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Motoristas de app precisam faturar R$ 300 nos dias úteis e R$ 450 ou R$ 500 nos finais de semana

O influenciador Lucas Dias comenta: “a Uber anunciou que se tornou o app de transporte mais barato do mundo, e isso provavelmente está refletindo na redução dos ganhos dos motoristas.”

Homem de barba, usando camisa de gola alta vermelha, sentado em um carro com cinto de segurança afivelado.
Foto: Lucas Dias para 55content

Lucas Dias começou sua trajetória como motorista de aplicativo em Portugal antes de retornar ao Brasil e expandir sua atuação para além das corridas. Hoje, divide sua rotina entre as plataformas de transporte e um negócio de vendas no carro, além de investir na criação de conteúdo digital. Seu perfil @uberhistorias surgiu após várias tentativas frustradas de ingressar no mundo dos influenciadores, mas se destacou ao abordar os desafios e bastidores da profissão.

Com a experiência de quem já viu a remuneração dos motoristas cair ao longo dos anos, ele critica a redução das tarifas e o aumento dos custos operacionais. Para ele, a maior dificuldade de ser motorista é a incerteza financeira, enquanto o desafio de ser influenciador é manter a constância na produção de conteúdo.

Então, como você se tornou motorista de aplicativo e como decidiu se tornar influenciador? Quando começou a postar conteúdos na internet?

Lucas Dias: Certo, eu me tornei motorista de aplicativo quando voltei de Portugal. Eu precisava trabalhar e, como já tinha experiência com isso lá, foi uma transição tranquila.

Sobre as redes sociais, sempre tive vontade de criar conteúdo e compartilhar minha rotina. Tentei diversos perfis em nichos diferentes, mas nenhum deu certo. No total, foram 11 tentativas sem sucesso. Finalmente, quando comecei a produzir conteúdo sobre aplicativos de transporte, surgiu o perfil Uber Histórias, que deu muito certo, graças a Deus.

Atualmente, não trabalho como motorista full time, pois tenho um negócio paralelo que também está ligado a essa categoria. Meu foco é mais na criação de conteúdo. Se antes minha meta era fazer R$ 400 por dia, hoje é R$ 200. Nos próximos dias, vou retomar uma rotina mais intensa, rodando em Brasília, Goiânia ou Belo Horizonte para gerar mais conteúdo.

E você é motorista desde quando? Começou em Portugal?

Lucas Dias: Sim, comecei em Portugal entre 2017 e 2018. Voltei para o Brasil no final de 2018 e comecei a rodar aqui em 2019. Estou nessa até hoje.

Quantas horas você trabalha por dia para atingir sua meta de R$ 200?

Lucas Dias: Isso varia muito. Não sou do tipo que roda o dia todo. Faço dois turnos: um de manhã, das 5h ou 6h até umas 8h ou 9h, e outro à tarde, das 17h ou 18h até 21h, 22h ou 23h.

Minha renda não vem apenas dos aplicativos. Tenho um projeto de vendas no carro. Você já ouviu falar disso?

O que você vende?

Lucas Dias: Vendo perfumes de bolso, hidratantes, cremes para pele e maquiagem. Esse projeto começou com um amigo e, juntos, decidimos expandi-lo pelo Brasil. No Centro-Oeste, já é bem conhecido e, em apenas dois dias de divulgação em Belo Horizonte, a demanda cresceu muito. Para você ter uma ideia, em um dia recebi 300 mensagens no WhatsApp de pessoas interessadas.

Cada motorista que entra nesse projeto investe entre R$ 700 e R$ 1.000 para comprar os produtos e montar a estrutura no carro. A partir disso, começa a vender.

Esses R$ 200 são faturamento ou lucro?

Lucas Dias: É faturamento, apenas dos aplicativos. Além disso, tenho uma meta de R$ 200 em vendas. No total, trabalho menos horas e ainda consigo atingir o que antes fazia trabalhando full time.

Você começou a ser motorista em Lisboa e depois veio para o Brasil. Acha que era mais fácil antes? No sentido de ganhar mais dinheiro, era melhor em Portugal? A Uber paga mais lá?

Lucas Dias: Em Portugal, na época, eu ganhava um pouco melhor do que hoje. Antes da pandemia, tanto lá quanto aqui, a Uber pagava melhor. Mas atualmente, em Portugal, o valor das corridas é ainda menor do que no Brasil.

Para você ter uma ideia, uma corrida de 10 km lá não paga 10 euros, enquanto no Brasil, na maioria dos casos, paga-se pelo menos R$ 1 por km. Em algumas cidades, como Belo Horizonte, dá para conseguir R$ 2 por km. Antes da pandemia, a remuneração era muito melhor, mas com o desemprego aumentando e a facilidade de se tornar motorista, a concorrência cresceu muito. Com mais oferta de motoristas do que demanda de passageiros, as tarifas caem.

