A Machine é a maior desenvolvedora de apps de transporte no Brasil. Não há nenhuma empresa brasileira que tenha mais apps publicados na Play Store.
Sua história começa em 1999, quando perto da virada do milênio, o mundo passava por diversas transformações. A computação ainda estava engatinhando no Brasil. Os órgão públicos do país viviam um processo bem lento de modernização dos seus sistemas de informação.
Nos estados, a situação das Secretarias de Fazenda era dramática. Com problemas nos bancos públicos e a precariedade dos sistemas, era necessário informatizar os processos . Incluindo os pagamentos de impostos, que naquele momento eram facilmente sonegados, com um controle bem frouxo.
Foi nesse cenário que os sócios-executivos da Machine, empresa carioca de aplicativos de transporte, Bruno Muniz e Ricardo Góes se conheceram. Bruno estava acabando seu mestrado em informática na PUC-RIO e Ricardo havia deixado o Exército, onde foi responsável pela informatização dos sistemas do Comando da Primeira Região Militar. Em comum a vontade de resolver problemas usando a tecnologia.
“Eu cheguei na secretaria em 1999 e o Góes já estava fazendo parte da equipe desde 1994, quando olhei ele eu pensei: você é nerd, eu sou nerd também. Logo a gente virou amigo, gostávamos de matemática, jogávamos xadrez, malhamos juntos, sempre um apoiando o outro”, lembra Bruno.
A tecnologia uniu os sócios da Machine
Formado em Ciências da Computação pela Universidade Estadual do Ceará, Bruno Muniz nasceu em Fortaleza e desde pequeno já percebia sua paixão por tecnologia. “Eu lembro que aos 8, 9 anos pedi para o meu pai um computador, ele nem sabia onde vendia, então eu mesmo comecei a ligar para as lojas perguntando se eles tinham”. Aos 10 anos, por influência do irmão, começou a anunciar no jornal que vendia jogos e programas, desenvolvidos por ele mesmo no TK-2000, um dos primeiros computadores pessoais do Brasil.
Já Ricardo é nascido e criado no Rio de Janeiro. Sua paixão pela tecnologia se deu quando um amigo lhe apresentou uma linguagem de programação que o deixou fascinado. “Achei incrível a possibilidade de você escrever uma coisa, o computador executar e sair o resultado esperado”. A paixão pela tecnologia o levou a estudar Engenharia Eletrônica no Instituto Militar de Engenharia (IME), referência internacional na área.
Na Secretaria da Fazenda do Estado do Rio, o desafio da dupla era modernizar a administração fazendária. “O banco de dados era muito simples, não aguentava a carga (…) então a gente começou a trazer servidores potentes e isso gerou um aumento de cerca de 100% na receita do estado”, lembra Bruno.
Embrião da Machine
Como gerentes da Secretaria da Fazenda, Bruno e Ricardo sempre tiveram muita preocupação no recrutamento das pessoas que trabalham com eles. “Existia muita dificuldade em se obter bons profissionais, então nós buscamos uma forma de melhorar o processo de seleção, foi quando pensamos em criar uma ferramenta de contração de profissionais, uma espécie de Linkedin”, diz Ricardo. Em 2006 eles começaram a discutir a criação da ferramenta e foi quando tomaram a decisão de montar um negócio juntos. Em 2007, a empresa nascia no papel com a assinatura do contrato social.
Trabalhavam depois do expediente, nos finais de semanas e feriados, sempre que podiam. Mas o projeto inicial acabou não dando certo por falta de tempo da dupla. Precisava conciliar o trabalho na secretaria com a criação da empresa. Decidiram então adormecer a ideia.
Em 2009, o RH da Secretaria da Fazenda pediu para que todos os gerentes do órgão fizessem um curso de desenvolvimento e liderança, que logo mais teria um papel crucial no futuro do que seria a Machine. Bruno aceitou ser o primeiro dos gerentes a fazer o curso. Chegando lá ficou fascinado. Buscou saber mais sobre o assunto e descobriu que haveria um outro curso em poucos dias. Decidiu pedir férias do trabalho para participar.
Tomada de decisão
Após concluir o curso, Bruno percebeu que queria abrir sua empresa. Mas não foi fácil, passou a fazer terapia 4 horas por semana, até encontrar um plano B caso o projeto não desse certo. “Eu queria colocar pra fora minhas ideias, ser útil para a humanidade resolvendo problemas por meio da tecnologia”. Em duas semanas ele tomou a decisão de pedir exoneração do cargo.
Ricardo continuou por mais alguns meses na secretaria. “Eu queria deixar o cargo tendo transferido todos os impostos do Rio para a área de informática. Quando eu senti que as coisas estavam muito bem encaminhadas, a decisão de pedir exoneração foi muito tranquila” .
Os primeiros anos da empresa foram os mais desafiadores. A primeira sede foi a casa dos sócios. E assim como uma casamento, como diz Ricardo, ambos foram se conhecendo melhor a medida que a empresa ia nascendo.
O início e os produtos Machine
No início, a empresa fazia projetos de aplicativos. Bruno, torcedor do Fluminense, havia feito para uso pessoal uma espécie de agregador de notícias para acompanhar as informações do tricolor carioca. “O jornal Lance viu o app e me chamou para conversar. Então fizemos um aplicativo deles para a Copa de 2010, foi um sucesso, primeiro lugar na loja”.
Os projetos começavam a chegar e a empresa crescia, dos mais diversos, desde apps de futebol a apps para emissora de televisão. Mas havia em ambos a vontade de construir um próprio produto. “Testamos mais de 10 apps diferentes, mas não encontrávamos o produto perfeito”, lembra Bruno. Foi quando em 2013, com o surgimento de apps para táxis como a Easy e a 99, veio a ideia. “Vimos a possibilidade de fazer com que as próprias centrais e cooperativas pudessem concorrer com esses apps”, lembra Ricardo.
Em 2014, após o pedido de alguns clientes para um produto voltado aos mototaxistas, a Machine inaugura a Moto Machine.
A ideia de desenvolver aplicativos para motoristas particulares veio em 2015 com a chegada da Uber no Brasil. “Percebemos que havia um mercado muito bom aí, pois o modelo de negócio dos apps multinacionais é de atendimento em escala global, acreditamos que um modelo com uma lógica mais local e personalizada com a região seria muito melhor”, diz Ricardo.
Expectativas para o futuro da empresa
As expectativas e projetos para os próximos anos são continuar produzindo tecnologia de qualidade. Assim, a empresa pretende cada vez mais democratizar e empoderar pequenos e médios empresários a competir no mercado. “O mercado de aplicativos de transporte ainda está engatinhando. Sabemos que muitas coisas ainda podem ser feitas e por isso queremos melhorar ainda mais nossa tecnologia para sermos o principal parceiro dos motoristas e empresários que querem entrar na área”, finaliza Ricardo.