com a autoridade de um cargo político, isso facilita muito. Além disso, a aliança em conjunto com todos os vereadores nos dará força para argumentar e debater no âmbito nacional, estando presentes em Brasília, representando os motoristas de aplicativo. Dessa forma, mesmo com um vereador atuando em âmbito nacional, fazendo alianças e participando dos debates, conseguimos modificar ou melhorar a regulamentação federal, ou até derrubá-la para criar uma nova, trazendo dignidade e qualidade no trabalho do motorista.

A regulamentação federal atual é péssima para o motorista, mas podemos demonstrar para o governo que existem outras maneiras de fazer algo bom para o motorista e para o governo, onde todos saem ganhando.

Pesquisar