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“Faturo entre R$ 10 mil a R$ 18 mil por mês; não tem um padrão fixo”, afirma entregador

"Se eu cobrar R$ 1300 de uma entrega, eu lucro cerca de R$ 950", afirma entregador que largou os apps de delivery e hoje tem como renda principal fretes e mudanças por conta própria.

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Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Homem sorridente de óculos e boné azul, com camiseta escura e crachá, em ambiente interno com fundo desfocado.
Foto: Marcos Antônio Cavalcante para 55content

Marcos Antônio Cavalcante começou no ramo das entregas ainda cedo, com apenas 12 anos já auxiliava em mudanças e fretes, e desde então desenvolveu gosto pela profissão. Hoje, com seu próprio caminhão, faz entregas e sustenta a família com muita dedicação.

Ao longo da vida, passou por diferentes fases: atuou como ajudante, teve que vender sua primeira van, trabalhou com carroceria de Kombi, enfrentou um acidente que o afastou temporariamente do volante e chegou até mesmo a atuar como motorista de aplicativo. Mas o que chamou mesmo sua atenção foram os fretes contratados individualmente.

Com planejamento, esforço e visão estratégica, Marcos montou sua própria operação, adquiriu um caminhão, conquistou clientes fiéis e criou um modelo de trabalho que valoriza seu tempo, aumenta sua lucratividade e permite conciliar o serviço com a rotina familiar.

Nesta entrevista, Marcos conta por que escolheu abandonar os aplicativos para focar nos fretes contratados diretamente, explica como organiza sua rotina, revela quanto fatura por mês, fala das vantagens e desafios de ser autônomo e dá conselhos valiosos para quem pensa em entrar no ramo.

Como começou sua trajetória como entregador? Hoje você optou pelo ramo dos fretes, mas como isso tudo começou?

Sim, eu comecei minha trajetória no transporte desde os meus 12 anos. Comecei bem cedo, com 12 para 13 anos, trabalhando como ajudante em entregas. Também atuava como ajudante de mudança. Então, minha trajetória no transporte começou muito cedo.

Passados alguns anos, entre 2013 e 2014, comprei um furgão. Fiquei um ano fazendo entregas para uma transportadora. Nesse período, acabei sendo dispensado, e como eu ainda não estava estruturado na época, tive que vender minha van. Mas sempre tive o desejo de continuar trabalhando com transporte.

Depois disso, trabalhei registrado por um tempo e, anos mais tarde, consegui comprar uma Kombi. Era uma Kombi com carroceria. Foi aí que realmente comecei a pegar firme no transporte, fazia bastante frete e entrega.

Acabei sofrendo um acidente em casa, fraturei o pé e foi nesse momento que surgiu a oportunidade de começar a trabalhar com aplicativos de passageiros.

Comecei alugando um carro por dois meses. Pensei: “Vou alugar para ver como é que é.” No primeiro mês, achei que ainda era pouco tempo para ter um parâmetro, então aluguei por mais um. Vi que estava valendo a pena e dava para trabalhar com aplicativo.

Foi então que financiei um Ford Ka 2015 e trabalhei dois anos, dois anos e meio, como entregador. Tanto que, no início do meu canal no YouTube, tem vídeos mostrando algumas viagens e serviços que fiz. Trabalhei com entregas no iFood, Rappi e outros.

Depois, surgiu a oportunidade de comprar um caminhãozinho, uma HR. Dei meu carro como entrada e adquiri o caminhão. Mesmo assim, continuei fazendo alguns testes nos aplicativos. Um dos vídeos que fiz sobre a Lalamove teve bastante repercussão e muitas visualizações.

Foi por esse vídeo que o pessoal da Lalamove me encontrou e me propôs uma parceria. Fiz um trabalho de divulgação com eles, e fui o primeiro influenciador de transporte deles.

Depois disso, abriram espaço para outros influenciadores também. Trabalhei como influenciador com a InDrive Fretes, mas a parceria não seguiu adiante por conta de algum problemas deles.

Com a HR atendi o Mercado Livre, fiz serviços variados. Acabei vendendo a HR após receber uma proposta e adquiri uma Fiorino. Com ela, fiz muitos serviços: pela Lalamove, na operação da Amazon e também atuei para uma transportadora terceirizada que usava os serviços da Amazon.

Durante esse tempo, também produzi conteúdo para essas operações. Hoje, estou trabalhando com caminhão e faço serviços esporádicos para uma transportadora.