Quais são os maiores desafios de ser influenciador? As críticas, a falta de apoio, a criatividade?

Lucas Dias: O maior desafio nem é lidar com os haters. Na verdade, eles ajudam, porque comentam, compartilham e engajam com o conteúdo, mesmo que negativamente. O verdadeiro desafio é manter a constância na criação de conteúdo.

Se você não for constante, o crescimento para. Eu já passei por isso. Tive uma fase em que postava pouco e meu perfil estagnou. Quando voltei a postar regularmente, tudo voltou a crescer. Hoje, entendo que a chave é consistência. É um desafio para muita gente e já foi para mim, mas agora não mais.

E na época que você começou, Lucas, você comentou sobre sua meta de R$ 400 diários. Sempre foi essa meta? Com o tempo, conforme você se tornou influenciador, você diminuiu esse valor? Como foi essa transição?

Lucas Dias: Na verdade, minha meta começou em R$ 400 por um período e depois se tornou variável. Durante a semana, eu mantinha R$ 400, mas aos sábados aumentava para R$ 600 ou R$ 700. Era possível atingir esses valores. Hoje, a realidade é diferente. Acredito que uma meta ideal seja de R$ 300 nos dias úteis e, para quem trabalha nos finais de semana, aumentar para R$ 450 ou R$ 500.

Isso tem relação direta com a redução das tarifas e o aumento da concorrência entre motoristas, o que impactou os ganhos. Por isso, hoje uma meta pé no chão é de R$ 300 durante a semana e R$ 400 a R$ 500 aos finais de semana.

Muitos motoristas comentam que as tarifas dinâmicas e promoções diminuíram. Qual é a sua visão sobre isso? Mudou mesmo? Como você enxerga esse cenário?

Lucas Dias: Sim, realmente houve uma redução no valor ganho pelos motoristas. Isso está diretamente ligado à relação de oferta e demanda. Com mais motoristas no mercado, a remuneração cai.

Recentemente, a Uber divulgou que se tornou o aplicativo de transporte mais barato do mundo, e acredito que isso esteja se refletindo na redução dos ganhos dos motoristas.

O maior desafio hoje é o aumento dos custos operacionais. Se compararmos com o início, os preços subiram significativamente. Eu já paguei R$ 4,59 no litro da gasolina. Hoje, em Belo Horizonte, Goiânia e Brasília, o valor está por volta de R$ 6,59. O aluguel do carro também aumentou. Antes, pagava-se R$ 430 ou R$ 450 por semana; hoje, está em torno de R$ 700 ou R$ 800.

Quando os custos sobem, mas os ganhos permanecem os mesmos ou até diminuem, a conta não fecha. Para manter-se no mercado, muitos motoristas têm que abrir mão de aspectos da vida pessoal para continuar na profissão.

Com essa diminuição nas tarifas e o aumento dos custos, o lucro final do motorista também é impactado. Quais são os maiores desafios de ser um motorista de aplicativo hoje?

Lucas Dias: O maior desafio é enfrentar a incerteza todos os dias. A pressão financeira gera ansiedade. Se um motorista tem uma conta a pagar, mas as corridas estão fracas, a tensão aumenta. O trabalho depende de fatores externos como o volume de passageiros e a quantidade de motoristas ativos.

Outro desafio é o custo operacional, que é alto. Além disso, a remuneração oferecida pelos aplicativos nem sempre cobre os gastos, obrigando o motorista a buscar estratégias para maximizar os ganhos.

Qual foi a maior lição que você aprendeu como motorista de aplicativo e influenciador?

Lucas Dias: A maior lição foi aprender a lidar com diferentes pessoas. Com o tempo, percebi que muitas pessoas não valorizam o trabalho do motorista de aplicativo. Infelizmente, no Brasil, há um grande menosprezo por essa profissão.

Como influenciador, aprendi que o público valoriza mais conteúdos negativos do que informações de qualidade. Tragédias e polêmicas geram mais engajamento do que informações útis. Isso é um reflexo da dinâmica das redes sociais, onde curtidas e comentários são maiores em conteúdos impactantes negativamente.

Para quem está começando a trabalhar com aplicativos, quais dicas você daria?

Lucas Dias: A principal dica é ter paciência. Tanto com você mesmo quanto com os clientes.

Também é essencial conhecer bem o movimento da cidade. Isso impacta diretamente na estratégia de trabalho. Saber onde e quando rodar é crucial para maximizar os ganhos.

Por exemplo, às segundas-feiras de manhã, é melhor rodar nos bairros do que no centro da cidade. Aos sábados, a estratégia muda entre o período da manhã e da noite.

Entender esses padrões e criar uma estratégia bem estruturada é essencial para ter sucesso como motorista de aplicativo. Além disso, ter paciência é fundamental, pois o aprendizado vem com o tempo e os erros fazem parte do processo.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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