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Motorista Uber: Entrevista com Fernando Floripa

Como muitos brasileiros, Fernando foi pego pela crise que abateu o país. Para agravar a situação, ele estava à espera do seu terceiro filho. Foi quando passou a trabalhar como motorista Uber. E a partir daí tudo mudou.

O catarinense praticamente deixou seu sobrenome de lado para se chamar Fernando Uber Floripa. Uber, do aplicativo que passou a trabalhar para completar renda e Floripa, da sua cidade, e como é chamado carinhosamente.

Durante um treinamento da empresa percebeu que poderia fazer melhor que os instrutores da Uber, foi quando decidiu criar seu canal no YouTube, que hoje já conta com mais de 80 mil inscritos, com projeção de chegar logo aos 100 mil.

O Floripa virou um importante case de um motorista de aplicativo que não se acomodou e se tornou um empreendedor, dando dicas para milhares de motoristas nas suas redes sociais.

A vida antes da Uber

Eu já fiz de tudo um pouco nessa vida. Sou formado em análise de sistema, administração e tenho pós em gestão de negócio. Já trabalhei com comunicação e administração. Também trabalhei em banco, com consignado, com consórcio, fiz frente. Eu resolvi montar um negócio de carro, mas acabou não dando certo e quebrei. Fiz de tudo um pouco.

A chegada no mercado de aplicativo de transporte

O trabalho de motorista de aplicativo surgiu por conta da gravidez da minha esposa. Era o meu terceiro filho e a coisa apertou. Percebi que precisava arrumar mais grana e coincidiu com a chegada da Uber aqui em Florianópolis. Até então eu nunca tinha ouvido falar. Minha esposa já tinha comentado, mas não dei bola. Um dia ela falou que estava chegando na cidade e me explicou o que era. Percebi que talvez ali estava a saída dos meus problemas. Iniciei no final de 2016 e não parei mais, tô aí até hoje.

O sucesso dos YoutUBERs

O sucesso dos canais é baseado na falta de capacitação dos apps. Eles não dão nenhuma capacitação para o motorista. Se você quer virar motorista, basta você ir lá se cadastrar, baixar o aplicativo e enviar as documentações. Eles te mandam assistir dois ou três vídeos para ensinar a pilotar o aplicativo, de uma forma bem macro e dali para frente você precisa se virar. Não tem uma noção mais aprofundada, dicas e assim como qualquer profissão, não é só ligar o aplicativo e trabalhar, requer conhecimento. Você precisa estudar e aprender como tirar ao máximo daquilo. Esse tipo de situação é o que leva muitas pessoas a saírem prematuramente, porque caem naquela história de dinheiro fácil e que basta só ligar o aplicativo e ir lá trabalhar. Não é assim. Requer um estudo, requer uma atenção.

Empreendedorismo

Brasileiro não tem noção financeira, as escolas não preparam as crianças para lidar com dinheiro e administrar seus ganhos. Algumas pessoas conseguem desenvolver isso ao longo da vida, mas a grande maioria não. E as pessoas acabam na hora achando que vão virar motorista e ganhar dinheiro fácil. O motorista precisa fazer a gestão do negócio, precisa fazer gestão das despesas e ter estratégias para ganhar mais. É o que eu tenho martelado na tecla com o pessoal: o motorista precisa pensar fora da caixa, além do aplicativo. Não dá para ficar dependente só do aplicativo, vamos abrir a cabeça, pensar em outras formas de ganhar dinheiro com o que você tem.

