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“Faço 7 corridas por dia e lucro entre R$ 200 a R$ 250”, diz motorista de app de São Paulo

Motorista de app reclama: “quando comecei lucrava R$ 350, hoje, lucro R$ 250. No final do mês isso dá uma diferença de R$ 1.000”. 

Homem sentado dentro de um carro, com expressão séria, vestindo uma camiseta preta com detalhes de estrelas vermelhas e amarelas no lado esquerdo do peito.
Foto: Leandro Raul para 55content

Motorista de app reclama: “quando comecei lucrava R$ 350, hoje, lucro R$ 250. No final do mês isso dá uma diferença de R$ 1.000”. 

O mercado de transporte por aplicativos tem se transformado ao longo dos anos, e ninguém melhor do que um motorista experiente para falar sobre essas mudanças. Conversamos com Leandro Medeiros, motorista de aplicativo há seis anos, que compartilhou sua trajetória, rotina e os desafios enfrentados na profissão.

Há quanto tempo você trabalha como motorista de aplicativo e o que te levou a ingressar nesse mercado?

Leandro Raul: Vou completar seis anos em maio. Antes, trabalhava na área de autoescola e ainda dou aula para habilitados, mas o trabalho principal é como motorista de aplicativo.

Você começou como uma renda extra ou já entrou pensando na profissão como sua fonte principal de renda?

Leandro Raul: Desde o início, foi minha renda principal.

Como você organiza sua rotina de trabalho? Quantas horas você trabalha por dia? Você tem uma meta diária?

Leandro Raul: Quando eu estava pagando o financiamento do carro, trabalhava praticamente todos os dias da semana, focando nos horários de pico. Moro em Guarulhos, mas rodo no centro de São Paulo. Atualmente, começo a trabalhar por volta das 4h da manhã e sigo até as 10h ou 11h. Esse horário me permite alcançar minha meta diária, que varia entre R$ 200 e R$ 250 líquidos.

Esse valor é líquido ou bruto?

Leandro Raul: Líquido, já considerando os custos operacionais. Geralmente, gasto entre R$ 40 e R$ 50 de álcool por dia.

Quantas corridas você costuma fazer para alcançar essa meta?

Leandro Raul: Normalmente, faço sete corridas. Se chego a dez em um dia, é uma raridade.

Com essa estratégia, qual sua média de faturamento mensal?

Leandro Raul: A meta semanal é atingir R$ 1.300 até sábado. No fim do mês, consigo cerca de R$ 5 mil líquidos, já descontando o combustível.

Você mencionou que trabalha nos horários estratégicos de São Paulo. Como funciona essa escolha de horários?

Leandro Raul: Começo a rodar às 4h da manhã e aguardo uma corrida para São Paulo. O problema é que, atualmente, as corridas de Guarulhos para a capital estão com valores muito baixos. Então, saio perdendo no início, mas recupero ao chegar no centro de São Paulo. Lá, foco nas categorias mais vantajosas, como Uber Comfort e 99 Plus, além de selecionar corridas pela inDrive.

Você começou a trabalhar com aplicativos em 2018. Naquela época, as condições eram melhores?

Leandro Raul: Com certeza! O sistema de multiplicador dinâmico fazia uma grande diferença. Antes, o pagamento era baseado em quilometragem e tempo, então, se ficássemos presos no trânsito, ainda assim recebíamos um pouco mais. Hoje, o valor da corrida é fixo, independentemente do tempo que levar.

O preço das corridas caiu muito?

Leandro Raul: Sim, bastante. Por exemplo, uma corrida que antes rendia R$ 40 agora paga cerca de R$ 28. Se houver um dinâmico, pode chegar a R$ 31, mas ainda assim, caiu bastante.

Na época, com a mesma carga horária, você conseguia faturar mais?

Leandro Raul: Sim, fazia cerca de R$ 350 por dia. Hoje, a mesma jornada rende, no máximo, R$ 250. No final do mês, a diferença é de aproximadamente R$ 1.000 a menos.

Você ainda trabalha aos domingos ou mudou sua estratégia?

Leandro Raul: Antigamente, valia a pena rodar aos domingos, principalmente buscando passageiros de baladas. Hoje, como o dinâmico multiplicador foi reduzido, não compensa mais. Só trabalho no domingo se precisei folgar algum outro dia da semana.

Atualmente, você costuma folgar um dia fixo?

Leandro Raul: Sim, domingo geralmente é meu dia de descanso. Mas, se for dia de rodízio, acabo trabalhando mesmo assim.

São Paulo é uma boa cidade para trabalhar como motorista de aplicativo?

Leandro Raul: Para mim, sim. Primeiro, porque conheço bem as ruas e sei onde as condições do asfalto são melhores, evitando buracos e reduzindo o desgaste do carro. Isso também ajuda a economizar combustível e a diminuir os gastos com manutenção. Já em Guarulhos, há muitas ladeiras e buracos, o que compromete bastante o rendimento do combustível. Por isso, prefiro sempre trabalhar em São Paulo.

