“Faço R$5 mil nos apps (já descontando combustível) e +R$700 por mês levando 2 crianças pra escola”, diz motorista de app

Motorista de app relata que seu app mais usado é o Urbano Norte: “A corrida mínima é R$ 8 e eles pagam mais de R$ 2 por km. 

Homem sorridente vestindo camisa polo preta com detalhes verdes e o logotipo "Urbano Norte".
Foto: Jorge Santos para 55content

Há um ano no volante, Jorge Santos decidiu trocar a construção civil pelos aplicativos de transporte para poder acompanhar de perto a infância da filha. Desde então, organiza sua rotina com horários bem definidos, metas diárias e critérios rígidos para aceitar corridas, priorizando apps que pagam acima de R$ 2 por quilômetro, como o regional Urbano Norte. 

Além do trabalho nos apps, conquistou uma clientela fiel para serviços particulares — fator que reforça sua visão: cuidar do carro e do atendimento é essencial para garantir boas oportunidades. Apesar do bom desempenho, enfrenta um bloqueio sem explicação ao tentar se cadastrar na 99, situação ainda não resolvida.

Então, Jorge, pode começar a falar aí sobre o seu bloqueio. Você mantém de aplicativo?

Jorge: O ano passado eu tentei me cadastrar na 99. Eu já sou cadastrado no Uber, aí também me cadastrei aqui em uma regional chamada Urbano Norte, e fui tentar fazer o cadastro na 99. Quando tentei, apareceu que eu já tinha uma conta nela, sendo que nunca tive conta nenhuma, porque eu nunca havia trabalhado de aplicativo antes.

Aí entrei em contato com a 99 pelo telefone. Foi uma verdadeira via-crúcis, passa pra um, passa pra outro, pedem documento daqui, documento dali, e nada foi resolvido. Então, fiz uma queixa no Reclame Aqui.

Depois que eu fiz a reclamação lá, foi que entraram em contato comigo direto. Aí pediram documentação novamente, eu enviei tudo certinho. Me disseram que em sete dias ia estar liberado pra fazer meu cadastro.

Só que, com sete dias, não estava liberado. Entrei em contato de novo, aí liberaram. Quando fui enviar o documento pra concluir o cadastro, logo em seguida já recebi a resposta dizendo que minha conta estava cancelada definitivamente. E não me deram mais nenhum retorno em relação a isso.

Isso foi entre ano passado e esse ano, né?

Jorge: Isso, vai fazer um ano agora em abril que eu tentei fazer o cadastro.

E você não está conseguindo trabalhar até hoje no 99?

Jorge: Não. Quando eu entro lá, aparece que esse CPF já está cadastrado. Aí tento entrar pra dirigir, e fala que está bloqueado.

Sinal que tem alguém usando ainda seu CPF.

Jorge: Sim, verdade, com certeza.

E Jorge, agora pra saber, não sei se você gostaria de compartilhar um pouco sua experiência como motorista de aplicativo pra gente? Conversar um pouco, porque você quer trabalhar no 99? Você topa ou era só isso mesmo?

Jorge: Topo, sim, topo.

Então vamos lá: por que o senhor decidiu ser motorista de aplicativo? E desde quando o senhor é?

Jorge: Eu sou motorista de aplicativo, fez um ano agora, no início de março. Eu trabalhava com construção civil pesada, trabalhava viajando. Mas como eu tenho uma filha aqui em Porto Velho, que está na infância, eu queria ficar perto dela. Eu não moro com a mãe dela, nunca fomos casados, mas temos essa filha.

Eu ficava muito distante. Da última vez que saí, passei quase quatro anos fora. Só vinha a Porto Velho a cada três meses e ficava cinco dias em casa. Como trabalhar pros outros exige seguir muitas regras — e claro, eu gosto de seguir normas, sigo — mas resolvi comprar um carro e trabalhar pra mim mesmo. Assim eu mesmo faço meu horário.

E você podia contar um pouquinho da sua rotina? De que horas a que horas você trabalha, se folga algum dia da semana, se é guiado por metas, tipo, só volta pra casa depois de fazer R$ 300, como é que funciona isso?

Jorge: Eu começo cedo, cinco horas da manhã. Trabalho com dois aplicativos, na verdade três: trabalho com a Uber, mas aqui em Porto Velho ela não tá dando lucro nenhum, porque não acompanhou o aumento do combustível.

Aqui tem um aplicativo regional chamado Urbano Norte. A menor corrida é R$ 8, e normalmente as corridas são acima de R$ 2 por quilômetro. É raro ter corrida a R$ 1,90 ou R$ 1,80. Geralmente tudo acima de R$ 2.

Trabalho também com a inDrive. A inDrive você sabe, funciona tipo um leilão. Mas eu só aceito corrida acima de R$ 1,90. Abaixo disso, não pego. Só de R$ 1,90 pra cima, R$ 2, R$ 3, dependendo também da pessoa.

Eu tenho uma meta diária: fazer R$ 370. Mas, se não conseguir, também não fico me matando. Quando dá 18h, geralmente já estou em casa. De domingo, trabalho só até meio-dia. E tem domingos que nem trabalho, fico com minha filha, passo o dia junto.

Não tenho aquela correria desenfreada. Já transportei aqui colegas de outros aplicativos, quando o carro deles estava na oficina, e eles me contam que pegam o carro às 6h da manhã e vão até 23h. Não tem como viver uma vida dessa, a pessoa acaba se matando mais ainda.

E por que você, assim, claro, você tem total direito de entrar no 99, mas você sente falta de ter um outro aplicativo? Foi esse o motivo que você queria entrar no 99?

Jorge: Não, eu não sinto falta. Mas eu queria saber diretamente o motivo de a minha conta estar bloqueada sem nunca ter tido uma conta na 99, e eles me bloquearem definitivamente.

