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“Eu conheço pessoas que ganham mais de R$ 1 mil por semana de bicicleta, mas trabalham pra caramba”, afirma entregador do iFood no RJ

Com turnos que chegam a oito horas por dia e cerca de 25 entregas, Thales Kan relata ganhos diários de mais de R$ 100.

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Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Imagem promocional de uma entrevista ao vivo com o tema "Como é Ser Entregador Com Bike", apresentada pelo Clube Machine. A imagem mostra uma bicicleta vermelha, uma mochila térmica aberta com uma mão segurando uma embalagem de entrega, e a foto do convidado Thales Kan no canto inferior direito. Há uma faixa vermelha lateral com o texto "AO VIVO".
Imagem: Acervo pessoal 55content

Com pouco tempo de profissão, mas muita vivência acumulada, Thales Kan, mais conhecido como Kan, encontrou nas entregas por aplicativo uma forma de recomeçar após dificuldades financeiras. Morador do Rio de Janeiro, ele iniciou a trajetória com bicicletas alugadas e longas jornadas de transporte público até a Zona Sul. Hoje, se mudou e atua na Zona Norte da cidade, já com bicicleta própria, organiza a rotina entre turnos de entrega e a autoescola, e compartilha nas redes sociais o dia a dia de quem pedala pelas ruas para garantir o sustento. Criador de conteúdo voltado especialmente a entregadores iniciantes, Kan utiliza sua experiência para oferecer dicas práticas e conscientizar tanto clientes quanto colegas de profissão. Em entrevista ao Clube Machine, ele falou sobre os desafios da entrega por bicicleta, de rodar em áreas de risco, os aprendizados na pista e os planos de futuro que vão da compra de uma moto à criação de uma empresa. Confira a entrevista completa:

Como você começou a trabalhar com entregas? O que fazia antes?

Quando eu comecei, estava numa situação ruim financeiramente. Eu entregava currículos, mas ninguém me contratava. Depois de muito tempo procurando, descobri as entregas como uma forma de ganhar dinheiro. Tinha amigos que já faziam isso de bicicleta. Eu morava na Baixada Fluminense, uma área afastada do centro do Rio, e eles moravam na Zona Sul, no Vidigal. Eles diziam que lá era melhor para trabalhar no iFood porque tinha mais demanda e promoções. Então, comecei a ir até lá. Era um trajeto de 1h30 a 2h de transporte público. Comecei em 2023 e já estou há quase dois anos nisso.

Você entrega de bicicleta. Como é a sua rotina de trabalho? Você fica muito cansado? Tem horário fixo?

No começo, era cansativo, mas como eu já fazia exercícios, me acostumei rápido. Em um mês ou menos, já estava adaptado. Trabalho para uma franquia parceira do iFood, onde preciso agendar meus horários. Por exemplo, posso agendar das 7h às 11h. Hoje estou com outras atividades, como autoescola, então faço dois turnos por dia, com média de 7 a 8 horas. Mas nem todo esse tempo é de entrega, pois há momentos em que fico esperando pedidos.

Você tem horário fixo todos os dias?

Tenho me acostumado a trabalhar de manhã até as 14h, pois depois tenho outras coisas para fazer. Às vezes trabalho à noite, mas meu foco agora tem sido o turno da manhã.

Sua renda vem só das entregas? Mora sozinho ou com alguém?

Moro com minha namorada e dividimos as contas. O iFood é minha principal fonte de renda, mas também ganho algum dinheiro com conteúdo na internet, ajudando quem está começando nas entregas.

Como você começou a criar conteúdo sobre entregas?

Sempre gostei de fazer conteúdo para a internet. Antes das entregas, já tentava criar no TikTok, mas não dava muito retorno financeiro. Quando comecei a trabalhar com entregas, vi que ninguém fazia conteúdo sobre isso, principalmente de bicicleta. Em janeiro de 2024, comecei a postar vídeos no TikTok mostrando minha rotina. Deu certo, fechei parcerias e continuo fazendo até hoje para ajudar quem está começando.

Você publica em quais plataformas?

Meu foco principal é o TikTok, mas também posto no YouTube e Instagram. Faço vídeos maiores no YouTube, com dicas, e replico nas outras redes. Tento manter um conteúdo único em todas as plataformas.

Você mora longe da área onde trabalha? Como é rodar no Rio de Janeiro?

Antes eu morava na Baixada, bem longe da Zona Sul, e levava de três a quatro horas por dia no transporte. No final de 2024, me mudei para a Zona Norte, que fica a uns 30 minutos do Centro. É uma área boa para fazer entregas, com mais promoções do iFood. Ainda tem áreas de risco, como favelas, mas é melhor que a Baixada em termos de demanda e segurança.

Você já foi assaltado ou passou por situações perigosas?

Graças a Deus, nunca fui assaltado, mas já quase fui. Já fui furtado, que é diferente: você só percebe depois que levaram algo. Nunca fui assaltado diretamente.

Quanto você consegue faturar em uma semana boa? Quais são seus gastos diários?

