Caio Eduardo Silva chegou à capital paulista em 2022 com uma mala, R$ 500 no bolso e uma meta na cabeça. Do trabalho pesado em um mercado à descoberta do universo das entregas por aplicativo, Caio construiu com suor e resiliência, uma trajetória que inspira muitas pessoas todos os dias, tanto nas ruas quanto nas redes sociais.
Hoje, ele vive exclusivamente do trabalho como entregador no iFood, mantém sua família com dignidade e compartilha sua rotina com seus seguidores. Entre metas diárias, semanas de trabalho intenso e encontros emocionantes com seguidores, Caio fala sobre fé, sonhos e a realidade de quem vive dos aplicativos.
Em entrevista concedida à equipe do 55content, Caio Eduardo Silva compartilhou sua história, aprendizados e visões sobre o futuro da profissão.
Conta um pouco da sua história e como você começou a trabalhar como entregador.
Meu nome é Caio, tenho 26 anos. Eu morava no Norte, no Rio Grande do Norte, aí vim para São Paulo e fiquei morando na casa de umas pessoas por um tempo. Consegui um trabalho com carteira assinada, trabalhava em um mercado, e foi lá que conheci o aplicativo iFood.
O mercado também fazia entregas, então comecei a fazer o aplicativo também. Eu pedalava mais de 15 km todos os dias para fazer as entregas de bicicleta. Com o tempo, minha renda com o trabalho CLT não estava mais sendo suficiente, porque meu custo de vida aumentou depois que trouxe minha família para São Paulo.
Cheguei aqui só com a cara e a coragem, com uma mala e R$ 500 na conta. Acredita? Vim mesmo com coragem. Comecei a fazer entregas, conheci o iFood e, depois de um tempo, comprei minha primeira moto. Ela vazava óleo por todo canto, e eu ainda estava sem habilitação.
Mas fui em busca dos meus sonhos. Trabalhando de bicicleta, muitas vezes eu chegava em casa exausto, mas sempre com objetivos e metas para alcançar. Depois disso, saí do emprego com carteira assinada e comecei a trabalhar por conta própria.
Hoje tenho uma vida bem estável. O iFood me deu uma grande oportunidade de conquistar vários sonhos. Hoje tenho um carro, que antes não tinha, tenho uma moto nova, uma Sahara Adventure, e outra moto para trabalho. Pretendo comprar mais uma moto e uma casa também. Tudo isso foi possível graças ao iFood e ao trabalho com o aplicativo.
Em que ano você veio para São Paulo?
Vim em 2022. Já fazem 3 anos que estou aqui.
Você tem família em São Paulo?
Tenho sim. Tenho esposa, tenho um filho. Pago aluguel. Lá em casa, só eu trabalho. Tudo é pelo aplicativo.
E hoje você vive completamente do aplicativo? Você trabalha só no iFood?
Eu tô só no iFood. Hoje a minha renda é 100% do iFood. Eu consigo me sustentar diretamente com ele. Pago minhas contas, pago aluguel, tudo.
E como é que é sua rotina? Você vai pra rua todo dia? Tem algum dia de folga?
Então, meu dia a dia funciona assim: eu tenho a chamada “semana maluca”, que é quando trabalho das 6 horas da manhã até 1 hora da manhã do dia seguinte. Já na semana normal, começo às 6 horas da manhã e vou até umas 6 da tarde, às vezes até 8 da noite. Aí volto pra casa. Eu fico alternando: uma semana maluca, uma semana normal.
Mas aí você vai todo dia? Sábado, domingo, feriado?
Na semana maluca sim, trabalho os 7 dias mesmo. Já na semana normal, às vezes tiro 2 dias de folga, às vezes até 4. Vai variando.
E você trabalha com alguma meta diária? Por exemplo, só volta pra casa depois que fizer tal valor?
Na semana maluca eu tenho, sim, uma meta. Normalmente é R$ 500 por dia, às vezes R$ 450. Mas na semana tranquila, se eu estiver cansado, eu paro e vou embora. Aí descanso e volto no dia seguinte.
Nessa pegada mais intensa, eu consigo tirar R$ 3.500 ou mais na semana.
E quanto que você costuma gastar com combustível? Você abastece todo dia antes de sair ou enche o tanque e vai rodando?
Vai depender da rotina. Na semana maluca, eu gasto cerca de R$ 50 de gasolina por dia. Já na semana normal, gasto em torno de R$ 30 por dia. E eu costumo abastecer antes de começar.
E quanto mais ou menos você fatura por mês? Consegue tirar quanto, assim, bruto no mês?
Ah sem contar os gastos, Na semana maluca eu faturo mais, né? Fica em torno de R$ 8.000 por mês. Já na semana tranquila, dá uns R$ 5.000 a R$ 6.000.
E quanto disso aí sobra pra você, sem contar os gastos?
Então, eu almoço na rua. A marmita é R$ 17. Tomo um café que é R$ 10. Tem a gasolina, que varia entre R$ 30 e R$ 50 por dia, dependendo da semana. Se a gente for ver assim, acho que no mínimo gasto uns R$ 600 a R$ 700 por mês com isso.
Toda semana eu troco o óleo da minha moto, porque rodo 1.000 km por semana. E tenho uma reserva também.
E aí você falou que nessas semanas malucas você roda 1.000 km na semana?
Isso. Sem parar. Eu almoço, descanso um pouquinho e volto com tudo. Na semana normal, fico mais tranquilo, mais preguiçoso mesmo. Rodo uns 700 km.