Sim, sim, com certeza.

E Jorge, minha próxima pergunta: você falou que é motorista há um ano. Você sente que de um ano pra cá ficou mais difícil fazer dinheiro nos aplicativos? Qual é a sua visão?

Jorge: De janeiro pra cá deu uma caída. É por causa das festas, final de ano, essas coisas influenciam. Eu não tinha começado no ano passado pra pegar o ano todo, comecei em março mesmo. E nesse regional que tô agora, comecei em abril. Fiquei um mês no Uber, continuei com ele, mas vi que não estava compensando. Aí baixei o InDrive.

Estava pagando minhas contas tranquilo. Só agora em janeiro e fevereiro que apertou um pouco, fiquei no vermelho, mas agora já está voltando ao normal novamente.

E você só aceita corrida que paga R$ 1,80 por KM, R$ 2,00 por KM? Como funciona isso?

Jorge: Abaixo disso eu não pego de jeito nenhum. Só pego acima disso.

Porque é aquela coisa: não posso pagar pra trabalhar. Senão é trocar seis por meia dúzia, não tem como. Só em casos específicos, tipo uma corrida pra uma localidade que o lucro seja vantajoso, aí posso pegar. Do contrário, corrida pequena, de R$ 1,60 ou R$ 1,70 por KM, não compensa.

E pra você, qual o melhor aplicativo pra se trabalhar aí na cidade?

Jorge: Olha, aqui em Porto Velho, pelo que eu trabalho, o Urbano Norte é o melhor. Como eu te falei, a menor corrida dele é R$ 8,00. Geralmente, quando tem uma ou duas paradas a mais, o preço sobe bastante, fica bem vantajoso, principalmente no horário de pico — pela manhã, à tarde — e também quando está chovendo. Nesses horários aí, dispara mesmo, dispara bastante.

E Jorge, você é um motorista que seleciona bastante suas corridas então, certo?

Jorge: Certo, sim. Passageiros bêbados ou com animais, eu não pego. Pego, entre aspas, se pagar uma taxa antecipada do valor. Do contrário, não entra no meu carro.

E a próxima pergunta: quanto você consegue aí, trabalhando nesses aplicativos, mais ou menos faturar por mês?

Jorge: Livre? Sem contar combustível? Porque geralmente, troca de óleo e manutenção já fazem parte. Tirando o combustível, dá pra tirar R$ 5.000,00 livre por mês. Dentro do meu horário normal de trabalho. Tem gente que tira mais, mas como eu te falei, aí já é se matar de trabalhar. E eu não quero isso, entendeu?

E pra você, Jorge, qual é a maior dificuldade de um motorista de aplicativo hoje

Jorge: Bem, aqui na cidade que eu moro, a maior dificuldade está no trânsito. Tem muito motorista irresponsável, inclusive dentro dos próprios aplicativos. Tem aqueles que dirigem feito doido, invadem semáforo… E eu digo porque já vi pessoalmente, não foi ninguém que me contou, eu já vi vários fazendo isso. Não foi um nem dois, foram vários.

E se você pudesse dar alguma dica pra quem tá começando, qual seria? 

Jorge: Bem, a dica pra quem tá começando… Eu tenho uma meta comigo: gosto de estar sempre com meu carro limpo, música ambiente, tanto pra mim quanto pro passageiro. Aqui tem motoristas que colocam música alta, e já recebi reclamação de passageiro por causa disso. Carro sujo também, tudo isso influencia na nota do motorista. Aqui no aplicativo regional que eu trabalho, a nota não aparece pra nós, mas no InDrive aparece, a gente consegue ver a pontuação que os passageiros dão.

Você gostaria de acrescentar mais alguma coisa nessa conversa, algo que sentiu falta de falar sobre sua experiência, sua rotina?

Jorge: Olha, até agora eu não tive nenhuma má experiência dirigindo, graças a Deus. Pelo contrário, tive um bom retorno. Ganhei muitos passageiros à parte, pra fazer serviço particular, como levar crianças pra escola, tudo através do serviço que presto pelo aplicativo.

Esses serviços particulares, por exemplo, você falou que ganha R$ 5.000,00 por mês limpo. Isso inclui esses serviços particulares?

Jorge: Não, não, isso aí tá à parte. Só estou considerando o que ganho trabalhando com os apps mesmo.

Você aconselha motoristas de aplicativo a seguir essas dicas que você falou, de manter o carro limpo, ambiente agradável, tratar o passageiro com educação, pra conseguir essa cartela de clientes particulares? Você acha vantajoso?

Jorge: Acho vantajoso, sim. Agora mesmo, enquanto eu tava conversando com você, acabei de deixar dois alunos na escola. Quando você mandou a mensagem, eu tinha acabado de deixá-los e aproveitei que estava parado pra entrar em contato contigo. Aí já volto pra rotina normal. Agora vou até meio-dia — aqui é uma hora menos do que o horário de Brasília —, então vou até 11h, almoço, tiro uma hora de descanso, depois volto novamente, vou até 17h30 e já paro. Aí me recolho, limpo o carro. Todo dia à noite, ou no final da tarde, limpo meu carro. Deixar o carro limpinho é um ponto positivo pro motorista, bastante mesmo.

E com o serviço particular, quanto que você consegue tirar aí?

Jorge: Olha, depende. Agora mesmo, só esses dois alunos que eu levo já me rendem R$ 700,00 por mês. Sem contar outras pessoas que levo só uma vez por semana, o que me gera mais uns R$ 360,00. E ainda tem um casal de idosos, quando precisam de mim, já ligam direto. São pessoas que não sabem usar aplicativo, nem têm smartphone, só celular comum. Senhoras na faixa dos 70, 80 anos.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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