Cheguei a receber proposta para atuar como agregado da Shopee, fazendo coletas, mas não foi algo que funcionou bem para mim.

De vez em quando, ainda faço serviços esporádicos pela Lalamove. Agora eles separaram a operação: tem a parte para caminhões maiores, de até duas toneladas e meia. Era uma demanda dos motoristas, que antes só conseguiam carretos menores. Então, quando aparece alguma oportunidade legal, eu aceito e faço, mas tenho atuado na maior parte do tempo com os fretes por conta própria.

E aí, faz quanto tempo que você está só com o caminhão?

Só com o caminhão vai fazer 8 meses.

E você atua em qual cidade?

Eu trabalho mais em São Paulo, mas viajo algumas vezes. No momento, viajar está um pouco mais difícil.

Por que você decidiu então fazer só os fretes privados, abandonando os aplicativos? Apesar de ainda usar de vez em quando, por que você preferiu dessa forma?

Porque, para mim, a lucratividade é maior. Vejo o aplicativo como uma renda extra, como uma segunda opção. Se estou em algum lugar mais vazio e vou voltar para casa, ligo o aplicativo para ver se tem alguma corrida nesse sentido. Mas, para mim, o aplicativo não é minha principal fonte de renda. Sempre enxerguei como um complemento.

E como funciona? Quem te contrata? São clientes que te conhecem pessoalmente e pedem para você levar ou é alguma transportadora? Como seu serviço é solicitado?

É dividido. Tenho clientes fixos, seguidores que me indicam, e também muita gente chega por meio de recomendações. Como estou há muitos anos no ramo, faço serviço para uma pessoa ou empresa e essa pessoa acaba indicando para outras.

Essa entrega que estou fazendo agora, por exemplo, é uma fonte de água. Um seguidor meu foi chamado, mas o carro dele não comportava a carga. Ele então indicou: “Olha, tem um rapaz que tem caminhão.” Além disso, faço anúncios no Google, que também geram demanda. Nas redes sociais divulgo bastante. Mas a maioria vem mesmo por indicação e são clientes antigos.

E uma entrega como essa de hoje, por exemplo, quanto você consegue faturar?

Essa entrega estou levando para Ilhabela, em São Paulo, então é uma viagem. Tenho que pagar balsa, pedágios, alimentação.

Costumo cobrar, em média, de R$ 1.300, R$ 1.500. De lucro, se eu cobrar R$ 1.300, consigo tirar entre R$ 900 e R$ 950 líquidos, no bolso.

O restante cobre os custos com diesel, pedágios porque os gastos ficam em torno de R$ 300.

Eu ia te perguntar em relação aos gastos, como o abastecimento do caminhão. Você tira uma reserva para manutenção? Como faz esse controle?

Sim, eu tenho um caixa. Um caixa para manutenção e também para o pagamento da prestação do caminhão. Divido tudo. Cada mudança ou trabalho que faço, separo o valor: minha diária, o valor da prestação e o da manutenção.

É como se eu fosse funcionário do meu próprio caminhão. Eu tiro minha diária, separo a prestação e também reservo um valor para manutenção, que uma hora chega. É importante ter essa reserva.

E você comentou que não sai todo dia, nem viaja todos os dias. Como é sua rotina? Tem algum horário para sair ou só sai quando tem entrega? Tem dias que não tem nada? Como funciona seu dia a dia?

Minha base é minha casa. Fico em casa, mexendo nas redes sociais, divulgando o trabalho. Não tenho um horário fixo para sair. Quando aparece trabalho, eu vou.

Mas tenho minha rotina com a família também. Tenho filha, esposa… preciso levar minha filha para a casa da minha sogra, pra escola.

Geralmente, saio depois das sete. Só saio mais cedo se for algo muito importante, como uma viagem.
Tenho tentado conciliar o trabalho com a escola da minha filha. Tento agendar todos os serviços para depois das sete horas. Mas, quando tem viagem, não tem jeito. Aí a gente fica dois, três dias fora de casa. Só que tudo é planejado com antecedência.

Além da questão financeira, que você já comentou, qual é a principal diferença de trabalhar de forma individual, como você faz hoje, e com os aplicativos?

A principal diferença é a lucratividade e o tempo. Por exemplo, ontem mesmo eu não trabalhei. Tirei o dia inteiro para cuidar de assuntos pessoais.

