Candidato a vereador pelo PDT quer implantar a Faixa Azul em Juiz de Fora além de registrar acidentes de motofretistas como acidentes de trabalho.
Nicolas Souza, aos 36 anos, é pré-candidato à Câmara Municipal de Juiz de Fora pelo PDT, trazendo consigo uma trajetória de trabalho diversa. Com experiências que vão desde padeiro até instrutor de trânsito, ele mergulhou no mundo das entregas por aplicativos em 2019, enfrentando de frente as dificuldades do setor. Nicolas encontrou sua vocação na mobilização e organização dos entregadores, fundando em 2023 a Associação dos Motoboys, Motogirls e Entregadores de Juiz de Fora. A sua entrada na política, pelo PDT, não é fruto de uma ambição pessoal, mas de um chamado para defender, no campo institucional, os interesses de uma categoria que enfrenta desafios diários para garantir seu sustento.
Nesta entrevista exclusiva, a equipe do 55content conversou com Nicolas sobre suas motivações, propostas e a visão que o impulsiona a buscar uma cadeira na Câmara Municipal. Nicolas compartilhou detalhes de suas iniciativas para melhorar a mobilidade urbana, assegurar melhores condições de trabalho para os motofretistas e promover o desenvolvimento econômico da cidade por meio de inovação e tecnologia.
Conte um pouco de sua trajetória como entregador.
Tenho 36 anos e já fui muita coisa: padeiro, capoteiro, vendedor de linhas telefônicas… Cursei Ciências Biológicas sem formar e Gestão Ambiental. Contudo, a maior parte da minha vida de trabalhador foi como instrutor de trânsito, por uma década, dando aulas teóricas, de carro e de moto. Quando comecei nessa área, em 2008, até aproximadamente 2013, era uma área bem remunerada, impulsionada por isenções fiscais para a indústria automobilística. Quando essa fase declinou, migrei para a condução de aplicativos em 2019, atraído pelas promessas de flexibilidade e ganhos. Porém, rapidamente percebi que os custos de manutenção inviabilizavam o serviço. Decidi mudar para a área de entregas no final de 2019, mas a pandemia atrasou meus planos. Desde então, trabalhei na Rappi, iFood, aplicativos locais e como freelancer diretamente com restaurantes. Em 2020, começamos a nos organizar localmente para enfrentar problemas como alta dos combustíveis, taxas baixas, falta de segurança e apoio. Fundamos a Associação dos Motoboys, Motogirls e Entregadores de Juiz de Fora em março de 2023, lutando em várias frentes, mas avançando sempre.
Por que decidiu entrar para a política?
Não decidi, o trabalho que fazemos é sempre de natureza política. O que temos é um espaço institucional em disputa e a tarefa dada pela categoria em disputá-lo. Não se trata de um desejo pessoal, mas de uma tarefa dentro de uma luta maior com inúmeras frentes. Sempre gostei de estar organizado em partidos, não pela vontade de ser candidato, mas pela necessidade de ter minhas ideias confrontadas por outras pessoas, o que obriga a visão pela perspectiva do outro e a busca de consensos. Nesta eleição, tenho a tarefa de disputar o cargo e, se eleito, fazer um mandato que será uma ferramenta a mais para a luta como um todo.
Quais são suas principais propostas, caso seja eleito vereador?
? Mobilidade: Faixa Azul
Implementar a Faixa Azul nas principais vias para motociclistas, aumentando a segurança e reduzindo acidentes. Essa medida visa melhorar as condições de tráfego e proteger os trabalhadores em duas rodas.
? Saúde e Segurança: Condições de Trabalho e Atendimento
Garantir que acidentes com motofretistas sejam registrados como acidentes de trabalho e proporcionar pontos de apoio com infraestrutura básica. Promover o atendimento humanizado e o suporte pós-hospitalar adequado para os trabalhadores acidentados.
? Emprego: Programa Emprega JF
Desenvolver um aplicativo para conectar candidatos a empregos com empresas e a prefeitura, oferecendo notificações de vagas e suporte logístico como passagens para entrevistas. Facilitar a busca e a integração no mercado de trabalho local.