Fiquei um tempo sem rodar e meu score do iFood baixou. Isso afeta a demanda de pedidos. Hoje, meu score voltou ao nível máximo. Quando estava com o score alto, fazia de R$ 100 a R$ 150 por dia, trabalhando 10 horas. Rodando cinco dias por semana, dá pelo menos R$ 500. É puxado, mas como qualquer outro trabalho braçal, quanto mais trabalha, mais ganha.

Você gasta muito com comida ou manutenção da bicicleta?

Como moro perto de onde trabalho, volto para casa no almoço. Costumo comer algo antes de sair e, às vezes, levo um lanche ou compro um biscoito. Gasto pouco com comida na rua. Com manutenção da bicicleta, depende. Só faço quando percebo que precisa. Meus maiores gastos são com as contas de casa.

Você começou com a sua própria bicicleta ou alugava?

Comecei alugando a bicicleta do Itaú, pois não tinha uma. Eles têm parceria com o iFood, e eu pagava um plano semanal para usá-la. Depois de uns dois a três meses, juntei dinheiro e comprei a minha. Mais tarde, comprei uma melhor, que uso até hoje.

Você está tirando carta de carro e moto. É para trabalhar com isso?

Sim, quero usar a moto para fazer entregas, pois dá para ganhar mais. Estou aprendendo agora a dirigir e pilotar. Vai ser um investimento.

Qual é o valor da entrega mínima de bicicleta? Quantas entregas você faz por dia?

O valor mínimo é R$ 7. Em dias cheios, consigo fazer de 20 a 25 entregas, o que dá um pouco mais de R$ 100 por dia.

Quantos quilômetros você costuma pedalar por dia?

Nunca medi certinho, mas imagino que em dias de muita demanda seja mais de 50 km.

Qual foi o maior valor que já faturou em um mês só com entregas?

Já cheguei perto dos R$ 4 mil, mas minha média era entre R$ 2 mil e R$ 3 mil por mês. Eu conheço pessoas que ganham mais de R$ 1 mil por semana de bicicleta, mas trabalham pra caramba: seis ou sete dias por semana, 10 horas por dia. Não tenho esse pique.

Você costuma trabalhar em datas comemorativas, como Natal, Dia dos Namorados, Carnaval?

Se a data não for significativa para mim, costumo trabalhar. Em datas como Dia dos Namorados, eu não trabalho porque tenho namorada. Mas em feriados nacionais, como Tiradentes ou Independência, trabalho porque tem mais gente pedindo. No final do ano, o mês todo costuma ter promoção. No Carnaval também tem bastante demanda.

Nessas épocas, como Carnaval e fim de ano, você percebe aumento de pedidos por causa dos turistas?

Sim, principalmente na Zona Sul. Já entreguei para muitos gringos. O iFood também coloca promoções nessas épocas, o que mostra que a demanda é maior.

O que você mais gosta e o que menos gosta no trabalho de entregador?

O que mais gosto é a liberdade e a possibilidade de ganhar mais do que num emprego CLT. O que menos gosto é ter que lidar com pessoas. Às vezes, o cliente é mal-educado mesmo quando somos gentis. Trabalhar com o público pode ser complicado. Um ponto positivo também é que faz bem para a saúde, ajuda a emagrecer.

Você sente falta dos direitos trabalhistas de um CLT?

Com certeza, seria ótimo ter vale-transporte, alimentação, seguro… O MEI dá alguns benefícios, mas é bem limitado. Pouca gente pensa nisso. Já discutiram leis sobre isso, mas não acho que vá mudar tão cedo. Seria ótimo, mas acho difícil de acontecer.

Você costuma receber gorjetas? Já recebeu algo diferente durante as entregas?

Na Zona Sul, recebia mais gorjetas. O máximo foi R$ 20. Já ouvi casos de gente que recebeu R$ 50 ou R$ 100, mas nunca aconteceu comigo. Já ganhei um açaí uma vez porque a cliente não conseguiu pegar o pedido. Mas não é comum.

Você pretende seguir na profissão por muito tempo? Tem outros planos?

Quero continuar, sim. Tenho o perfil nas redes sociais e quero crescer com isso. No futuro, penso em fazer faculdade de Comunicação. Já estudei idiomas por hobby. Quero continuar subindo: comecei com bike alugada, depois própria, agora quero uma moto. Penso até em abrir algo relacionado a entregas no futuro, mas ainda é um plano distante. Quero continuar, mas com mais segurança e estudo.

Que conselho você daria para quem está começando?

Assista aos meus vídeos. Quando comecei, não tinha ninguém explicando nada. Fiz questão de criar conteúdo para ajudar quem tá começando. Dou dicas de como aceitar pedidos, evitar áreas de risco, melhorar na entrega.

O que você gostaria que as pessoas entendessem sobre a profissão de entregador?

Gostaria que as pessoas se atentassem mais quando pedem comida. Um dos maiores estresses é quando o cliente só desce depois que chegamos. Isso atrasa nosso trabalho. A gente ganha por entrega, então esse tempo conta. Se puder, desça antes de o entregador chegar. Tem cliente que nem desce, quer que a gente suba. Em alguns casos, o pedido até fica com o entregador. Isso acontece mesmo.

Quais são suas redes sociais para quem quiser te acompanhar?

Todas as minhas redes sociais são “Kan Entregas”, estou no TikTok, Instagram e YouTube. É só procurar que vai achar, todas com a mesma foto.

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