Pré-candidato a vereador de Guarulhos dá detalhes, em entrevista exclusiva, de sua candidatura.
Eduardo Lima, mais conhecido como Duda pelos motoristas de aplicativo, é presidente da Associação de Motoristas de Aplicativo de São Paulo (Amasp) e lançou a sua campanha para vereador na cidade de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, e conversou com o 55Content sobre suas propostas de governo.
Duda que atua como motorista há 8 anos, cansado da rotina como motorista de ônibus, iniciou suas atividades nos apps, pensando em uma possibilidade de melhoria nas condições trabalhistas e financeiras: “Motorista de ônibus não tem final de semana”.
Cansado das ordens e do dia a dia dos ônibus, o candidato iniciou a jornada com os aplicativos de transporte, e em seu primeiro ano de corridas, fundou a Amasp, na qual, afirma que atuou em várias regulamentações municipais, inclusive na regulamentação federal, que era a PL 5587 e se transformou na PL 28, sendo hoje, a atual Lei 13.640, que regulamenta o sistema de trabalho dos motoristas de app.
“Atuei na PL 28 durante dois anos, 2017 e 2018, além de dezenas de regulamentações municipais dentro e fora do estado de São Paulo”, comenta Duda. Ele ainda explica que há muito a ser feito, mas que a classe só vai conseguir superar esses obstáculos, se conseguir aumentar o poder de briga: ”Isso também me levou a me candidatar”.
Neste sábado (20), o candidato realizará o seu evento de convenção partidária, nomeado como: “A mudança é agora, pelo PL, PMB E DC, além do lançamento da sua pré candidatura. O encontro será na cidade de Guarulhos.
Para entendermos melhor suas projeções para o cargo de vereador em Guarulhos, Duda conversou com a nossa equipe e deu mais detalhes de sua candidatura.
Como surgiu o convite para entrar na política?
Foi devido à necessidade da classe, que está totalmente desamparada politicamente falando. Toda vez que a política tenta se envolver nos assuntos de interesse da classe dos motoristas e aplicativos, sempre vem para prejudicar e nunca para melhorar.
Então, devido a essa necessidade, eu tive a ideia de colocar meu nome à disposição da classe para poder trabalhar em favor dos motoristas e aplicativos e defender a classe em qualquer âmbito político que possa vir a querer prejudicar.
E o que pesou para aceitar ser pré-candidato a vereador?
O que pesou é o sofrimento da classe. Eu, por ser motorista de aplicativo, além de presidente de uma associação, vejo esses trabalhadores sempre no fim da corda, sempre massacrados, sempre prejudicados. Tanto pelas empresas, pelos governos, e hoje por intermédios e sindicalistas. Isso pesou bastante na minha decisão.
Com um mandato em mãos, você tem uma força maior, na qual você é mais ouvido. Tanto o poder político quanto as empresas passam a te ouvir melhor. Você tem mais respeito. Com isso, a sua palavra e a sua luta têm mais peso. Você consegue entregar muito mais do que eu, como presidente de uma associação, atualmente.
Quais são suas principais propostas, caso eleito vereador?
Bom, a minha bandeira é a classe dos motoristas de aplicativos. Então, a minha proposta principal são várias. Até porque a cidade de Guarulhos está bem judiada, bem abandonada.
Partindo pela classe que eu represento, que são os motoristas de aplicativos, a gente vai fazer trabalhos simultâneos assim que entrar. O primeiro deles é a organização do trânsito. É um trânsito caótico na cidade de Guarulhos. Vamos fazer um levantamento, um estudo aprofundado para identificar os motivos que geram esse trânsito caótico diariamente na cidade.
O segundo ponto é organizar o aeroporto de Guarulhos. Por mais que seja uma administração privada, eu pretendo fazer um trabalho de políticas públicas, público-privado, para ajudar o aeroporto de Guarulhos a ter uma organização melhor no desembarque e no embarque.
Também faremos um trabalho junto com as empresas que são detentoras dos bolsões no aeroporto para trazer mais dignidade para os motoristas. Hoje, os motoristas ficam parados, como agora, por exemplo, em um sol escaldante, sem uma cobertura. Por ter tido experiência com o bolsão na área de Viracopos, eu sei como é importante oferecer sombra e proteção aos motoristas. Há várias outras coisas que os motoristas reclamam desses bolsões, e vamos trabalhar com grande força para melhorar as condições para os motoristas no aeroporto.
O terceiro ponto é fazer um trabalho bem pesado em relação à malha viária da cidade. A pavimentação de Guarulhos está totalmente precária. O atual prefeito iniciou o recapeamento de várias ruas e avenidas, mas ainda não concluiu nem 15% do problema. Vou fazer um trabalho intenso nesse sentido.
