Alan Corrêa, um dos criadores do app, diz que todo lucro excedente é dividido ou investido na estrutura da cooperativa.
Em um mercado dominado por aplicativos internacionais, a Cooperativa MoradaCar surge como uma alternativa para motoristas de aplicativo na cidade de Araraquara, São Paulo. Liderada pelo motorista de app Alan Corrêa e outros integrantes, a cooperativa busca oferecer uma solução mais justa e humana para os trabalhadores do setor, além de reduzir os custos operacionais e proporcionar um suporte diferenciado. Neste modelo cooperativo, todos os motoristas têm voz ativa, e os lucros são compartilhados ou reinvestidos em benefícios para os associados.
Nesta entrevista, Alan Corrêa detalha como a MoradaCar foi criada, os desafios enfrentados para competir com as multinacionais e as metas de expansão. Ele também explica os benefícios oferecidos aos motoristas e como o apoio do governo tem sido fundamental para impulsionar o projeto. Confira como a MoradaCar pretende transformar a experiência dos motoristas de aplicativo e consolidar-se como uma referência em economia solidária no Brasil:
Por que você decidiu criar o aplicativo e a cooperativa?
A ideia de criar o aplicativo surgiu a partir de uma iniciativa minha e de dois amigos, quando fomos à Prefeitura pedir um ponto de apoio para motoristas e uma área destinada a embarques e desembarques na cidade. Na época, nos apresentaram o projeto Cooperararaquara, que incentiva a formação de cooperativas e oferece suporte financeiro e administrativo por três anos. Decidimos formar uma cooperativa, que exigia inicialmente 20 motoristas. Com o passar do tempo, participamos de um edital que nos permitiu adquirir nosso próprio aplicativo. Começamos os testes em dezembro, e planejamos lançá-lo oficialmente em fevereiro, quando as aulas retornarem.
Como funciona a estrutura da cooperativa?
Atualmente, contamos com 100 motoristas cooperados. Esses motoristas pagam uma taxa mensal de R$35, usada para cobrir custos operacionais da cooperativa. Os cooperados pagam uma taxa menor pelas corridas, inicialmente estimada em 10%. Para os não cooperados que entrarem posteriormente, a taxa será de 20%, ainda inferior às cobradas por aplicativos internacionais como Uber. Um diferencial importante é que, como cooperativa, todo lucro excedente é decidido em assembleia. Podemos dividi-lo entre os cooperados ou reinvesti-lo na estrutura da cooperativa. Além disso, não somos apenas um aplicativo: somos uma cooperativa de transporte. Planejamos expandir nossas atividades para outros segmentos, como transporte de cargas, contratos com grandes empresas e serviços de guincho.
Quais são os benefícios oferecidos aos motoristas?
Nosso ponto de apoio na rodoviária de Araraquara é completo, com banheiros, água, geladeira, micro-ondas e um espaço para descanso. Também realizamos treinamentos sobre cooperativismo e o funcionamento do aplicativo, garantindo que todos estejam preparados antes de começarem a operar. Além disso, temos parcerias que oferecem vantagens exclusivas, como:
- Descontos em medicamentos: Parceria com a rede Droga Vem, oferecendo até 50% de desconto em medicamentos.
- Serviços automotivos: Convênio com a Casa dos Pneus e empresas de peças, possibilitando economias significativas em manutenção de veículos. Esses benefícios visam reduzir os custos operacionais dos motoristas e aumentar sua rentabilidade.
Quais são as metas da cooperativa?
Nos dois primeiros meses de operação, o aplicativo MoradaCar está em fase de testes, com uma média de 50 a 100 corridas diárias realizadas pelos cooperados. A expectativa é expandir após o lançamento oficial, em fevereiro, quando intensificaremos nossa divulgação. Nossa meta inicial é atingir 300 motoristas cadastrados para atender à demanda da cidade, que tem cerca de 250 mil habitantes. A longo prazo, pretendemos dominar o mercado local, como já aconteceu em cidades vizinhas, e expandir para outras regiões.
Como a cooperativa pretende competir com as multinacionais?
Sabemos que a competição com aplicativos internacionais é desafiadora. Porém, nosso diferencial está no suporte e nos benefícios oferecidos aos motoristas, além do modelo cooperativo, onde cada motorista é dono do negócio. Nosso foco é conscientizar os motoristas de que, mesmo que a curto prazo algumas promoções de concorrentes possam parecer vantajosas, no longo prazo, trabalhar com a cooperativa é mais rentável e seguro.
Qual é o papel do governo no crescimento da cooperativa?
Com o apoio do governo federal, através de projetos de economia solidária, temos a oportunidade de expandir ainda mais. Já tivemos conversas com o ministro Luiz Marinho e o secretário Gilberto Carvalho e estamos preparando um projeto para concorrer a financiamentos do BNDES e outros programas. Recentemente, adquirimos uma Fiorino, que será usada para dar suporte aos motoristas na rua, como em casos de problemas mecânicos.
Qual mensagem você gostaria de deixar para os motoristas?
Nosso objetivo é oferecer aos motoristas tudo o que os aplicativos internacionais não proporcionam: suporte, estrutura e a chance de participar ativamente na gestão do negócio. A cooperativa não é apenas um aplicativo, é uma comunidade que trabalha junta para crescer e se fortalecer.