Pesquisar

“A corrida mínima foi reduzida de R$ 6 para R$4,56, nosso ganho não é mais R$ 32 a hora e sim R$ 20”, diz motorista

ponto de exclamacao .png
Motorista
Denis Moura participa de uma audiência pública para discutir e debater sobre o Projeto de Lei Complementar nº 18/2024, destacando a importância da regulamentação no setor de transporte por aplicativos. A audiência foi transmitida ao vivo pela TV ALEMS.

Denis Moura diz que plataformas começaram a reduzir o preço das corridas em algumas cidades: “De janeiro para cá ganhamos menos de R$32. Hoje está em R$20.”

Em uma audiência pública realizada na Câmara dos Vereadores de Joinville para discutir a regulamentação do trabalho dos motoristas de aplicativo, Denis Moura, motorista de app, diretor de comunicação da Femprapp e presidente da AMPA-RJ, fez um apelo contundente por melhores condições de trabalho para os profissionais do setor.

Moura iniciou sua fala destacando a insatisfação geral com as tarifas mínimas atualmente praticadas pelas plataformas de transporte. “Não podemos pagar para trabalhar. O motorista quer um mínimo de R$10 por corrida. Sabe o que aconteceu essa semana, deputado? A corrida mínima em algumas cidades, que já era R$6, o que é um absurdo, equivalente ao preço do litro de combustível, foi reduzida”, afirmou Moura, chamando atenção para a incoerência entre os custos de operação e os ganhos dos motoristas.

Ele também denunciou as táticas das plataformas para pressionar os motoristas, reduzindo ainda mais as tarifas mínimas. “A plataforma está simplesmente coagindo o motorista naquilo que é mais importante para ele. Como o senhor disse, eu faço uma adaptação da sua palavra: eu considero valor, segurança e respeito. Respeitar minha liberdade é respeito, e eu amplio isso para respeito”, enfatizou. Moura destacou que em algumas cidades, a tarifa mínima chegou a ser reduzida para valores entre R$6 e R$4,56.

A questão da remuneração por hora também foi levantada. Moura citou dados coletados pelo aplicativo Rebu, que monitora as corridas de plataformas como Uber e 99. Segundo ele, o ganho por hora dos motoristas caiu nos últimos meses. “Nosso ganho por hora de corrida foi reduzido de janeiro para cá para menos de R$32. Atualmente está em R$20. Por que eles estão fazendo isso? Porque têm a liberdade de cobrar o que querem, tarifar como querem e manipular as informações”, explicou.

Denis Moura criticou a falta de representatividade dos sindicatos nas negociações com o governo. Segundo ele, os sindicatos foram incluídos na mesa de negociações pelas próprias plataformas, que sabiam que esses não representavam efetivamente os motoristas. “Quando o governo diz que colocou os sindicatos, que são os representantes dos motoristas, e as plataformas à mesa, é mentira. Quem colocou à mesa foi a Uber, que colocou o governo e os sindicatos na mesa. E colocou os sindicatos porque sabia que não representam os motoristas”, afirmou Moura.

Ele também destacou a necessidade de uma representatividade legítima, mencionando o vereador Marlon Luz de São Paulo como um verdadeiro representante da categoria, com quase 55 mil votos na última eleição. “Na conversa eu disse ao ministro: ‘Olha, o que o senhor está querendo fazer não vai dar certo, porque os sindicatos não existem na nossa categoria. Eles se formaram recentemente; sindicatos de catadores de lixo se converteram em sindicatos de motoristas de aplicativo’”, relatou Moura, demonstrando ceticismo quanto à eficácia das atuais negociações.

“O ministro… Não sei por que cargas d’água, por soberba, por já ter tudo decidido na cabeça dele, não sei qual foi a atitude dele, não posso imaginar, mas não posso julgar. Ele ignorou essa informação e criou um grupo de trabalho, envolvendo os sindicatos. No dia da reunião, todos sabem disso, fomos convocados para participar do grupo de trabalho. E na primeira reunião ele nos expulsou”, disse Moura, relatando a frustração de ter sido excluído das discussões, junto com outros representantes legítimos, como o vereador Marlon Luz e Paulo Xavier.

Moura denunciou a falta de transparência e os gastos excessivos dos sindicatos incluídos nas negociações. “Cada membro do sindicato, é só olhar o portal da transparência, já teve mais de R$ 60 mil gastos entre passagens e viagens. Da última vez que verifiquei, há mais de dois meses, e não pararam ali. Por cada um de cada sindicato, mais de 30 sindicatos”, revelou Moura, contrastando com sua própria realidade de dificuldades financeiras para participar das reuniões. “Eu, para viajar, pego meu carro e vou ao Paulo; todos sabem que ele tem uma pequena deficiência, a gente pega o carro e vai para Brasília. Do Rio de Janeiro para Brasília é uma longa viagem. Para vir aqui, tive a ajuda de um colega motorista, que me ajudou com a passagem. A gente representa, a gente está dando o sangue. E estou aqui deixando de rodar.”

Em sua fala, Moura foi categórico ao criticar a proposta de lei em discussão, defendendo que ela deve ser completamente rejeitada. “Respeitando o tempo que o senhor me determinou, queria só deixar claro uma coisa. Falar mal da PL, eu já não tenho mais nada para falar, porque é uma porcaria, ela tem que ser derrubada. Nem deve ser emendada, tem que ser derrubada. Ter coragem para derrubar essa PL é a mesma coragem que tivemos quando derrubamos o projeto do deputado Zaratini. Em 2018, o que foi para plenário para ser votado, azeitado pelo governo, e nós derrubamos. Porque se não tivéssemos derrubado lá, se não tivéssemos coragem de derrubar lá, hoje ninguém estaria aqui.”

Denis Moura também expressou seu descontentamento com a sugestão de que as empresas poderiam deixar o país se não concordassem com as regulamentações. “Então, para concluir, peço ao senhor que nunca mais, por favor, repita que se a empresa quiser ir embora, que vá. Imagine se eu dissesse ao senhor: ‘Vamos acabar com o seu emprego público.’ É fácil falar isso do alto de uma autarquia pública. Mas é muito difícil para nós, como trabalhadores, dispensar as empresas. Elas, sim, têm que se adequar à regulamentação. Peço por gentileza que não diga isso, porque fiquei até meio chateado. Falei: ‘Se vão embora, estamos vendidos.’ Se o governo criar um aplicativo bacana, que bom, farei campanha para esse aplicativo. Mas ele tem que ser bacana, ele tem que ser justo. Muito obrigado, desculpe a extensão. Muito obrigado.”

A audiência pública evidenciou a insatisfação dos motoristas de aplicativo com a atual condução das negociações e a necessidade urgente de uma regulamentação justa e representativa. A luta pela valorização e respeito aos motoristas continua, na esperança de que suas demandas sejam finalmente atendidas.

Foto de Redação 55content
Redação 55content

O 55content é o maior portal de jornalismo sobre aplicativos de transporte e entregas do Brasil.

Pesquisar