Dando sequência à jornada da 55 onde conversamos com motoristas em várias cidades para entender as particularidades e experiências de cada localidade, o entrevistado de hoje é Samuel Cunha, um profissional do setor de transportes de Ji-Paraná, Rondônia.
Além de atuar como motorista, Samuel é dono de um aplicativo de transporte, o Rápido Car, iniciando sua jornada nessa área em 2019.
Nesta entrevista, Samuel oferece um panorama sobre as motivações que o levaram a escolher essa carreira, além de detalhar aspectos da vida diária de um motorista de aplicativo, como as melhores áreas para pegar corridas e as preferências dos motoristas em relação aos diferentes aplicativos disponíveis.
Samuel também compartilha suas experiências sobre os desafios e peculiaridades do trabalho em Ji-Paraná. Ele discute a média de ganhos para motoristas dedicados exclusivamente ao aplicativo, as tipologias de corridas preferidas e evitadas pelos profissionais, e como as dinâmicas com os passageiros se desenrolam em uma cidade de porte médio. Além disso, Samuel reflete sobre as diferenças entre trabalhar em cidades menores e maiores, oferecendo um novo olhar sobre a variação do mercado de transporte por aplicativo.
1. Poderia se apresentar e nos contar há quanto tempo você trabalha como motorista de aplicativo?
Meu nome é Samuel Cunha, de Ji-Paraná, Rondônia, no norte do Brasil. Sou proprietário de um aplicativo de transporte e, ocasionalmente, trabalho como motorista. Iniciei minha jornada nesse setor em 2019, quando abri uma filial do aplicativo.
2. O que o motivou a começar a trabalhar como motorista de aplicativo?
Eu buscava empreender além do meu trabalho de funcionário público.
3. Quais são os melhores lugares para pegar corrida? E quais são os piores? Explique porque.
Em minha cidade, o centro é o melhor lugar para pegar corridas. Isso se deve à proximidade e às melhores condições das ruas. Em contrapartida, os bairros mais afastados e novos são menos favoráveis devido à maior distância, às taxas de cancelamento mais altas, e à infraestrutura precária. A demanda por corridas varia, sendo maior em dias de chuva. Contudo, em dias normais geralmente é mais baixa do que em grandes cidades, com motoristas fazendo em média 15 a 20 corridas por dia.
4. Quais aplicativos rodam por aí? E qual é o preferido dos motoristas?
Os aplicativos mais populares que rodam aqui são o Rápido Car, Moovecar e o Urbano Norte. Os favoritos dos motoristas são o Rápido Car e o Urbano Norte.
5. Qual é a principal reclamação dos motoristas?
Uma das principais reclamações dos motoristas é a quantidade insuficiente de corridas para atender a todos, especialmente em dias sem chuva. Reduzir o número de motoristas não é uma solução viável, pois aumentaria a distância para buscar passageiros, tornando a operação impraticável.
6. Quanto ganha, em média, um motorista na cidade?
Na minha cidade, um motorista de aplicativo dedicado exclusivamente a isso pode ganhar cerca de 3 salários mínimos por mês, já descontados os custos com gasolina.
7. Que tipo de corridas que os motoristas da cidade odeiam? E quais eles mais gostam?
Preferimos corridas curtas, pois as longas muitas vezes não são tão lucrativas, especialmente quando se trata de áreas afastadas, como loteamentos novos, onde é difícil conseguir uma corrida de volta. Essas corridas para locais distantes geralmente são menos desejadas, a não ser que tenham uma tarifa dinâmica que aumente o valor.
8. Em geral, como é a relação com os passageiros na cidade?
Quanto ao relacionamento com os passageiros, é geralmente bom. Embora a cidade não seja pequena ao ponto de todos se conhecerem, frequentemente reconhecemos passageiros habituais, especialmente aqueles que vivem ou trabalham perto de onde costumo ficar. Isso às vezes leva a uma relação mais amigável.
9. Já trabalhou em outras cidades? Qual a diferença que sentiu?
Como gestor de aplicativo, percebi que é mais difícil trabalhar em cidades menores. Nessas cidades, os motoristas preferem trabalhar apenas no particular, o que reduz a autonomia do aplicativo. Atualmente, estou operando no Acre e negociando uma cidade lá. Encontrei uma situação em que uma filial local fechou e adotou um aplicativo com um custo menor, porque os motoristas querem pagar menos. Isso é diferente das grandes cidades, onde há um investimento maior e mais corridas pelo aplicativo. Em cidades com menos de 50 mil habitantes, a proporção de corridas particulares para as do aplicativo é de cerca de 90 a 10, o que tira a autonomia do sistema sobre os motoristas. Ainda não tive a oportunidade de trabalhar em cidades grandes, com mais de 200 mil habitantes, mas tenho interesse em expandir para essas áreas.