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“Faço no máximo R$5.000/mês, quem diz que faz mais é mentiroso”: como é ser motorista de app em Sorocaba

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Motorista
Sorocaba SP
Sorocaba SP


Andson trabalha seis dias por semana, das 6h à meia-noite, com pausa de 1 hora para almoço e faz entre 4 a 5 mil reais por mês.

Contexto: o texto a seguir reflete a realidade do motorista entrevistado e não de todos os profissionais da cidade mencionada.

A equipe do 55 conversou com Andson Pereira Santiago, motorista de aplicativo em Sorocaba que trabalha há quatro anos neste setor. Ele compartilha conosco sua jornada desde o início da pandemia, quando a incerteza dos tempos levou-o a reinventar sua carreira profissional, passando da cafeteria para o volante de seu próprio veículo como motorista de aplicativo.

Nesta entrevista, Andson nos dá uma visão dos apps mais populares na região, suas preferências pessoais e a dinâmica com os passageiros, destacando tanto as gratificações quanto os obstáculos enfrentados, especialmente no que diz respeito à educação das crianças e ao respeito pelo espaço compartilhado.

A conversa se aprofunda nas realidades financeiras da profissão, com Andson revelando a renda média de um motorista em Sorocaba e como ele consegue sustentar-se trabalhando seis dias por semana. Ele aborda as dificuldades financeiras, as despesas operacionais e a questão do aluguel de veículos, oferecendo um olhar pessoal sobre o que significa ser um motorista de aplicativo na cidade.

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Poderia se apresentar e nos contar há quanto tempo você trabalha como motorista de aplicativo?

Meu nome é Andson, eu trabalho já tem quatro anos como motorista de aplicativo em Sorocaba. 

O que o motivou a começar a trabalhar como motorista de aplicativo?

Quando a pandemia começou, eu estava trabalhando em uma cafeteria. Com o advento da situação e já possuindo habilitação, decidi experimentar trabalhar como motorista de aplicativo. Essa mudança acabou sendo agradável, principalmente pela liberdade de ser autônomo e não ter um chefe diretamente, o que considerei um aspecto positivo.

Quais aplicativos rodam por aí? E qual é o preferido dos motoristas?

Na região onde atuo, os aplicativos mais utilizados são Uber e 99, embora existam outros, como a inDrive, que pessoalmente não prefiro. Quando se trata dos passageiros, percebo que os da Uber tendem a ter um perfil um pouco mais elevado. Isso não significa que não existam exceções, pois há passageiros desafiadores em qualquer serviço. Em contrapartida, apesar da 99 oferecer uma remuneração melhor, seu público geralmente vem de áreas mais periféricas, o que frequentemente me leva a atender em comunidades e locais mais carentes.

Qual é a principal reclamação dos motoristas?

Em Sorocaba, percebo que há várias reclamações comuns, mas, em minha experiência, o principal problema são passageiros que evitam pagar a corrida ou que tratam o carro com descaso, como fechar a porta com força. Contudo, a situação mais desafiadora envolve crianças. Atualmente, muitos pais parecem não impor limites ou educação adequada aos seus filhos. Isso se manifesta quando entram no meu carro, colocam os pés nos bancos e os pais, ao invés de corrigi-los, ignoram o comportamento, distraídos com seus celulares. E se tento intervir, arrisco receber uma avaliação negativa. Na minha visão, o cerne do problema não são as crianças, mas sim a falta de orientação por parte dos pais, que não ensinam o respeito pelo espaço alheio e pela limpeza, essenciais quando se compartilha um veículo. Infelizmente, não temos como prever ou escolher se vamos transportar crianças, e embora o verdadeiro problema resida na educação que elas recebem, somos impotentes para mudar essa realidade. É uma questão delicada: embora ter filhos seja uma decisão pessoal, oferecer a eles uma educação de qualidade deveria ser prioritário.

Quanto ganha, em média, um motorista na cidade?

Em Sorocaba, a renda média dos motoristas de aplicativo varia bastante, mas, trabalhando exclusivamente nesse ramo, consigo garantir meu sustento. Com um regime de trabalho intenso, cerca de seis vezes por semana, o dia começa cedo, às 6 horas da manhã, com uma pausa de 1 hora para almoço e descanso às 12:00, antes de retomar as corridas até às 23 horas ou meia-noite. Esse esforço permite tirar, em média, de quatro a cinco mil reais por mês. Vale ressaltar que ganhar mais do que isso é improvável, e quem afirma o contrário provavelmente não está sendo honesto.

Embora eu folgue uma vez por semana, há quem opte por trabalhar sem pausas, potencialmente aumentando um pouco a renda, mas com o risco de prejudicar a saúde. O ganho mensal, entre quatro e cinco mil, é o que sobra após cobrir as despesas operacionais, como combustível e manutenção. É importante considerar que esse valor é para quem possui carro financiado, como é meu caso.

