Com mais de quatro anos atuando como entregador parceiro do Mercado Livre, Kevin Lopes transformou os desafios da rotina nas ruas em combustível para o crescimento pessoal e profissional. Morador da região metropolitana de São Paulo, ele iniciou sua trajetória ainda adolescente, fazendo entregas de pizza de moto, passou pela indústria sob regime CLT e encontrou nos aplicativos de logística uma oportunidade de independência financeira. Hoje, além de realizar entregas diariamente, Kevin administra uma pequena frota de veículos e compartilha sua rotina nas redes sociais, nas quais acumula milhares de seguidores. Em entrevista ao Clube Machine, ele relata os altos e baixos da profissão, os aprendizados ao longo do caminho, os bastidores da operação logística e as estratégias para manter a organização e a rentabilidade. Confira abaixo a entrevista completa:
Como você começou a trabalhar com entregas e qual era sua experiência profissional anterior?
Comecei com entregas quando eu tinha 15, 16 anos, fazendo entrega de pizza como motoboy. Naquela época, eu só ganhava se tivesse entrega, então variava muito: tinha semana que fazia R$ 300, outras nem R$ 100. Depois, entrei na CLT e trabalhei por 3 anos numa fábrica de aquários. Nunca tirei férias, vendi para juntar dinheiro. Comprei um carro, tirei habilitação e comprei uma moto. Quando não consegui mais me manter na CLT, pedi demissão e fiz acordo para sair.
Como foi sua entrada no Mercado Livre?
Eu já vinha pesquisando sobre o Mercado Livre no YouTube e Instagram. Comprei um e-book. Um amigo meu que trabalhava com isso me indicou. Meu carro tava com pneu careca e documento atrasado, mas tentei assim mesmo. Fiz o CNPJ, mandei a documentação para a transportadora e fui aprovado em dois dias. No início, não sabia organizar os pacotes, nem usar o aplicativo. No primeiro dia, entreguei pacote errado, perdi tempo procurando pacotes e voltei com nove. Quase desisti, mas no dia seguinte fui de novo e começei a aprender com outros motoristas. Hoje consigo fazer rota em 2 horas.
Como você organiza os pacotes para as entregas?
Os pacotes vêm com etiqueta com nome do cliente e descrição, além de uma etiqueta menor com a numeração da parada. Eu organizo assim: do 1 ao 10 no banco da frente, do 11 ao 20 no banco de trás, do 21 ao 30 do lado, e por aí vai. Isso facilita muito na hora de achar o pacote certo.
Você tem um horário fixo? Como é a logística do seu dia a dia?
Saio de casa às 6h30 e chego na base por volta de 7h30. Se a rota é cedo, começo por volta de 9h e termino ao meio-dia. Aí vejo se tem outra rota e, se tiver, faço mais uma. Tem um grupo de WhatsApp onde colocamos nosso nome para confirmar a disponibilidade para o dia seguinte. Se faltar sem avisar, toma três dias de gancho e perde um dia de pagamento.
Você já tentou trabalhar com outros aplicativos como o iFood? Por que preferiu o Mercado Livre?
Sim, tentei trabalhar com iFood usando minha moto. Fazia isso depois da primeira rota do Mercado Livre. Mas preferi colocar um motorista no carro e vender a moto, pois achei mais vantajoso. Hoje tenho dois Unos e dois Corsas. Um motorista trabalha para mim e eu uso outro carro. Prefiro o Mercado Livre, me ajudou bastante.
Como funciona o trabalho do motorista que trabalha para você?
Eu pago um valor fixo por mês para ele. Todo o dinheiro que ele faz cai na minha conta e no fim do mês eu repasso o valor combinado. Ele tá conseguindo se organizar, já vendeu a moto e comprou um carro. Vai sair logo para trabalhar por conta própria.
Quantas entregas você faz por dia? Qual é o custo com combustível?
Faço em média 60 a 70 entregas por dia. Depende da rota, algumas são boas e outras ruins, como a rural que fiz e rodei 100 km. Normalmente rodo uns 110 km por dia, incluindo ida e volta da base. Gasto entre R$ 50 e R$ 60 de combustível por dia. Tenho uma planilha onde anoto tudo, e no fim do mês gasto em média R$ 1.000 a R$ 1.500 só com combustível.
E quanto você consegue faturar por mês?
Trabalhando todos os dias, ganho cerca de R$ 300 por rota. Dá R$ 2.100 por semana, uns R$ 9 mil a R$ 10 mil por mês. Com o carro do motorista, cai uns R$ 20 mil na minha conta. Sobra em média uns R$ 5 mil a R$ 6 mil para mim.
Quais os requisitos para trabalhar com o Mercado Livre?
Tem que ter carro a partir de 2010, habilitação e MEI. Alguns lugares não aceitam quem tem passagem. Carros utilitários como Fiorino e Uno furgão recebem R$ 300 por rota. Carros de passeio recebem de R$ 240 a R$ 250. Caminhões tipo HR e Iveco recebem R$ 550, e o valor deve subir para R$ 750.
Teve alguma entrega que marcou você, seja positiva ou negativa?
Teve uma rota ruim que fiz em área rural, com estrada de terra e lama. Cheguei na casa da cliente, apertei a campainha duas vezes, e quando ela saiu, reclamou. Tentei explicar, mas ela foi grossa. Disse que na próxima não entregaria mais. Tem cliente que trata mal, mas também tem os que viram amigos, oferecem café, são muito bons.
Você costuma comer na rua ou volta para casa?
Costumo voltar para casa. Antes comia muito na rua, gastava de R$ 500 a R$ 700 por mês, só com salgados. Parei porque vi que não compensava. Hoje prefiro voltar, almoçar em casa e economizar. Comprei até uma garrafinha que esquenta comida no carro, para dias que faço duas rotas.
Como você começou a produzir conteúdo na internet?
Sempre tive vontade. Já tinha feito vídeos aos 14 anos. Comecei de verdade em setembro do ano passado. Uma prima me ajudou. Depois pedi ajuda a um amigo, o Lucas, que também é entregador e grava vídeos. Ele me orientou a criar um Instagram novo. Postei vários vídeos até um bater 1 milhão de visualizações. Ganhei muitos seguidores. Recebo muitas mensagens, algumas negativas, mas também muito apoio.
O que você costuma mostrar nos seus vídeos?
Mostro a rotina das entregas, dificuldades, cliente chato, estradas ruins, prejuízos como pneu furado ou batida. Meu foco é mais nas entregas. Não mostro muito da minha vida pessoal. Muita gente se identifica e manda perguntas.
Você recomenda trabalhar com o Mercado Livre para quem quer sair da CLT?
Depende. Sempre recomendo que a pessoa busque informação antes. Avaliar a demanda na região é essencial. Não adianta sair da CLT, comprar um carro e a demanda ser baixa. Pode acabar sem CLT e sem renda. Tem que analisar bem antes.
Como descobrir se tem galpão do Mercado Livre perto de casa?
Compra algo na Shopee ou Mercado Livre e espera o entregador. Aí você pergunta para ele onde fica a base, se tem transportadora perto. Muita gente faz isso e dá certo.
Você recebe gorjeta pelas entregas?
Sim, já recebi bastante. Em dias de chuva ou entregas em locais difíceis, alguns clientes dão gorjeta. Ajuda bastante.
Você quer deixar alguma dica?
Avalie sua situação antes de sair da CLT. Busque conhecimento. Se tiver foco, dá para conseguir. Tem outras opções também como Shopee, Lalamove. O importante é planejar antes de mudar de carreira.
