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Para concorrer com Uber no Rio de Janeiro, app Vai de Boa repassa até 85% da corrida para o motorista

Criado por motoristas e com identidade 100% carioca, o app cresceu após investir em comunicação, explodiu a base de motoristas e usa promoções para garantir mais repasse a quem roda.

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Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Carro preto visto por trás em rua molhada, com adesivos de propaganda no vidro traseiro e placa brasileira.
Foto: Vai de Boa para 55content

O Vai de Boa entrou no radar como mais um app regional tentando reequilibrar a relação entre motorista e plataforma — e, como costuma acontecer nesse ecossistema, a história começa nas ruas. Segundo Miguel Gonçalves, coordenador de marketing do aplicativo, a ideia surgiu em 2020 com outro nome. “O Vai de Boa nasce como 66X. Foi uma iniciativa do Ricardo e do Rodrigo Calegari, os fundadores, que eram motoristas de aplicativo. Eles sentiram na pele as dores do mercado e resolveram criar uma alternativa.”

Para tirar o projeto do papel, o grupo se uniu a quem tinha domínio tecnológico. “Eles se juntaram com o Charles Albert e o Carlos Augusto, sócios da Alca2C, uma empresa de telefonia e tecnologia. Dessa fusão surgiu a 66X, que depois virou Vai de Boa.” O reposicionamento não foi apenas estético: o app assumiu uma identidade explicitamente local. “A gente quis deixar claro que é uma plataforma feita no Rio, para o Rio de Janeiro”, resume Miguel.

Desde o início, a proposta se apoia em duas frentes que costumam decidir o destino dos aplicativos regionais: taxa competitiva para motoristas e preço atrativo para passageiros. “O foco sempre foi oferecer a melhor taxa do mercado para os motoristas e, ao mesmo tempo, boas condições de desconto para os passageiros.”

A virada veio com o marketing

Apesar de existir desde 2020, o Vai de Boa começou a ganhar tração de verdade quando investiu em comunicação. Essa fase é recente. “A gente começou a fazer esse trabalho ainda este ano. Eu entrei em abril”, conta Miguel. Até então, o crescimento dependia quase só do boca a boca. “O investimento era zero. A gente explorou ferramentas gratuitas para uniformizar a comunicação.”

A estratégia foi escalando por etapas. Primeiro, influenciadores digitais; depois, mídia de rua; e, por fim, TV. “O primeiro investimento foi em influenciadores. Depois vieram outdoors, panfletagem, estande do aplicativo.” Quando os resultados apareceram, a equipe decidiu buscar autoridade de marca para competir num mercado saturado. “A partir do momento em que a gente entendeu que precisava de mais força, pensamos em TV, na Record.”

A campanha entrou no ar no Balanço Geral, com apresentadores populares no Rio. “Foi com o Tino Júnior na Record. Isso ajudou muito no reconhecimento.” O reflexo foi direto na base de motoristas. “Quando eu cheguei, a gente tinha entre 200 e 300 motoristas. Hoje são 18 mil. Em menos de um ano, foi um salto muito expressivo.”

Do lado dos passageiros, o caminho ainda está em construção. São cerca de 15 mil cadastros, mas Miguel pondera que parte desse número vem de motoristas que baixam o app de passageiro para testar a plataforma. “Se a gente considerar isso, dá para dizer que uns 70% desses 15 mil são passageiros de verdade.”

Taxa menor como principal arma

A remuneração é o eixo central do Vai de Boa. A taxa padrão fica entre 10% e 15%, mas o app usa promoções agressivas para atrair motoristas. Em novembro, por exemplo, a cobrança praticamente sumiu. “A gente baixou a taxa para R$ 3 e, na Black Friday, zerou. O total da corrida foi repassado para o motorista, sem nenhum desconto.”

