Em uma entrevista exclusiva ao 55content, Ronaldo e Éder, que são motoristas de aplicativo em São Paulo, compartilharam detalhes de sua jornada desde o acidente que levou Éder a essa profissão até a criação do podcast “Resenha na Pista”.
No podcast, eles convidam diversos tipos de influenciadores e exploram a realidade dos motoristas em diferentes cidades, abordando temas como ganhos, estratégias de trabalho e desafios enfrentados.
Durante a entrevista, eles revelaram como o podcast surgiu e como conseguem mantê-lo de forma eficaz. Além disso, discutiram sua visão sobre a regulamentação do setor de transporte por aplicativo e suas preocupações a respeito dela.
Éder começou a trabalhar como motorista de aplicativo em 2016, após um acidente de moto que o afastou do trabalho por meses. Um amigo o incentivou a entrar no mundo dos aplicativos de transporte, e ele viu nisso uma oportunidade de recomeçar. Sua experiência anterior como professor de educação física e monitor de acampamento o ajudou a desenvolver habilidades de comunicação que seriam essenciais para o sucesso de seu futuro podcast.
Já Ronaldo, após enfrentar dificuldades em empreendimentos anteriores, encontrou sua vocação como motorista de aplicativo. Ele compartilhou: “Já trabalhei em logística e tive uma sociedade em uma academia que não deu certo. Então, decidi ser motorista de aplicativo.” Essa mudança marcou o início de uma nova fase em sua vida.
A ideia para o podcast “Resenha na Pista” surgiu quando a dupla assistiu a um vídeo no YouTube de outros influenciadores. Animados com a ideia, decidiram gravar lives no Instagram e, posteriormente, expandiram para um podcast. O programa se tornou popular ao trazer convidados de diferentes cidades e estados, proporcionando uma visão abrangente do mundo dos motoristas de aplicativo.
Ao serem questionados sobre como organizam o podcast, Ronaldo e Éder explicaram que adotam uma abordagem bastante flexível. Embora solicitem um briefing aos convidados sobre os tópicos a serem discutidos, muitas vezes as perguntas são guiadas pela curiosidade deles e pela interação com a audiência. A participação ativa do público também desempenha um papel importante na dinâmica do programa.
Quanto à escolha de convidados, a dupla enfatizou que o principal critério é a capacidade de trazer informações relevantes para o público. Não importa se o convidado tem poucos ou muitos seguidores; o que importa é o conteúdo que podem compartilhar e a diversidade de perspectivas que oferecem sobre o mundo dos aplicativos de transporte.
Outro marco importante veio quando a necessidade de oficializar a “Resenha na Pista” surgiu. Ronaldo comentou: “Tivemos que abrir um CNPJ porque as empresas começaram a nos procurar para parcerias. Hoje temos cerca de seis parceiros, todos com benefícios diretos para os motoristas.”
Embora o programa tenha começado a gerar receita apenas após um ano e três meses e os fundadores ainda continuem trabalhando como motoristas de aplicativo por 40 a 60 horas por semana, Ronaldo está otimista. Com o apoio de patrocinadores e uma base de fãs em crescimento, ele acredita no potencial da “Resenha na Pista”.
Ao refletir sobre sua jornada, Ronaldo concluiu: “Cada episódio tem uma emoção única. Estamos aqui para compartilhar, rir e, acima de tudo, apoiar os motoristas em suas jornadas diárias.”
Ronaldo também compartilhou insights sobre como o trabalho dos motoristas de aplicativo se tornou mais desafiador ao longo dos anos. Ele destacou a mudança no modelo de pagamento da Uber, que anteriormente oferecia um multiplicador de tarifas, tornando as corridas longas mais lucrativas. Hoje, com preços fixos, os motoristas precisam ser estratégicos na escolha das corridas para maximizar seus ganhos.
Ronaldo explicou: “O grande problema é que, às vezes, fazer uma corrida curta leva muito tempo. Por exemplo, gastar 10 minutos para buscar o passageiro, 10 minutos para fazer a corrida e ganhar apenas R$7. Então, em uma hora, vou ganhar R$21. Isso é pouco considerando o tempo investido.”
Quanto à regulamentação do setor de transporte por aplicativo, Ronaldo e Éder expressaram suas preocupações. Eles temem que, em alguns casos, os valores mínimos estabelecidos possam se tornar valores máximos, limitando a capacidade dos motoristas de ganhar mais. Além disso, estão preocupados com as contribuições que os motoristas terão que fazer e como isso afetará sua renda. Eles não confiam completamente nos representantes do setor e acreditam que a regulamentação pode não ser favorável aos motoristas.
Eles já convidaram representantes sindicais para debater as demandas dos motoristas. Ronaldo expressou sua preocupação em relação à regulamentação que poderia impor impostos adicionais sobre os motoristas, sem garantir um aumento nos ganhos.
“A regulamentação, como está hoje, tem que pagar por hora, mas o meu custo é o meu carro. O meu custo é por quilômetro, entendeu? Não dá para olhar só o valor da corrida, não dá para ganhar só pelo valor da corrida. Tem que ser uma combinação de quilômetro e tempo”, argumentou Ronaldo.
A história de Ronaldo e Éder é um exemplo de como a determinação e a paixão podem transformar uma simples rotina na estrada em uma plataforma valiosa para a comunidade de motoristas de aplicativo.
Hoje, o podcast faz sucesso nas redes sociais, com 43 mil seguidores no Instagram, 36 mil inscritos no YouTube, 133 mil seguidores no TikTok e 22 mil seguidores no Facebook.Éder finalizou: “Com o podcast, nós criamos uma voz para os motoristas, destacando suas histórias, desafios e conquistas, mostrando que, por trás de cada volante, há uma história rica esperando para ser contada.”