Outro ponto é a reorganização dos itinerários dos ônibus na cidade. Fui motorista de ônibus em Guarulhos e vi a precariedade de perto. Vamos trabalhar em conjunto para melhorar isso também.
Na área da saúde, a cidade está literalmente abandonada. E dinheiro tem. Então, vamos trabalhar pesado para que os moradores de Guarulhos sejam tratados com dignidade nas unidades de saúde. Muitos procuram unidades de saúde em São Paulo devido à falta de remédios, médicos, e as filas quilométricas. Vamos entrar para resolver isso.
Em relação à segurança, pretendo fazer um trabalho conjunto com a GCM, motoristas de aplicativos e taxistas. Vamos fazer um levantamento para verificar a possibilidade de trabalhar com câmeras acopladas aos carros, em convênio com a GCM, para monitoramento da cidade. A GCM pode detectar qualquer problema que o motorista possa estar enfrentando, além de ajudar na recuperação de veículos roubados e outras situações de crime na cidade.
Na educação, pretendo trazer tecnologia para as escolas. Tudo isso que estou falando será um trabalho em conjunto com a prefeitura. Temos um candidato a prefeito em Guarulhos, altamente alinhado com a classe dos motoristas. Atualmente, ele é vereador e em 2020 eu o ajudei e apoiei a se eleger. Agora, estamos no apoio mútuo; ele está me apoiando e eu estou apoiando ele. O nome dele é Lucas Sanches, e ele está bem pontuado nas pesquisas. Se Lucas Sanches for eleito prefeito de Guarulhos, temos pressa em colocar todo esse trabalho em prática.
São tantas coisas que temos que fazer, que nem são apenas propostas, mas necessidades. Se formos falar de todas, teríamos que fazer um filme. Mas esses são os principais pontos.
Por qual partido você irá concorrer e como definiria seu posicionamento político?
O meu posicionamento político é, eu sou da direita. Só que eu sou uma pessoa da direita com a mente aberta. Tanto é que na luta pela regulamentação da PLP 12, um grande aliado nessa luta para poder fazer a retirada da urgência desse projeto de lei foi um alinhamento com o deputado federal Glauber Braga, do PSOL, do Rio de Janeiro. Então, para você ver, ele é da esquerda e nós tivemos um alinhamento. Eu tenho um carinho muito grande por ele, por ele ter atendido às nossas demandas e lutado pela classe dos motoristas.
Então, eu me considero da direita, porém, a gente está pelo povo, a gente está entrando pelo povo. Então, os projetos que têm finalidade positiva, os projetos que são bons para a população, a gente vai trabalhar, vai apoiar também, independente se seja direita ou esquerda, eu estou lá pelo povo. E o partido ao qual pertenço hoje é o Partido da Mulher Brasileira (PMB), que é um partido de centro-direita.
Atualmente, apenas o vereador Marlon Luz está eleito com a bandeira da representação do motoristas de aplicativo. Nas últimas eleições, outros motoristas de app tentaram e não conseguiram. O que faz você acreditar que será diferente em 2024?
Bom, o Marlon, especificamente, não é o único candidato eleito pela classe. Tem outras pessoas que também foram eleitas em todo o Brasil. O Marlon é o mais mergulhado nas questões da classe dos motoristas de aplicativos, porém, temos um grande exemplo também do vereador Ítalo Moreira, eleito em 2020, no seu primeiro mandato na cidade de Sorocaba. Ele defendeu muito a classe e, com o apoio dele, conseguimos derrubar duas regulamentações na cidade que trariam problemas para os motoristas. Ele também ajudou na criação da Associação da Cidade de Sorocaba, a ASMAP. Em 2020, nós o apoiamos, e muitos motoristas da cidade votaram nele e deram apoio. Se você pesquisar o perfil dele, verá que ele é bastante atuante pela classe dos motoristas de aplicativos.
Mais dois exemplos que posso citar são o Átila, da cidade de Salvador, na Bahia, que entrou por intermédio dos motoristas de aplicativos, e o Renan, da cidade de São José dos Campos. Porém, segundo informações dos motoristas nesses municípios, Átila e Renan não atuaram em nada em prol da classe. Então, temos exemplos a seguir: exemplos de produção e exemplos de omissão. Com isso, adquirimos experiência para saber o que devemos fazer: trabalhar e não negligenciar a classe que nos elegeu.
Sobre o Marlon, também o apoiei com grande força para entrar. Ele está na luta pelos motoristas, mas a classe na cidade de São Paulo esperava mais. Ele está vindo para a reeleição. Eleições são assim, e o que me faz acreditar que desta vez podemos emplacar é que, a cada ano que passa, a classe sente mais e mais dificuldade. Se a classe não apoiar os nossos candidatos, não só o Duda, mas todos os candidatos em todo o Brasil, a tendência é sempre piorar.