Você se organiza para abastecer e garantir que possa trabalhar na capital?

Leandro Raul: Sim, sempre abasteço pensando em rodar em São Paulo. Se faço R$ 200 ou R$ 250, dependendo do que sobra de combustível, coloco R$ 40 ou R$ 50 de álcool para trabalhar no dia seguinte.

E como você gerencia seu abastecimento?

Leandro Raul: Eu só coloco R$ 50 se o tanque estiver zerado. Se ainda tiver combustível, coloco um valor menor, como R$ 40, para manter um controle eficiente.

Você costuma aceitar muitas corridas ou seleciona as melhores oportunidades?

Leandro Raul: Eu escolho muito as corridas, a ponto de minha taxa de aceitação estar muito baixa. Das 10 corridas que tocam na Uber, eu aceito apenas duas ou três. Isso porque hoje em dia não compensa fazer promoções. A Uber propõe que façamos R$ 50 para ganhar R$ 60, mas isso não vale a pena.

Quais conselhos você daria para quem está começando a trabalhar com aplicativos agora?

Leandro Raul: Eu nunca trabalhei com carro alugado e, sinceramente, não aconselho. Quem aluga carro pode achar que não terá gastos com manutenção, mas, no final, não consegue guardar dinheiro. Se você entrega o carro alugado, fica sem nada. Já quem tem seu próprio veículo, mesmo que desvalorize, ainda tem um patrimônio. Além disso, antes de começar, é essencial estudar o mercado. Quando comecei, assisti muitos vídeos no YouTube para aprender sobre melhores locais, horários e estratégias. Mesmo assim, a prática traz desafios. Também é fundamental entender a diferença entre direção preventiva e manutenção preventiva. Direção preventiva envolve a forma como você conduz o carro: evitar acelerações bruscas, frenagens desnecessárias e trocas de marcha erradas. Isso aumenta a vida útil do veículo e reduz os custos de manutenção.

Sua experiência como instrutor de autoescola ajuda no dia a dia como motorista de aplicativo?

Leandro Raul: Com certeza. Como dou aulas para habilitados, sei dirigir de forma mais econômica e evitar erros que prejudicam o carro, como trocas de marcha erradas ou direção agressiva. Isso reduz gastos com manutenção.

Quais são os maiores desafios de ser motorista de aplicativo hoje?

Leandro Raul: Sem dúvida, os valores pagos pelas plataformas. Se o motorista não souber calcular bem seus ganhos e custos, ele desiste. Muita gente entra achando que vai faturar R$ 7.000, mas não faz as contas corretamente. Além disso, a manutenção do carro pesa muito. Se a pessoa não tiver um planejamento, não consegue se manter na profissão.

Antes era mais fácil ganhar dinheiro com aplicativo?

Leandro Raul: Sim, sem dúvida. Os ganhos caíram muito desde que comecei. Hoje, trabalho praticamente o mesmo horário, mas seleciono bem as corridas para tentar compensar a queda nos valores pagos. No passado, algumas corridas que pagavam R$ 30 ou R$ 40 hoje pagam bem menos. Muitas vezes, as primeiras corridas do dia têm um valor muito baixo. Se a primeira corrida que tocar não valer pelo menos R$ 30, eu nem aceito. Além disso, algumas rotas não compensam, porque podem levar o motorista para regiões onde não há muitas corridas e ainda fazer com que ele pegue trânsito na volta. Esse tipo de aprendizado vem com o tempo e com a experiência.

Você acha que há motoristas demais no mercado?

Leandro Raul: Sim, tem muita gente, principalmente aposentados e pessoas que fazem disso um bico. Muitos pegam qualquer corrida, o que reduz o valor médio das viagens. Além disso, tem muita gente comprando carro para pagar com o próprio trabalho de aplicativo, o que também impacta o mercado.

Você gostaria de acrescentar mais alguma coisa?

Leandro Raul: O principal pedido dos motoristas sempre é um aumento na tarifa. Mas as plataformas raramente escutam. De vez em quando, mandam algumas mensagens para os motoristas, mas responder e dialogar é difícil. Já tentamos até marcar entrevistas com representantes dos aplicativos, mas eles evitam o contato direto. Infelizmente, é uma realidade complicada para quem depende desse trabalho. Além disso, cada região tem sua dinâmica, e o motorista precisa entender como funciona o mercado no seu bairro e no seu estado para conseguir bons ganhos. Para mim, R$ 200 ou R$ 250 diários são suficientes, mas para outras pessoas que têm custos maiores, pode ser necessário trabalhar mais. O importante é sempre observar e aprender com motoristas mais experientes.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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