Felipe Dantas faz parte do time de três gestores que cuidam de toda a operação do aplicativo regional Ubzero, que atua nos estados do Mato Grosso do Sul, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Bahia, Tocantins, Piauí, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraná, com mais de 2 mil motoristas cadastrados.
Em conversa exclusiva com o 55content, Felipe conta que sua experiência com mobilidade urbana surgiu com outras plataformas, atuando também como gestor: “Eu peguei um know-how da categoria, de tudo como é que funciona. E percebi que tenho capacidade para ter um aplicativo junto com outras pessoas, porque não é fácil ser sozinho nesse ramo”.
Com o lançamento em 2019, o Ubzero atravessou o período da pandemia, e Dantas destaca: “Quando a pandemia veio, ficou muito difícil expandir. Além da turma ficar muito sem dinheiro, muita gente abriu aplicativo também”. Mas explicou que o segredo do app foi criar suas próprias raízes nas cidades operantes e trazer os motoristas para conhecer o serviço.
Ao todo, Felipe conta que já realizaram mais de 3 milhões de corridas desde o início da plataforma e contam com quase 300 mil usuários cadastrados.
Ele ainda conta sobre um problema que enfrentam nas cidades: o transporte clandestino. “Infelizmente, muitos motoristas credenciados acabam fazendo corridas por fora, via WhatsApp ou ligação, sem utilizar o aplicativo”.
Segundo Felipe, essa prática gera uma grande perda para a empresa: “Deixamos de registrar até três vezes o número de corridas que poderíamos ter”.
Em contraponto, a equipe organizou uma maneira de atrair e fidelizar clientes para o Ubzero, através do programa “Roleta Premiada da Ubzero”, no qual, após cada corrida, o passageiro podia girar uma roleta online e ganhar prêmios em vouchers para próximas corridas, com valores de R$ 2, R$ 4, R$ 8, R$ 10 ou até R$ 100.
“Todos os dias, temos mais de cinco passageiros premiados. Esse programa é um sucesso! No primeiro mês, conseguimos aumentar em 10% o número de corridas. Hoje, temos um público muito mais fidelizado. Este ano, já estou planejando novas estratégias para fidelizar ainda mais clientes e combater a clandestinidade”.
Qual é a taxa da plataforma?
A gente não achou legal cobrar porcentagem nem mensalidade. Por exemplo, mensalidade: você abre uma cidade nova e vai cobrar mensalidade enquanto ainda não há corridas. A gente não acha justo isso.
Então, o que a gente faz – e fez até hoje, nunca mudou – é cobrar um valor fixo. Nas grandes cidades, plataformas chegam a cobrar até 40% da corrida.
Na Ubzero, não. Hoje, a taxa é de R$ 2 por corrida. Se o motorista faz uma corrida de R$ 50, a gente só fica com R$ 2. E é pré-pago: ele compra créditos antes e, com isso, vai fazendo as corridas. Se zerar, ele não recebe corrida.
Qual o valor da corrida mínima?
Isso varia de cada cidade, mas está em torno de R$ 12,00, porque os custos já aumentaram muito. Para os próprios motoristas, incluindo gasolina, mercado, manutenção do carro… Tudo isso vai se somando.
Então, a gente tenta manter um equilíbrio para não pesar para o passageiro, porque, senão, ninguém vai solicitar corrida.
Como vocês fazem a prospecção de novos mercados? Como trabalham a divulgação da plataforma?
Isso é uma grande questão. Hoje em dia, é essencial ter uma equipe ao seu lado e uma gestão muito competente, né? Porque não adianta ser apenas um motorista e dizer: “Ah, eu quero fazer meu aplicativo funcionar”.
Se você estiver na rua como motorista e não estiver por trás, no computador, no notebook ou no celular gerenciando, não consegue avançar. Infelizmente, né?
Então, eu fiz cursos no Facebook Empresas para criar anúncios patrocinados no Instagram, Facebook e outras plataformas, e sou eu mesmo quem cuida disso. Poderíamos contratar uma empresa para fazer esse trabalho, mas, como gosto muito de tecnologia, prefiro fazer por conta própria. Afinal, conheço as cores da empresa, o vocabulário, aonde quero chegar e o que quero comunicar, o que torna tudo mais fácil.
Além disso, estar sempre em contato com as estratégias da empresa é uma vantagem. No momento, sou eu quem cuida disso – na verdade, sempre foi assim. A parte das artes, não. Para isso, temos uma pessoa que faz para a gente.
E, basicamente, é isso. É preciso correr atrás. Essa estratégia é muito boa porque permite focar exatamente na cidade e no público que queremos atingir. Foi assim que conseguimos crescer desde o começo.
Quais são os benefícios para os motoristas?