E você acha que isso funciona? Porque imagino que você fique muito desgastado, muito cansado.
Sim, com certeza. Fico cansado, mas vale a pena. Como eu te falei, a gente tem sonhos, tem metas a conquistar. E tem muitas pessoas que se inspiram em mim. Muitas vezes, alguém chega e fala: “Caio, eu vejo seus stories e me animo a trabalhar.” Então, muitas vezes eu trabalho pensando em mim, mas também nas pessoas que me acompanham. Ainda tenho muitos sonhos para conquistar. Com certeza.
E falando sobre o conteúdo nas redes sociais, como é que você começou? Como teve essa ideia de começar a produzir?
Então, foi uma coisa meio doida da minha cabeça. Um dia eu cheguei lá na praça onde eu ficava, e os meninos começaram a me gravar. Eu já vinha falando umas frases, comecei com a “frase do dia”. Fui fazendo essas frases do dia a dia e o pessoal começou a gostar.
E lá você posta seu dia a dia, dicas, essas coisas?
Sim, sim. Nos stories eu mostro meu dia a dia, desde a hora que me levanto até a hora que volto pra casa. Posto a minha rotina. Também faço umas brincadeiras com o pessoal, que gosta disso, principalmente com os clientes. Eu sou uma pessoa totalmente feliz, e isso conquista seguidores.
Tô vendo você com a camisa da Entregô. Vi que tem alguns motoboys que são parceiros. Como funciona isso?
Então, a Entregô é quem gerencia os motoboys pro iFood. Ela organiza os motoboys e o iFood em determinadas regiões. Por isso trabalhamos em uma praça concentrada. Eu faço Pinheiros, por exemplo. A Entregô organiza motoboys e o iFood em Pinheiros e em outras praças também.
É meio que uma empresa terceirizada, mas a plataforma é só o iFood mesmo. A gente emite nota, paga INSS, temos nossos direitos garantidos, tudo certinho.
E você roda só em Pinheiros ou vai para outros bairros?
Eu rodo só em Pinheiros. A gente fica concentrado por aqui. Mas, se eu quiser trocar de praça, eu troco. Se quiser ir pra Mooca, eu vou. Se quiser ir pra Osasco, também posso ir. Mas, no dia a dia, fico por aqui mesmo porque já conheço tudo. Fica mais fácil trabalhar assim.
E qual é o melhor e o pior tipo de entrega pra você? Prefere corrida mais longa ou curtinhas?
Vou te falar: as corridas mais longas aumentam mais o saldo. Por exemplo, se eu pego uma corrida de R$ 27 e um amigo pega uma de R$ 7,50, eu vou avançar mais rápido. Mas eu não escolho, não rejeito. Onde tocar, eu vou. Só que, sim, as mais longas são mais vantajosas. Muitas vezes, no tempo que o outro faz várias curtas, eu faço uma longa que compensa mais.
Tem alguma entrega que te marcou muito? Positivamente ou negativamente?
Ah, tem sim. Teve uma vez que fui na padaria pegar um pedido. Quando peguei, a moça me entregou outro pacote e falou: “A cliente pagou esse lanche pra você.” Aquilo tocou no meu coração. Foi a primeira vez que alguém pagou algo pra mim. Isso me marcou muito. Até hoje eu lembro. É difícil alguém pensar nela e também pensar no motoboy.
Qual é a principal dificuldade que vocês enfrentam?
Então, o aplicativo é uma caixa de surpresas. Tem dia que tudo dá certo: chega no cliente, ele está lá embaixo esperando; chega no restaurante, o pedido já está pronto. Mas tem dia que tudo dá errado: o pedido atrasa, o cliente não desce. São altos e baixos. Mas, no meu ponto de vista, eu só agradeço. Não reclamo de nada, graças a Deus.
Você acha que ainda vale a pena ser entregador de aplicativo em 2025?
Com certeza. O aplicativo mudou minha vida. Conquistei sonhos, coisas que não tinha lá no Norte. Eu só tinha moto atrasada, não tinha carro bom, era tudo moto velha. Cheguei aqui em São Paulo, conquistei meus sonhos, minhas coisas. Então valeu muito a pena.
E o que você diria para alguém que está querendo começar? Quais os primeiros passos para ter um bom faturamento?
O primeiro passo é ter disposição, atitude e sabedoria. Eu sofria muito. Subia ladeira empurrando a bicicleta. Às vezes, eu nem olhava o final da ladeira, só olhava pro chão pra não me desanimar.
Mas eu sabia que ia conseguir chegar. Nossa vida é uma roda gigante. Um dia estamos lá embaixo, outro dia estamos lá em cima. A vida gira, e a gente vai construindo aos poucos. Então se planejar e ser persistente.
Então você indicaria, se alguém perguntasse: “Posso ir para os aplicativos?”
Sem dúvida. Pode ir sem medo. É sair de casa com uma meta e ir embora.
O pessoal me admira muito nas redes sociais pela minha força de vontade. Falam: “Caio, você não para. Você é uma máquina.” Eu respondo: “Meu amigo, eu tenho um sonho. Se eu não correr pelo meu sonho, quem vai correr por mim?”Tem muita gente que fala: “Caio, hoje estou trabalhando bastante por sua causa. Você é minha inspiração.” Teve um dia que encontrei um seguidor na rua. Quando ele foi embora, eu chorei. Ele me abraçou, me levantou no braço, me beijou e falou com tanta alegria: “Caio, vendo seus stories, fui pra casa e agora vou trabalhar. Você me motivou demais.” Isso é o que mais gratifica.