Para a equipe, esse tipo de ação é decisivo num cenário em que as grandes plataformas retêm fatias altas do valor. “O Vai de Boa quer mudar esse costume. Tem app que cobra 20%, 30%, até 40% do motorista. A gente quer mostrar que dá para ser diferente”, diz Miguel.

O sistema de pagamento também tenta acompanhar essa lógica de flexibilidade. O passageiro pode pagar em dinheiro, Pix direto para o motorista ou saldo interno. “O Pix vai direto para o saldo do motorista. Existe um saque mínimo de R$ 30, e normalmente ele saca na segunda-feira.” Só que essa regra não é rígida: “A configuração pode variar de acordo com a necessidade do lugar. Em período de muita demanda, como Black Friday, a gente liberou saque diário.”

Desafio no Rio: o motorista cadastra, mas não atende

Mesmo com crescimento rápido, a operação convive com um problema típico de apps iniciantes em grandes centros: o motorista está cadastrado, mas segue priorizando outras plataformas. Miguel reconhece o cenário sem rodeios. “No Rio existe uma concorrência absurda. Muitas vezes toca corrida no Vai de Boa e o motorista está finalizando outra na concorrência. Ele não consegue atender.”

Isso se traduz em cancelamentos altos. “A procura por corridas está alta para quem está começando, mas o número de corridas canceladas também é alto justamente porque o motorista não consegue dar vazão.” Hoje, para muitos condutores, o Vai de Boa ainda é uma renda complementar. “Tem motorista fazendo R$ 150, R$ 200 por dia aqui. Mas a tendência é aumentar quando mais gente vier de vez para o nosso lado.”

Identidade carioca e suporte humanizado

Se há um ponto que Miguel repete como marca do Vai de Boa é a tentativa de criar identidade local. “Ele tem um jeito carioca de ser”, define. “O nome tem uma vibe boa, é fácil, comunicativo, alegre. Isso ajuda a criar proximidade.”

A plataforma também aposta em humanizar a relação com motoristas e passageiros, especialmente no suporte. “A gente oferece atendimento 24 horas, com uma pessoa real do outro lado. O motorista consegue falar com alguém que tem nome, CEP, endereço.” O app ainda inclui “seguro corrida” para casos de acidente ou intercorrência. “A ideia é mostrar que a gente está antenado no que acontece no dia a dia de quem roda.”

Verão como próximo teste de tração

Olhando para os próximos meses, a expectativa do Vai de Boa é transformar o crescimento de base em uso consistente e ampliar sua presença para além do Rio. Segundo Miguel, a estratégia segue a lógica regional: consolidar tração na capital e na região metropolitana, com foco em reduzir cancelamentos e aumentar a recorrência de passageiros, para então avançar em novas praças onde a marca tenha aderência cultural e demanda forte por alternativa local.

A prioridade é expandir para cidades do estado e polos urbanos próximos, especialmente aqueles com grande fluxo sazonal — como áreas turísticas e litorâneas — preparando terreno para um 2026 de expansão gradual, sem perder o diferencial de taxa baixa e suporte humanizado que, na visão do app, são o motor real de fidelização.

O próximo passo é usar o verão carioca como motor de expansão. “Vamos iniciar campanhas de verão, com ações nas praias e nos pontos turísticos do Rio”, diz Miguel. O plano envolve cupons para passageiros e condições mais atrativas para motoristas. “A gente quer entrar forte em janeiro, que é quando a cidade ferve, para provar tração num momento em que a disputa é mais dura.”

No balanço de Miguel, o Vai de Boa representa bem o ciclo dos apps regionais em capitais: nasce de motoristas, acelera quando ganha visibilidade, usa taxa menor como diferencial — e ainda precisa transformar cadastro em fidelidade cotidiana. “A gente ainda tem muito para lapidar”, admite. “Mas eu acho que estamos no caminho certo.”

Foto de Giulia Lang
Giulia Lang

Giulia Lang é jornalista formada pela Fundação Cásper Líbero e há três anos cobre o mercado de mobilidade urbana e delivery pelo 55content.

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