O dia a dia de um motorista de aplicativo vai muito além das corridas. Éder Ribeiro sabe bem disso. Motorista desde 2016, ele aprendeu a driblar desafios, otimizar ganhos e ainda encontrou tempo para compartilhar sua experiência com outros motoristas. Foi assim que nasceu o podcast Resenha na Pista, criado ao lado de Ronaldo, trazendo conversas reais sobre a rotina nas plataformas. Nesta entrevista, Éder conta como entrou no ramo, como concilia as longas jornadas com a produção de conteúdo e quais os principais desafios da profissão. Confira!
Semana passada conversamos com o Ronaldo, que trabalha com você no podcast Resenha na Pista, e hoje a entrevista é com você. Para começar, como se tornou motorista de aplicativo e o que o levou a criar esse projeto com o Ronaldo e produzir conteúdo para as redes?
Éder: Eu tinha uma empresa de motoboy junto com meu irmão, mas um dia, indo para lá, sofri um acidente de moto e fraturei três costelas. Fiquei sem trabalhar e em casa. Um amigo, que já era motorista de aplicativo em 2016, me falou sobre a possibilidade de ganhar uma grana e resolvi entrar no aplicativo. Comecei nas plataformas em 2016 porque estava parado devido ao acidente.
O podcast surgiu inicialmente como lives no Instagram, algo que fazíamos para nos distrair e conversar com outros motoristas. Queríamos entender a realidade de motoristas em outras cidades, como funcionavam as plataformas e as corridas em diferentes regiões. Nosso público, que acompanhava as lives, sugeriu que transformássemos o conteúdo em um podcast. A partir dessa ideia, buscamos um estúdio e os recursos necessários para lançar o podcast. Assim, algo que começou como uma distração virou um projeto influenciado pelo público.
Perfeito. E você continua trabalhando como motorista e precisa conciliar isso com o podcast, certo?
Éder: Exatamente. Ainda trabalho entre 50 e 60 horas semanais na plataforma.
50 a 60 horas semanais. Isso dá quantas horas por dia, mais ou menos?
Éder: Depende do dia. Quando tenho gravação do podcast, trabalho apenas duas ou três horas. Já nos dias em que estou livre, especialmente no sábado e domingo, trabalho entre 10 e 12 horas. Durante a semana, trabalho algumas horas por dia, e no final de semana concentro a maior carga horária. O final de semana é mais lucrativo, pois o trânsito é menor e é possível faturar mais com menos horas trabalhadas.
Entendi. Como você organiza essas horas de trabalho? Você segue alguma meta?
Éder: Sim, estabeleço uma meta semanal de R$ 3.000 dentro dessa carga horária de 50 a 60 horas. Divido esse valor ao longo da semana: R$ 300 por dia de segunda a quarta. Na quinta, normalmente, não trabalho ou trabalho pouco, pois meu carro tem rodízio e também é dia de gravação do podcast. Já sexta, sábado e domingo são os dias em que busco fazer R$ 2.000 no total.
Geralmente, trabalho da tarde para a noite. Começo entre 13h e 14h e vou até meia-noite ou 1h da manhã.
Você seleciona muitas corridas? Usa algum aplicativo para ajudar na escolha? Aceita corridas a partir de R$ 1,60 por quilômetro?
Éder: Depende da região. Onde moro, as corridas longas pagam cerca de R$ 1,50 a R$ 1,60 por quilômetro. Às vezes, aceito essas corridas apenas para me deslocar até a região onde atuo, que é o centro expandido. Lá, consigo um valor médio por quilômetro maior. Não analiso corrida por corrida, mas sim o faturamento global do dia. Meu objetivo é manter o valor do quilômetro rodado sempre acima de R$ 2,00. O principal critério para escolher uma corrida é o tempo total entre buscar o passageiro e concluir a viagem. Não uso nenhum aplicativo para isso, faço as contas de cabeça, já estou acostumado.
Entendi. Você trabalha como motorista há bastante tempo. Acha que antes era melhor? A Uber pagava mais? Havia menos motoristas e concorrência?