O Youtube foi uma forma para mim, para o Marlon e para o Thomaz. O Marlon começou com o objetivo de vender os produtos dele, o Thomaz foi no embalo e quando eu comecei a minha ideia era ajudar as pessoas. Eu tentei ir duas vezes no treinamento da Uber para ver se era diferente, mas era a mesma coisa. Eu com um mês, ensinava melhor que os instrutores. As pessoas começaram a perguntar e eles gaguejavam. Eu vi que ensinava melhor e então decidi começar com os vídeos. Quando comecei nem sabia que dava para ganhar dinheiro. Os vídeos iniciais eram ruins, gravava de qualquer jeito, até que eu vi que aquilo era uma oportunidade, então eu comecei a trabalhar para fazer o canal crescer e depois tentar fazer aquilo virar um negócio. Fui estudando, fui aprendendo como funcionava o YouTube e aqui estou hoje. O canal teve uma alavancagem muito grande. Hoje inclusive estava conversando com um amigo e lembrei que há um ano e três meses eu estava comemorando 5 mil inscritos e hoje estou com 83 mil. A projeção é que em dois meses eu chegue a 100 mil. E não é um trabalho que eu fiz um vídeo e explodiu, como é o caso do Marlon, o canal dele vinha crescendo e ele fez o vídeo da Ferrari, do dia para noite ele ganhou 40 mil inscritos. Meu canal vem crescendo aos poucos, de forma orgânica, um trabalho contínuo, de formiguinha. A cada dia vou pesquisando, entendendo melhor minha audiência e como melhorar.

Evento do dia do motorista

O ápice disso para mim foi a palestra em São Paulo quando eu recebi o convite do Marlon para palestrar na Mooca. Eu fui receoso porque uma coisa é a câmera, outra é ir para um palco com 800 pessoas te olhando e você ter que falar com eles, interagir, olho no olho. É totalmente diferente, eu me perguntava como ia ser, como eles iriam me trataram, se iam me reconhecer. E foi um assunto que até então era novo porque eu nunca tinha falado de gestão de despesas para motoristas de aplicativo. É algo que eu estou desenvolvendo mais pra frente. Mas foi muito legal, ir lá conversar e o final muita gente veio me cumprimentar, me abraçar, beijar. Teve uma senhora chorando e falando que eu ajudei muito. Pensei como as pessoas estão perdidas. Elas querem ingressar no negócio, mas não sabem por onde começar.  E aquilo que parece ser muito fácil, as pessoas rapidamente percebem que não é. Quem se desenvolve rápido acaba indo pra frente, quem não consegue, acaba desistindo.

Possibilidade para os motoristas Uber empreenderem

Tenho certeza que é possível. Tenho cases que estou coletando para trazer. Tudo começa com atos simples, como a esposa que faz bolinho e ele vende no carro. Outro vende produtos de beleza para os passageiros. Outros passaram a vender anúncio no encosto de cadeira. Teve gente que viu que o combustível estava caro e as coisas estavam ficando mais desafiadoras.

Empresas como hotéis, hostels, agências de viagens e eventos, estão dispostas a pagar por um serviço diferenciado. Gente que não quer arriscar pegar um carro qualquer, um motorista aleatório no aplicativo. Paga mais para o motorista sair de onde estiver para buscar a pessoa porque sabe quem ela é, sabe que ela é boa, tem um serviço de qualidade, um carro que não vai deixar na mão. Por exemplo, em um evento com uma autoridade, não dá para chamar qualquer um. Você pode abrir um MEI ou até mesmo como pessoa física, ser contratado por essas pessoas para prestar esse tipo de serviço. Existem formas de empreender, basta o motorista pensar fora da caixa.

Desafios

O primeiro é a pessoas mudar seu jeito de pensar. Eu estava lendo um artigo há um tempo que dizia que as pessoas mais inteligentes nos EUA estão empreendendo, criando, inovando e desenvolvendo tecnologia. No Brasil estão estudando para concurso público. O brasileiro é condicionado para ser funcionário, desde criança quando você nasce, seu pai e sua mãe torcem para você crescer e virar um funcionário público, pois terá estabilidade. Depois você viaja, vai ganhar bem e fazer outra coisa. É uma visão distorcida. A primeira coisa é começar a pensar como empreendedor e não como funcionário, sair do conformismo e da zona de conforto. Abrir os olhos para buscar outras formas de ganhar dinheiro, seja dirigindo ou não. Oportunidade tem para todos, o que difere quem conseguiu é a atitude. Vou lá, vou fazer e quebrar a cara, mas vou fazer de novo, até acertar. Só que as pessoas têm medo de investir. Preferem ganhar pouco e não se arriscar do que arriscar e acabar ganhando muito. É por isso que o mercado está cheio de coach, porque o brasileiro precisa de alguém que diga: “Amigo, vamos lá, acorda”.  Muita gente que entra no transporte por aplicativo também acaba se acomodando. O cara entra e começa a trabalhar, ganha o dinheiro e acha que está bom. Quando a coisa está ruim, ele transfere a culpa, para o aplicativo, governo. Não, a culpa é minha que não estou fazendo nada diferente para mudar. Já diz a frase: não adianta eu fazer a mesma coisa sempre e esperar um resultado diferente.

