Motoristas de app pagam R$ 49,90/mês e podem abastecer a preço de custo e sem filas: motoristas criam cooperativa para auxiliar trabalhadores

Foto Natanael Brandão para 55content
Foto: Natanael Brandão para 55content

Na entrevista a seguir, Natanael Brandão, fundador da ABRACE — Cooperativa Brasileira de Apoio aos Condutores de Aplicativo e Entregadores Autônomos, compartilha os desafios e as motivações que levaram à criação da iniciativa. Fundada em Maringá, no Paraná, a cooperativa surgiu em 2019 como resposta a um problema recorrente enfrentado pelos motoristas de aplicativos: o descaso e a falta de suporte no cotidiano de trabalho.

Natanael revela como transformou essa percepção em um modelo de negócios que combina redução de custos operacionais, automação e atendimento exclusivo aos cooperados. Com mais de 4.500 membros em sua cidade, a ABRACE oferece combustível a preço de custo, serviços de higienização, manutenção e proteção veicular. Confira os detalhes abaixo:

Natanael, eu queria saber, primeiro, como foi o início da cooperativa. De onde ela é e como foi criada?

Natanael: A cooperativa nasceu de uma necessidade que percebi em 2019, logo após a greve dos caminhoneiros. Na época, eu tinha uma empresa de distribuição de combustível para postos de gasolina. Durante o trabalho com esses postos, percebi que os motoristas de aplicativo não recebiam um atendimento adequado. Eles eram tratados como clientes de segunda classe nos postos. Por exemplo, ao abastecer com valores menores, como R$ 50, os frentistas reclamavam se eles pedissem serviços adicionais, como limpar retrovisores ou colocar pretinho nos pneus. Essa percepção de descaso motivou a criação da cooperativa.

Entendi. Vocês são de qual cidade?

Natanael: Somos de Maringá, no Paraná.

E como a cooperativa funciona atualmente?

Natanael: Hoje, a cooperativa atende toda a nossa cidade e tem como objetivo reduzir os custos operacionais dos motoristas. O combustível, sendo a maior despesa deles, é nosso foco principal. Além disso, oferecemos um espaço de higienização e limpeza, onde os próprios motoristas podem cuidar de seus veículos. Criamos também uma startup para gerenciar tudo isso, focada especificamente nos motoristas de aplicativo.

A cooperativa é, então, uma startup que ajuda os motoristas com combustível e cuidados com o carro. É isso?

Natanael: Exatamente. O motorista se torna um cooperado, pagando uma taxa mensal, e tem acesso a diversos benefícios, como combustível a preço de custo, proteção veicular, serviços de limpeza, manutenção de pneus e outros produtos e serviços.

E quais são os critérios para alguém se tornar cooperado?

Natanael: Para ser cooperado, a pessoa precisa estar ligada a uma plataforma de mobilidade urbana ou entregas, como Uber, 99, Mercado Livre, iFood, entre outras. Isso está definido no nosso estatuto. Assim, garantimos que cada cooperado esteja dentro do perfil esperado.

Há alguma taxa de contribuição?

Natanael: Sim. A contribuição mensal é de R$ 49,90. Essa taxa permite que a cooperativa tenha acesso a produtos com desconto e possa repassá-los aos cooperados. É assim que nos fortalecemos e conseguimos oferecer mais benefícios com o tempo.

O pagamento é feito como?

Natanael: Tudo é feito via nosso aplicativo. O cooperado paga a assinatura de forma recorrente com cartão de crédito, faz a reserva do combustível e abastece de maneira autônoma. O controle é feito por leitura de placa e Face ID, garantindo segurança e eficiência. Não recebemos dinheiro no local; tudo já está previamente reservado pelo app.

Então os motoristas não podem simplesmente chegar e abastecer?

Natanael: Não, aqui o abastecimento só acontece mediante reserva prévia pelo aplicativo. Esse é um dos nossos diferenciais. O motorista acessa o app, reserva a quantidade de combustível que deseja e realiza o pagamento diretamente na plataforma. Quando ele chega ao ponto de abastecimento, tudo já está automatizado.

E como essa automação funciona?

Natanael: Quando o motorista chega, a placa do carro dele é identificada por uma câmera, que verifica se ele tem combustível reservado. Se tiver, o sistema libera o acesso. O motorista, então, utiliza um cartão específico para estartar a bomba e abastecer. Tudo isso ocorre sem intervenção humana. Caso ele não tenha feito a reserva, não consegue abastecer. Isso é fundamental porque não operamos como um posto de gasolina comum, mas sim como um ponto de abastecimento exclusivo para cooperados que já planejaram sua necessidade previamente.

E se ele não fizer a reserva antes?

Natanael: Sem a reserva, ele não consegue nem ligar a bomba. O modelo foi pensado assim para garantir a organização e o controle do combustível que disponibilizamos. O objetivo é que o motorista chegue ao local sabendo exatamente o que já está reservado para ele, sem filas ou imprevistos. É uma forma de tornar o processo mais eficiente e evitar desperdícios.

Então tudo precisa ser antecipado?

Natanael: Exatamente. O motorista faz a reserva no app, e quando chega aqui, só utiliza o que já está reservado. Isso também garante que ele tenha acesso ao combustível a preço de custo, já que eliminamos intermediários. Além disso, ele pode aproveitar outros serviços, como limpeza e higienização, tudo incluído na mensalidade.

Vocês têm parcerias com postos de combustível ou empresas?

Natanael: Não temos parcerias com postos, pois temos nosso próprio ponto de abastecimento. Trabalhamos diretamente com distribuidoras e utilizamos modelos como CrossDoc ou Dropship. Também temos parcerias com oficinas e associações que oferecem suporte técnico e proteção veicular.

Quais são os principais desafios da cooperativa? Vocês buscam expandir ou atrair mais cooperados?

Natanael: Nunca fizemos campanhas para atrair cooperados; tudo tem sido de forma orgânica. Temos hoje cerca de 4.500 cooperados em Maringá. Nosso foco é entender melhor as necessidades dos motoristas e fortalecer a base da cooperativa. Além disso, enfrentamos desafios, como a resistência de postos de gasolina que se sentem ameaçados pelo nosso modelo.

Vocês planejam expandir para outras cidades?

Natanael: Sim, já estamos em processo de expansão para outros estados e estudando a viabilidade em cerca de cinco cidades. Nosso objetivo é ampliar o modelo e beneficiar mais motoristas.

Algo mais que gostaria de acrescentar?

Natanael: É importante regularizar e organizar a categoria dos motoristas de aplicativo. Muitos municípios ainda não têm leis claras, e isso dificulta o controle e a segurança. A cooperativa ajuda nesse sentido, pois temos informações detalhadas sobre nossos cooperados, como veículos e localização, o que poderia ser útil para as prefeituras. Nosso objetivo é oferecer um serviço seguro e confiável tanto para motoristas quanto para passageiros.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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