Para quem trabalha com carro alugado, a situação é diferente. O custo do aluguel em Sorocaba varia de seiscentos a setecentos reais por semana, podendo chegar a três mil reais em meses com cinco semanas. Assim, a renda líquida de quem aluga o carro dificilmente supera dois mil a dois mil e quinhentos reais. Portanto, enquanto no final do ano, especialmente em dezembro, é possível aumentar um pouco os ganhos, o rendimento mensal geralmente fica nessa faixa de quatro a cinco mil reais.

Que tipo de corridas os motoristas da cidade odeiam? E quais eles mais gostam?

De todas as experiências que tive como motorista de aplicativo, as corridas com crianças são as que mais me desafiam, principalmente porque nunca tive uma interação positiva nesse contexto. As crianças podem tornar a viagem complicada, sujando o carro, por exemplo. Outro ponto é quando passageiros, aparentemente estão famintos ao entrar no carro, decidem abrir alimentos com odores fortes, como queijo, e comem durante uma corrida curta, que raramente excede 15 minutos, já que atuo em uma cidade pequena onde o tempo máximo com um passageiro dificilmente passa de meia hora.

Entretanto, o maior problema para mim são mesmo as crianças. Recordo uma situação particularmente estressante com um menino de cerca de quatro ou cinco anos, que entrou no carro com sua mãe, desejando estar com a avó e começando a gritar, o que já me deixou bastante abalado considerando que era fim de tarde e eu já estava cansado. O comportamento do menino escalou para ele tentar colocar os pés para fora da janela, enquanto sua mãe, de uma maneira negligente, não tomava providências eficazes. Em um ponto, o menino até abriu a porta do carro em movimento, levando-me a decidir encerrar a corrida por questões de segurança.

Essas situações me fazem refletir sobre a responsabilidade dos pais, que, a meu ver, muitas vezes falham em preparar suas crianças para comportamentos adequados em espaços compartilhados, como um veículo. Apesar de entender que a criança naturalmente quer brincar e se expressar, é importante ensinar sobre o momento e o lugar certos para fazer isso. Minha frustração se volta mais para a falta de orientação dos pais do que para as crianças em si. Assim, diante de corridas com crianças, me vejo buscando paciência extra, ciente de que os desafios encontrados são mais um reflexo da educação que recebem em casa.

Em Sorocaba, os melhores horários para dirigir, ao meu ver, são nas primeiras horas da manhã, das 6h às 10h, e no final da tarde, das 16h às 21h ou 22h. Como em muitas cidades, enfrentamos problemas com áreas periféricas onde o tráfico de drogas é mais intenso, além de vias em condições ruins, com buracos e falta de asfalto, o que dificulta a direção. Apesar desses desafios, Sorocaba é uma cidade agradável para se trabalhar em qualquer lugar, não sendo perfeita, mas boa no geral.

O que realmente valorizo é quando os passageiros entram no carro com educação e respeito. Prefiro aqueles que, se desejam conversar, fazem isso de maneira cordial; se preferem o silêncio, isso também é respeitado. O comportamento educado, como não bater a porta com força, cumprimentar com um simples “bom dia” e tratar o veículo e o motorista com respeito, faz toda a diferença. Infelizmente, isso parece cada vez mais raro, mas ainda existem passageiros que mantêm essas boas maneiras. A interação educada é o que mais aprecio, valorizando aqueles momentos de gentileza e consideração, que tornam o dia de trabalho mais agradável.

Em geral, como é a relação com os passageiros na cidade?

De modo geral, minha relação com os passageiros é positiva, apesar de alguns desafios ocasionais. Por exemplo, há momentos em que não estou transportando crianças, o que pode evitar certas situações complicadas como desordem no carro ou o desejo de crianças de se movimentarem livremente pelo veículo para ficarem mais próximas de um familiar. Outro aspecto é lidar com passageiros que querem entrar no carro consumindo alimentos ou bebidas, correndo o risco de sujá-lo. Apesar desses contratempos, a experiência em geral é boa. Existem dias excelentes, em que todos os passageiros são agradáveis e eu volto para casa verdadeiramente feliz. No entanto, há também dias difíceis, em que apenas três ou quatro passageiros problemáticos podem impactar negativamente o meu ânimo. No fim das contas, o trabalho é marcado por altos e baixos, com dias bons e ruins se alternando.

Já trabalhou em outras cidades? Qual a diferença que sentiu?

Não, na verdade, eu tenho me dedicado exclusivamente ao trabalho em Sorocaba nos últimos quatro anos. Considerando que resido em Sorocaba, não me parece vantajoso deslocar-me até São Paulo, arcar com os custos e permanecer na cidade para cumprir essa exigência. Portanto, decidi focar minhas atividades somente aqui em Sorocaba.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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