Lethicia Queiroz é motorista de aplicativo em Balneário Camboriú, Santa Catarina, e criadora do perfil @letdriverbc, com o qual compartilha dicas e bastidores da rotina nas plataformas de mobilidade. Depois de fechar sua loja física de eletrônicos e começar a trabalhar com entregas na região, ela viu nos aplicativos uma forma de unir autonomia, estratégia e um faturamento consistente, chegando a ultrapassar R$ 14 mil mensais com as corridas. Lethicia combina viagens com vendas, organiza sua rotina com foco e constância, conforme conta, utiliza ferramentas como tablet e planilhas para otimizar ganhos, e defende que conhecer a cidade e manter uma rede de apoio entre motoristas é essencial para o sucesso na profissão. Além disso, atua como mentora de novos motoristas, promovendo educação financeira, planejamento e mentalidade estratégica. Confira abaixo a entrevista completa:
Como você começou a trabalhar com aplicativos de transporte? Você tinha outra profissão antes?
Antes de entrar nos aplicativos, eu tinha uma loja de assistência em celulares e eletrônicos. Eu fazia muitas entregas para cidades próximas e pensei em instalar a Uber para me ajudar a me locomover. Comecei nesse sentido, como se fosse apenas para locomoção. Com o tempo, as vendas pela internet começaram a crescer, e percebi que estava fazendo mais entregas do que vendendo na loja física. Aí fechei a loja e foquei nas vendas on-line. Quando comecei nos aplicativos, eu não tinha noção de como funcionava. Rodava, rodava e não via dinheiro. Vi que precisava aprender. A partir daí, comecei a me interessar de verdade e quis entender como rodar corretamente.
Há quanto tempo você trabalha com aplicativos?
Vai fazer quatro anos agora, quase no final do ano.
Quando você começou a perceber que estava conseguindo ganhar dinheiro com os aplicativos?
Mais ou menos há uns dois anos, eu comecei a perceber que estava conseguindo fazer dinheiro e ter resultado.
Como é a sua rotina de trabalho no dia a dia? Você segue horários fixos?
Eu procuro manter uma rotina. Acredito que constância e foco trazem resultados. Saio entre 5h30 e 6h para pegar o pico da manhã. Trabalho até umas 8h, dou uma pausa, e retorno entre 9h30 e 10h. Fico até umas 19h, 19h30. Nesse tempo, faço vendas, entregas e corridas, conciliando tudo. Nem todos os dias tenho muitas vendas, mas na maioria, sim.
Você organiza as entregas e as corridas conforme a demanda dos aplicativos?
Sim, faço as entregas nos horários de baixa demanda. Para o motorista que não tem essa função de vendas como eu, o horário de pico é essencial. Não adianta querer sair só às 18h, por exemplo.
Você costuma almoçar em casa ou passa o dia inteiro na rua?
Procuro almoçar em casa. Faço pausas curtas, chego, almoço e já saio. Não gosto de ficar na rua à noite durante a semana. Tento bater minha meta até 19h, 19h30 para poder dormir cedo e acordar cedo. No fim de semana, mudo totalmente a estratégia, sigo o fluxo de demanda.
Nos finais de semana você tem uma rotina fixa ou varia de acordo com a demanda?
No final de semana, priorizo o fluxo de demanda. Sábado, por exemplo, costumo virar a noite, porque é quando tem muita balada. Balneário é uma cidade muito noturna, então o sábado à noite rende mais. Durante o dia descanso e trabalho à noite.
Conhecer a cidade onde se trabalha faz diferença para o rendimento como motorista de aplicativo?
Faz muita diferença. Quando comecei, eu conhecia, mas não tão profundamente. Hoje, sei que determinada rua vai tocar para determinados bairros. Isso vem com a experiência. Comprei um tablet que otimizou meus ganhos. Conhecendo a região, consigo associar corridas: finalizo uma da Uber e já encaixo outra da 99, porque sei que é ali perto. Isso otimiza meu trabalho e evita que eu fique parada.