Na verdade, como não temos um caixa com sobra, já que não cobramos porcentagem, conseguimos fazer algumas ações pontuais. Por exemplo, todo final de mês promovemos a “Promoção de Recargas para o Motorista”, permitindo que ele compre créditos de corrida com desconto. Quando chegamos a uma nova cidade, isentamos os motoristas de taxas e arcamos com esses custos iniciais.
Também oferecemos premiações, especialmente em dezembro, quando a demanda é altíssima. Recompensamos os motoristas que realizam mais corridas e têm menos cancelamentos. Tudo depende da performance.
Para os passageiros, realizamos algumas promoções, geralmente em parceria com influenciadores locais, oferecendo cupons de desconto. Mas esse investimento é limitado, pois precisamos equilibrar os custos. Gostaríamos de oferecer mais cupons, mas precisamos manter a sustentabilidade do negócio.
Como funciona a taxa dinâmica?
Sobre as tarifas dinâmicas, optamos por não utilizá-las. Isso é um diferencial do nosso serviço e está claramente destacado no nosso site. Fiz questão de deixar bem claro: “zero tarifa dinâmica, zero porcentagem, zero exploração”.
Essa escolha foi feita pensando tanto nos motoristas quanto nos passageiros. Achamos injusto que um passageiro veja um preço e, de repente, ele aumente drasticamente. Conseguimos alinhar isso com os motoristas, explicando que, ao evitar tarifas dinâmicas abusivas, mantemos mais clientes.
Como atuamos no interior, esse modelo faz ainda mais sentido, pois a aceitação da tarifa dinâmica seria um desafio.
Quanto ganha, em média, um motorista da plataforma?
Em dezembro, quando a demanda é alta, alguns motoristas chegaram a faturar quase R$ 9 mil. Mas isso depende do empenho de cada um. Se quisessem, poderiam ter ultrapassado R$ 10 mil, porque havia corrida suficiente para isso no mês de dezembro.
Nos outros meses, a média de faturamento varia conforme a cidade, mas acredito que fique entre R$ 4 mil e R$ 5 mil.
O que você tem feito de diferente dos grandes players e concorrentes? Qual é o diferencial de vocês aí?
Nós estamos sempre muito próximos dos motoristas para oferecer segurança e suporte a eles. Contamos com gestores que atuam diretamente nas cidades.
Eu e meu sócio ficamos mais focados na comunicação estratégica, geralmente por meio de um grupo no WhatsApp com esses gestores. Eles, por sua vez, repassam todas as mudanças, recados e comunicados diretamente para os motoristas. Além disso, quando surge alguma dúvida ou necessidade de suporte, também resolvemos através desse canal.
Sobre a política de preços, mantemos uma diferença fixa na tarifa de R$ 2,00 há bastante tempo. A última atualização aconteceu recentemente, no Maranhão, em dezembro. Antes, a tarifa era de R$ 1,75 e foi ajustada para R$ 2,00, equilibrando os valores em todas as cidades onde atuamos.
Para ter uma ideia, quando começamos, a tarifa era de apenas R$ 1,30. Desde então, fomos ajustando de forma gradual para garantir a sustentabilidade do serviço sem prejudicar motoristas e passageiros.
Quais são os planos para o futuro? Há projetos de expansão?
A gente foca muito em melhorar onde já atuamos. Mas também contamos com planos de expansão, que exigem muito estudo, porque hoje em dia não está fácil. Se você é um aventureiro, não tem uma grana no bolso, um caixa, um capital de giro para começar um aplicativo, não vai dar certo, porque tem muita gente já com aplicativo por aí.
Tudo depende também do número de habitantes da cidade, se tem muitos aplicativos ou não. Tem lugares que são só para perder tempo, então a gente nem vai. Fazemos algumas análises. Ainda tentamos achar algum campo inexplorado, mas não está fácil.
Que tipo de conhecimento ou habilidade você acredita que seja essencial para um gestor de app?
Primeiro de tudo, é fundamental conhecer bem o ramo. De preferência, já ter sido motorista. Eu mesmo fui Uber. Em 2017, trabalhei como motorista e sei que não é uma vida fácil. Admiro muito os motoristas de aplicativo e sempre os parabenizo pelo trabalho que fazem.
Com conhecimento e experiência, você vai juntando as pessoas certas e montando uma equipe forte, onde cada um tem sua função. Aqui, por exemplo, temos um setor responsável por responder e-mails, outro para gerenciar o Instagram e o Facebook, e minha sócia, que cuida da parte administrativa e financeira da empresa.
Se você constrói uma equipe competente e fiel, vai longe. Esse é um dos segredos do sucesso.
Também damos muita atenção ao suporte e ao relacionamento com os usuários. Respondemos todas as avaliações no Google Play, tanto as boas quanto as ruins – faz parte. Além disso, recebemos muitos e-mails sobre achados e perdidos. Sempre respondemos tudo, não deixamos ninguém sem retorno.
E assim as coisas vão acontecendo. Com dedicação e organização, você cria um jeito próprio de gerir o negócio e faz ele crescer.