CLT vs Empreender

Muita gente pergunta se vale a pena largar o emprego para virar motorista. Direito é engodo, é enganação para o brasileiro. FGTS é só um bolão que o governo vai arrecadando nas nossas costas. Férias, esse direito é dinheiro que eu deixo de ganhar que o empregador não apaga e o governo não dá para mim. Igual o INSS, sou obrigado a pagar todo o mês para um fundo de pensão que eu sequer acredito que vou utilizar um dia. Porque a nossa geração, da faixa dos 30 a 40 anos se aposentar daqui a 20 anos é um sonho. A previdência vai quebrar antes, hoje ela já não dá conta de pagar quem está lá, imagina depois. Esses dias eu estava lendo um artigo que dizia que a população brasileira está vivendo mais. Quem vai sustentar esse sistema? Por que governo não me dá a opção de ficar com o dinheiro do INSS e administrar do jeito que eu achar melhor? O FGTS é a mesma coisa, tudo dinheiro que eles vão tirando. As pessoas ficam pensando que tem direitos, tem férias, mas isso é mentalidade de empregado.

Não colocar os ovos em uma cesta só

O transporte por aplicativo é como qualquer emprego, você está ali hoje, amanhã você não sabe. Como qualquer trabalho na vida, seu empregador pode chegar hoje para ti, bater nas suas costas e falar: “Crise e vou ter que cortar despesas”. Assim como outras empresas fizeram nos últimos anos. O cara estava lá trabalhando, achando que estava tudo bem e foi demitido. No transporte por aplicativo você também corre esse risco. Você pode trabalhar ali todos os dias e por algum motivo que infelizmente a gente nunca sabe qual é, o aplicativo pode te bloquear. Seja por uma falha ou deu azar de pegar um passageiro ruim. Existem diversas situações que podem levar a exclusão do motorista. São situações raras, não é comum, não acontece com todos, mas com um pequeno grupo. Então apostar tudo que você tem em uma única atividade, como eu vejo gente que compra casa, comprar carro, financia isso, financia aquilo, vive só disso e se amanhã faltar? O que acontece? Isso também para quem trabalha. Hoje em dia você precisa diversificar sua fonte de renda. Hoje você pode está empregado e amanhã não sabe, precisa de um plano B.

Dica para os motoristas que querem empreender

O primeiro passo é conhecimento. Você precisa pensar em coisas que gostaria de fazer, e estudar. Se você colocar no Google: fontes alternativas de renda, tem um monte. O trabalho em casa, até mesmo ser youtuber é uma fonte de renda. Sim, está cada dia mais difícil, tem muita gente. Mas se você achar um nicho dentro do Youtube, pensar isso aqui eu gosto e é legal. Começa a trabalhar nisso, comece a gravar, fazer vídeos. Em uma dessas, está aí uma oportunidade. Ou então, começa a pensar em algo que você é bom para fazer.

Esse dia eu estava conversando com o Thiago, motorista oficial. Ele me mandou umas vinhetas e eu falei: “Cara, você é bom pra caramba nisso, vai ser freelancer de edição de vídeo, várias empresas precisando”. Existem muitos sites de edição de vídeo em que eles juntam oferta e demanda, vai tentar. Quer fazer algo diferente? Veja algo que você é bom, de repente pode ter ajudar a achar alguma oportunidade ou vá estudar, procurar no google. É o que eu digo, oportunidade tem para todos, a diferença é ter atitude ou não ter, vou correr atrás ou não vou. Você quer fazer acontecer? É só correr atrás que eu tenho certeza que você consegue.

Para seguir o Floripa nas redes sociais

YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCAwc4QgjwBmUFFtxJPnOefw

Instagram: @fernandouberfloripa

Vinícius Guahy
Vinícius Guahy
Vinícius Guahy é jornalista formado pela Universidade Federal Fluminense e coordenador de conteúdo do 55content.
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