Se conseguirmos nos eleger, a classe ganha uma corrente muito forte, uma energia política muito forte. Sabemos que tudo acontece por intermédio da política. A classe dos motoristas de aplicativos, devido aos últimos acontecimentos, tanto da PLP 12 quanto da PLP 68, que é a reforma tributária, está começando a olhar mais para o lado da política.
O motorista está amadurecendo politicamente e começou a entender a necessidade de ter pessoas eleitas que conhecem suas necessidades. Não pessoas que simplesmente chegam e usam a classe, dizendo que vão defender caso sejam eleitas.
A nossa diferença é que já temos uma história, desde 2016, defendendo a classe dos motoristas de aplicativos no âmbito político e parlamentar. Temos muita experiência, sabemos o que precisamos fazer, conhecemos todas as necessidades e temos grande apetite e vontade de mostrar que a política pode ser diferente do que o brasileiro está acostumado.
Quando o candidato é eleito, ele não deve aparecer só no último ano, batendo nas costas e dizendo “opa, tudo bem, apareci”. Vamos trabalhar desde o início, desde a hora que sentarmos na cadeira, já vamos começar a trabalhar. Posso afirmar que até antes mesmo de sentar na cadeira, já estaremos trabalhando, já estaremos atuando, porque o motorista está sofrendo e não pode esperar mais.
Quando influenciadores de uma determinada categoria decidem entrar para política, é comum haver críticas que estaria se aproveitando da influência para fins próprios. Como você responderia a essas críticas?
Bom, o próprio vereador Marlon Luz era um influenciador, né? Então, veja a atuação dele. Através do gabinete dele, ele tem condições de estar em Brasília defendendo a classe. Diferentemente de mim, que não tenho todas essas condições, muitas vezes em que precisávamos estar em Brasília, eu não tive como ir.
Então, por conta disso, a história pode tomar um rumo diferente, porque nós somos defensores da classe, e se não houver defensores da classe em Brasília, pode surgir uma regulamentação que traga problemas para os motoristas de aplicativos. Marlon, como influenciador e vereador eleito, teve essas condições por intermédio do seu mandato e gabinete. Houve um mês em que ele foi 11 vezes para Brasília, e a classe ganhou com isso. Porém, uma andorinha só não faz verão, e sabemos que isso não é suficiente para termos bons resultados.
Por isso, pretendemos eleger o máximo possível de candidatos para fazer um trabalho de defesa e também implementar projetos em prol da classe em âmbito federal e estadual. Tendo maior abertura, conseguimos produzir mais.
Como eu responderia a essas críticas, resumidamente, é que muitas dessas pessoas nem são motoristas mais, ou nunca foram. Elas veem que alguém ganhou notoriedade e não entendem que, para alcançar um objetivo, é necessário se alavancar de alguma maneira. Não tem como uma pessoa anônima, no anonimato, alcançar o objetivo. Os influenciadores hoje na nossa classe são os que mais têm chances de emplacar porque atingem um número de pessoas que conseguem alcançar o objetivo.
Então, para mim, essas pessoas que criticam querem ver o mal da classe. Elas não falam isso em benefício da classe, mas para tirar o poder que a classe poderia ter. Eu considero essas pessoas como um câncer para a classe dos motoristas de aplicativos. Elas vão lá, criticam os influenciadores, fazem a cabeça dos motoristas, não emplacamos ninguém, e a classe continua sofrendo cada vez mais.
Como pretende usar um possível cargo de vereador para modificar a regulamentação federal?
Nós vamos fazer um trabalho de vereança na cidade de Guarulhos, porém sempre com os olhos em Brasília. Toda vez que precisar estar em Brasília, estaremos lá. Além disso, faremos articulações com os nossos mandatários, tanto do meu partido, o PMB, quanto do PL e do DC, pois todos eles trabalham sempre em conjunto.
Vamos ter uma abertura bem ampla dentro desses partidos para poder fazer um trabalho em defesa da classe, para que, no final, a classe possa ter uma regulamentação. Esta regulamentação deve ser como todas deveriam ser: não trazendo problemas, mas soluções, melhorias, dignidade e segurança para o motorista de aplicativo. Vamos buscar o apoio do governo e colocar as empresas no lugar delas, vamos ser bem diretos. Hoje, elas fazem o que bem entendem. Então, vamos trabalhar para alcançar o objetivo de uma regulamentação na qual o motorista tenha prazer em ser motorista de aplicativo, e não mais desgosto.
