“Trabalho de 12 a 14 horas no Uber Black para faturar R$ 500 por dia e lucrar entre R$ 300 e R$350”, diz motorista de app

Motorista de app relata: “Nunca trabalhei tantas horas como estou trabalhando agora para ganhar o mesmo valor que eu ganhava antes”. 

Mulher com tranças longas e escuras sentada no banco do motorista de um carro. Ela está usando uma camiseta preta e cinto de segurança, olhando diretamente para a câmera com expressão séria.
Foto: Tatiane Brum para 55content

Nesta entrevista, Tatiane Brum compartilha sua experiência de mais de oito anos como motorista de aplicativo, revelando a realidade por trás da rotina intensa de 12 a 14 horas diárias para garantir um faturamento bruto de R$500. Ela expõe os principais desafios da profissão, como os altos custos com combustível — que podem ultrapassar R$3.500 por mês —, a falta de reajuste nas tarifas e a dificuldade de tornar o trabalho financeiramente viável sem uma jornada exaustiva. Tatiane também levanta um ponto crucial: hoje, trabalhar com app só compensa para quem já tem experiência e resistência, e recomenda que iniciantes vejam a atividade como renda extra, não principal.

Há quanto tempo você trabalha como motorista de aplicativo e como começou na profissão?

Tatiane: Olha, eu sou motorista de aplicativo há 8 anos e meio. Eu comecei na profissão porque trabalhava em um estágio e ganhava muito pouco, né? Eu fazia faculdade de Educação Física na época e estagiava à tarde. Eu queria ter um carro porque a faculdade ficava muito longe. E ser motorista de aplicativo serviria para eu comprar esse carro e pagá-lo com o trabalho como motorista.

Como é a sua rotina de trabalho atualmente?

Tatiane: Eu trabalho no mínimo 12 horas por dia, geralmente das sete da manhã às sete, oito da noite. Tiro folga todos os domingos, salvo algum domingo em que eu acabo trabalhando. Geralmente, de segunda a sexta, sigo esse horário regrado que comentei. No sábado, depende: tem sábado que eu trabalho 12, 14 horas; tem sábado que eu só faço cinco ou seis horas pra fazer algum extra. Mas minha rotina fixa mesmo, focada 100% nos aplicativos, é de segunda a sexta. E agora também trabalho com a internet — eu faço conteúdo para divulgar esse aplicativo aqui na cidade de Curitiba. 

Em quais categorias da Uber você já trabalhou?

Tatiane: Hoje eu sou Uber Black, mas comecei na categoria X. Faz só um ano que estou no Black, então durante todos os outros anos eu trabalhei na categoria X. Nos dois últimos anos, eu atuei no Comfort e, agora, neste último ano, no Black.

Com que frequência você abastece e qual é o seu gasto mensal com combustível?

Tatiane: Eu encho o tanque do meu carro geralmente a cada dois dias. O tanque custa, em média, R$240. Meu gasto mensal com combustível fica entre R$3.000 e R$3.500. Por isso acho que a grande maioria dos motoristas que está conseguindo, está migrando para o elétrico. Mas não é a realidade de todo mundo — é a realidade de uma minoria, né? Um por cento dos motoristas, talvez. A maioria trabalha com carro alugado ou financiado, e é complicado se organizar financeiramente para trocar de carro tão fácil assim e ir para um elétrico. Mas o valor que a gente gasta de combustível pagaria a parcela de um carro elétrico, por exemplo.

Quanto costuma sobrar por dia do seu faturamento?

Tatiane:
Do meu faturamento bruto, sobra entre R$250 e R$300 por dia, até R$350. Geralmente gasto entre R$150 e R$180, porque os preços de todas as coisas estão bem altos agora. Antigamente, como o valor do combustível era mais barato e as tarifas eram as mesmas de hoje, sobrava mais líquido e a gente precisava trabalhar um pouco menos. Nunca trabalhei tantas horas como estou trabalhando agora. Então, o que percebo é que, a cada ano que passa, só aumenta minha carga horária para eu conseguir ganhar o mesmo valor que ganhava antigamente.

Qual é a sua meta diária de faturamento?

Tatiane: Minha meta diária é de R$500 brutos. Tem dias, principalmente no final do mês, que não dá pra atingir, mas na maioria dos dias eu consigo, trabalhando de 12 a 14 horas.

Quais são as maiores dificuldades para quem está começando como motorista de aplicativo?

Tatiane: As maiores dificuldades para quem está começando são conseguir ter resistência nas ruas para fazer um bom faturamento. Porque, pra você ganhar dinheiro hoje em dia nos aplicativos — com os gastos cada vez mais altos e a tarifa que continua a mesma desde que a plataforma foi lançada —, você precisa passar muitas horas na rua. Isso exige uma resistência que nem todo mundo tem, além de uma constância: estar na rua todos os dias nos horários bons, como seis e meia da manhã, e ficar pelo menos 12 horas dirigindo. Então, acho que a maior dificuldade hoje é essa: os custos altos, especialmente o combustível, e as tarifas que não são reajustadas há muitos anos.

Vale a pena trabalhar com aplicativo hoje em dia?

Tatiane: Vale a pena para quem já está há muito tempo no aplicativo, já pegou o jeito e conseguiu se organizar — como os motoristas que estão há cinco, seis anos. Mas não vale mais a pena para todo mundo. Se a pessoa não tiver essa resistência e não entender que, se não for desse jeito, não vai funcionar, ela acaba se batendo muito até desistir e voltar para o CLT, por exemplo.

Quais dicas você daria para quem está começando agora nos aplicativos?

Tatiane: As dicas para quem está começando são: não depender apenas do aplicativo e usar os apps como uma renda extra. Porque depender só disso vai exigir muitas horas e muito tempo da sua vida. E, pra quem não está acostumado, fica difícil ver o dinheiro entrando, já que precisa ficar o dia inteiro na rua. Então o ideal é usar os aplicativos como uma renda complementar, e não como renda principal.

Qual o valor mínimo que você aceita por quilômetro e como lida com as corridas em cada categoria?

Tatiane: Como eu rodo com Uber Black, eu preciso aceitar corridas de, no mínimo, R$2,00 por quilômetro. Mas quando eu rodava com X e Comfort, eu procurava fazer as corridas longas — que sempre pagam mal — e usava as curtinhas pra recuperar a média de quilometragem. Meu custo é muito alto, então meu km tem que render, no mínimo, R$2,00. Quando faço só Uber Black, nem preciso escolher muito, porque elas já tocam acima desse valor. Mas nas outras categorias fica um pouco inviável, então é preciso ficar escolhendo as corridas pra ver se se encaixam no que eu preciso, por conta dos custos.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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