? Capacitação: Programa Capacita JF
Oferecer cursos gratuitos de formação profissional para trabalhadores, promovendo o desenvolvimento de habilidades em áreas de alta demanda e incentivando o empreendedorismo local. Focar em qualificação para setores variados, incluindo tecnologia e negócios.
? Inovação e Tecnologia: Fomento à Inovação
Incentivar o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e criar parcerias com universidades e centros de pesquisa. Estimular a inovação para melhorar as condições de trabalho e promover o crescimento econômico sustentável na cidade.
Por qual partido você irá concorrer e como definiria seu pensamento político?
Sou filiado ao Partido Democrático Trabalhista (PDT) desde o fim de 2020. Me filiei por me identificar com os princípios do partido, e por ele possuir um Projeto Nacional de Desenvolvimento, hoje capitaneado por Ciro Gomes. Achava incompreensível um partido com uma história que se entremeia com a própria História do Brasil, cuja linha política seria responsável inclusive pela transformação do país de rural em urbano, de agrário em industrial, estar perdido em pequenas disputas por cargos e poder. Senti necessidade de estar dentro para disputar o que fez do PDT o PDT.
Minha candidatura pelo partido é justamente a de quem quer ajudar, junto com vários companheiros, a resgatar esse legado. Tarefa ainda mais difícil do que a eleição em si, acredite. Mas sentar e chorar não é exatamente uma opção. Sou trabalhista, brizolista, nacional-desenvolvimentista, defendo a soberania nacional, tanto democrática quanto tecnológica e territorial, bem como a educação como motor para atingir o desenvolvimento e essa soberania, com plena geração de emprego e renda pelas nossas próprias mãos, de criação e responsabilidade do nosso povo, sofrido mas trabalhador, criativo e tolerante, com inúmeras riquezas ao alcance das mãos.
Como pretende usar um possível cargo de vereador para ajudar na construção de uma possível regulamentação federal?
Em Juiz de Fora mesmo temos uma regulamentação construída sobre a lei 12.009/09. Várias outras cidades possuem.
E aí vem o grande desafio: como o debate está em nível federal, os municípios ficaram amarrados, pois uma regulamentação federal pode jogar o esforço no lixo.
É importante notar que existe um conjunto de leis muito bem definidas acerca da nossa profissão. A regulamentação não deve vir da vontade das empresas em rebaixar o que já temos, ela que não conte conosco para isso. Então, em esfera municipal, podemos construir muitos avanços sem destruir o que já está posto.
Ainda na cidade, temos a lei do ponto de apoio: empresas de app que quiserem operar aqui são obrigadas a instalar o ponto de apoio. Isso não contraria nenhuma legislação previamente estabelecida, pelo contrário: reforça o que já era estabelecido na Constituição e na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Em resumo, tem muito o que ser feito à nível municipal, principalmente no que toca a saúde e segurança no trabalho, trânsito e infraestrutura viária, profissionalização. A regulamentação é um interesse primordial das plataformas que querem rebaixar o que já está estabelecido no arcabouço jurídico vigente. Só vamos trabalhar nisso se for pra avançar: pra que fazer gol contra? Nesse meio tempo, tem muitos problemas concretos para resolver.
Como você se diferencia dos demais entregadores candidatos à vereador?
Temos os mesmos objetivos e conversamos entre nós. O desejo é o de que possamos manter sempre esse diálogo e tarefas conjuntas. Não acredito em lobos solitários. Todos queremos o melhor para o trabalhador, em especial o entregador, e as diferenças ficam por conta de formações individuais. Tenho certeza de que nenhum outro sabe tocar violino, por exemplo, ao mesmo passo em que eu não sei fazer rap (tem pelo menos dois outros que sabem). E essas habilidades e formações se misturam e contribuem entre si, formando a amálgama necessária para a construção do pensamento coletivo, ingrediente fundamental de uma sociedade justa e livre.