Quais aplicativos você utiliza para trabalhar?
Uso Uber, 99 e inDrive. Na inDrive, eu comecei agora, já tive problema com passageiro, porque tudo precisa ser resolvido diretamente com ele. É bom porque consigo tirar um valor melhor, mas dá muita dor de cabeça.
Quais são suas metas de faturamento diário e semanal?
Tento estabelecer metas alcançáveis. A meta diária é de R$ 400, mas sempre ultrapasso. A meta semanal é de pelo menos R$ 3 mil. Geralmente, folgo um dia da semana e trabalho no final de semana, que tem mais demanda.
Qual o seu faturamento mensal médio apenas com os aplicativos?
A média é entre R$ 12 mil e R$ 13 mil por mês. No mês passado, consegui fechar R$ 14.900 e pouco, foi um mês muito bom, me dediquei bastante.
Qual foi o maior valor que você já conseguiu faturar em um único dia?
Foi na Páscoa deste ano, durante um evento chamado Green Valley. Fiz algumas corridas particulares e outras pelos aplicativos, fechando R$ 1.340. Esse foi meu maior faturamento em um dia, em cerca de 14 a 15 horas de trabalho.
Quantos quilômetros você costuma rodar por dia?
O máximo que costumo rodar para fazer mais de R$ 400 é, em média, 200 km por dia. Isso, já incluindo as entregas. Sempre falo nos stories: “Isso que eu já estou contando aqui com as entregas, tá?”. A nossa região paga muito bem. Se você souber trabalhar, se conhecer a região, você consegue fazer R$ 2 por km tranquilamente todos os dias.
Você já evitou prejuízos por conhecer bem a cidade?
Sim. Balneário tem muito trânsito, e conhecendo bem a cidade, consigo evitar determinadas regiões e horários de pico. O aplicativo costuma errar no tempo das corridas, então sei que, mesmo dizendo que vai levar 20 minutos, pode levar 40. Também me posiciono melhor em eventos.
Você costuma se planejar com antecedência para eventos da cidade?
Sim. Por exemplo, sei que hoje tem a saída de um evento evangélico às 22h. Já sei que preciso estar naquela área naquele horário. Vou direcionando as corridas para ir me aproximando sem precisar me deslocar sozinha.
Você já tentou rodar em outras cidades além de Balneário?
Sim, já rodei em Floripa, Brusque, Ilhota, Blumenau, Joinville, Porto Belo, Bombinhas… mas prefiro rodar na minha zona de conforto, onde conheço e sei como funciona a demanda.
Rodar em outras cidades afeta seu faturamento?
Sim, até por conta da tarifa. Entre Balneário e Florianópolis, por exemplo, a diferença chega a R$1 na tarifa mínima. Isso faz diferença no final do dia.
Vocês têm algum tipo de comunidade para se comunicar entre os motoristas?
Sim. Durante 3 anos eu rodei sozinha, sem grupo nenhum. Hoje, temos um grupo no WhatsApp com mais de 250 motoristas, chamado “Drivers”. A gente se ajuda muito: trânsito, eventos, onde tem dinâmica. Rodar em grupo faz muita diferença.
Você quer deixar uma mensagem para quem tá começando, algo talvez que você gostaria de ter escutado quando você começou?
Sim, tem tanta coisa que eu gostaria de ter escutado quando comecei. Hoje, eu ajudo algumas pessoas que estão começando em questão de mentoria. O que eu mais gostaria de ter escutado no começo era sobre controle financeiro. Todos os dias a gente ganha dinheiro, e não é fácil controlar. Também falo sempre sobre a importância de escolher bem as corridas em relação a tempo e quilometragem, conhecer a região, observar os lugares que você vai. Eu falo muito sobre foco, constância, determinação: visualizar um valor e só voltar para casa depois de alcançar. Acredito muito nisso.