Éder: A forma de pagamento mudou muito ao longo dos anos. Quando comecei, em 2016, a Uber cobrava 25% de taxa fixa sobre cada corrida. Se o passageiro pagasse R$ 10, eu sabia que ficaria com R$ 7,50, pois na época não eram exibidas informações detalhadas sobre valores e métricas. Com o tempo, a Uber começou a mostrar mais informações, mas também reduziu o valor pago pelas viagens.
Por exemplo, antes uma corrida da minha casa até a Avenida Paulista pagava R$ 55 ou mais. Hoje, uma corrida muito boa paga no máximo R$ 48 ou R$ 49. A Uber foi reduzindo os valores gradualmente, exigindo que os motoristas se adaptassem para manter o mesmo faturamento. Além disso, tem o problema da inflação: o que se comprava com R$ 500 há quatro anos hoje equivale a menos de 70% do que comprava antes. Enquanto isso, as tarifas não aumentam, pelo contrário, continuam diminuindo.
Você fatura R$ 3.000 por semana. Quanto disso é lucro? Você abastece todos os dias? Quantas vezes e com qual valor?
Éder: Eu abasteço o carro completamente antes de começar a trabalhar todos os dias. Meu custo com combustível varia entre 19% e 22%, dependendo do tipo de corrida e das condições do trânsito. No fechamento semanal e mensal, essa porcentagem se mantém. Atualmente, trabalho com um carro alugado. Meu custo operacional total, incluindo aluguel do veículo, combustível e eventuais gastos com alimentação na rua, fica entre 48% e 54% do faturamento semanal. Tento reduzir custos levando água, frutas e já almoçando antes de sair para trabalhar.
Esse percentual inclui gasolina?
Éder: Sim, gasolina e aluguel. Qualquer gasto adicional, como um lanche ou um energético que tomo no final de semana, também entram na conta.
Entendi. Então, cerca de 50% do seu faturamento é destinado aos custos operacionais. Perfeito. Agora, quero saber: quais são os maiores desafios de trabalhar como motorista e influenciador? As críticas, conciliar as duas funções ou a criatividade para novos conteúdos?
Éder: Com o tempo, o conteúdo pode parecer saturado e repetitivo. Por isso, minhas postagens no Instagram diminuíram bastante, pois não quero ficar fazendo sempre a mesma coisa. O maior desafio é equilibrar o trabalho como motorista e a produção de conteúdo. Quando gravamos vídeos na prática para meu canal ou para o Resenha na Pista, o dia de trabalho fica mais complicado. Quando não estou gravando, é mais tranquilo, pois não preciso explicar ou justificar minhas ações em vídeo. O mais difícil é conciliar as corridas com as gravações.
Outro desafio é a edição. Editar um vídeo pode levar entre 50 minutos e uma hora, o que também demanda bastante tempo.
Com certeza. E para você, quais são os maiores desafios enfrentados pelos motoristas de aplicativo? Qual deveria ser a prioridade da categoria?
Éder: A principal preocupação para mim é a segurança. O número de assaltos e latrocínios cresce a cada ano, e medidas mais eficazes deveriam ser adotadas para garantir a segurança dos motoristas. Atualmente, qualquer pessoa pode criar uma conta fake e pedir uma corrida sem que haja um controle rigoroso. A análise de passageiros deveria ser mais criteriosa. Também seria útil um botão de pânico que acionasse diretamente a polícia em casos de emergência. Infelizmente, sempre vemos notícias de motoristas mortos em assaltos. Toda semana, são pelo menos dois ou três casos relatados. A segurança precisa ser prioridade.
Sim, com certeza. E quais dicas você daria para quem está começando como motorista de aplicativo?
Éder: A principal dica é utilizar um aplicativo que faça a leitura da tela e ajude a analisar se uma corrida vale a pena dentro dos custos definidos pelo motorista. É essencial ter controle total sobre os gastos para calcular corretamente quais corridas compensam. Outra dica fundamental é ficar atento à segurança. Quem está começando pode não conhecer bem a cidade e acabar entrando em regiões perigosas. O ideal é mapear as áreas mais seguras e evitar locais de alto risco.