Se a pessoa trabalhar só com aplicativo, até tem essa liberdade de pausar e resolver as coisas, mas não vai lucrar com isso. Para ter lucro com aplicativo hoje, a pessoa precisa trabalhar bastante, com constância. É como motorista de passageiro: se ele fizer uma dúzia de viagens e parar, não vai ter o lucro desejado. Precisa ter uma meta diária e cumprir horário.

Os aplicativos até oferecem essa flexibilidade, sim. Mas eu prefiro trabalhar de forma esporádica, fazendo serviços para um ou outro cliente. Assim, consigo trabalhar no meu ritmo.

Como é que você calcula o valor do frete? Por exemplo, hoje você está fazendo uma viagem longa. Mas e quando está dentro de São Paulo, em uma entrega mais rápida? Como funciona a cobrança?

Como já tenho muitos anos na área, eu tenho uma tabela. Para mudanças e fretes no meu bairro, por exemplo, em um raio de até 5 km, cobro a partir de R$ 300.

Se passar disso, o valor vai aumentando: para 10 km, cobro R$ 400; 15 km, aumenta mais, e assim por diante, conforme o trabalho. Tanto para mudança quanto para frete, há diferença de valor.

Para empresas, minha saída custa R$ 500. Amanhã mesmo tenho um serviço com uma transportadora e esse é o valor da minha saída.

E nesses casos, quem arca com pedágio e alimentação? Está tudo incluído ou é à parte?

Depende. Tem empresa com a qual dá para negociar. Algumas transportadoras são mais flexíveis e você consegue negociar. Mas outras não. Especialmente quando é o primeiro serviço, com um cliente novo, você precisa aceitar as condições iniciais.

Com o tempo, vai ganhando confiança e espaço para negociar. Aí você pode dizer: “Olha, esse frete é mais complicado, demora mais”, e assim vai ajustando o valor.

Você tem alguma outra fonte de renda além das entregas?

Já tive. Vendia produtos como camisetas, bonés, adesivos… tudo com minha marca. O pessoal gostava bastante. Mas acabou crescendo muito, eu não estava dando conta e precisei parar. Hoje me dedico apenas à produção de conteúdo nas redes sociais e ao meu trabalho com o caminhão.

E quanto você consegue faturar por mês, em média?
É muito variável. Tem mês que chego a R$ 15 mil, outros chega a R$ 18 mil, mas também tem mês que cai para R$ 10 mil. Não tem um padrão fixo.

Depende muito da época do ano também, se as pessoas estão comprando mais ou menos, se há mais entregas. Tudo isso influencia.

Você tem uma média de quantos quilômetros costuma rodar por semana?

Ah isso é complicado. Hoje mesmo estou fazendo uma viagem longa, já rodei quase 400 km. Na segunda-feira, por exemplo, rodei apenas 5 km, fui em um lugar ali perto, no meu bairro. Ontem não rodei. Então é muito imprevisível. Cada dia é uma novidade, nunca sei como será o dia seguinte.

Para alguém que ainda não tem caminhão, você indicaria começar no frete ou pelos aplicativos?

Hoje, para quem não tem nenhum conhecimento, acho que o melhor caminho são os aplicativos. É mais fácil: a pessoa se cadastra, assiste vídeos nas redes sociais, aprende e já começa a trabalhar. Sempre que algum seguidor ou amigo me pergunta, passo essas informações.
Hoje, com a concorrência que existe, vejo que é muito mais difícil alguém começar sozinho, sem fazer marketing do próprio serviço. É muito mais fácil se cadastrar em um aplicativo e começar a trabalhar. Tem muitos motoristas que montam boas estratégias e conseguem uma lucratividade ótima, mas eles se dedicam totalmente a isso.

A probabilidade de dar certo é maior começando pelo aplicativo. Porque trabalhar por conta própria exige muito mais do que só fazer a entrega, tem todo um trabalho de divulgação, de marketing. Todo dia você precisa estar em evidência, vendendo seu serviço, sua imagem, mostrando que está fazendo um bom trabalho.

Algumas pessoas me perguntam: “Marquinho, por que você trabalha tanto?” Eu respondo que é fruto de anos e anos de dedicação. Sempre buscando melhorar, oferecer um serviço de qualidade, porque esse nosso mercado está cada vez mais concorrido. A gente precisa se destacar para sair na frente.

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