Engenheiro viu nas corridas uma oportunidade de renda: “Tive um infarto e o seguro da Uber não me ajudou”

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Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Paulo Beltrão, motorista de aplicativo. Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal.

Após perder emprego, engenheiro se reinventa como motorista e enfrenta desafios com seguro da Uber.

Em setembro deste ano, Paulo Beltrão, 62 anos, foi demitido de seu cargo como engenheiro civil e enxergou nas corridas uma nova oportunidade de renda. Dessa forma, utiliza seus dois carros, um modelo Creta e um Argo, para as viagens na categoria Black e Comfort da Uber.

Com a chegada das contas, Paulo precisou se reinventar e se adaptar ao universo de motoristas de aplicativo: “Como eu sou um engenheiro sênior, não seria muito fácil arranjar algo de imediato”.

Dessa forma, ele conta que trabalha cerca de 8 a 9 horas diárias, todos os dias da semana. E ainda revelou que já realizou 750 viagens, sendo 510 delas de 5 estrelas, com uma média de faturamento de R$ 200 a R$ 300 bruto por dia: “Dentro da classificação da Uber, sou um motorista 5 estrelas”.

Beltrão roda em Recife, capital de Pernambuco, e lamentou um episódio médico: “Na noite do dia 14 de novembro, enquanto eu estava dirigindo, não me senti bem, muito indisposto. Apesar disso, terminei a corrida e voltei para casa, mas continuei me sentindo muito mal. Na manhã seguinte, dia 15, amanheci ainda indisposto. Por volta das 11 horas, fui ao médico, procurei a emergência e foi detectado que eu tinha tido um pequeno infarto.

Realizaram uma angioplastia, e eu fiquei três dias no hospital. Recebi alta no dia 18, mas, por ordem médica, fiquei suspenso de dirigir por 15 dias. Assim, só pude voltar ao trabalho no dia 5 de dezembro.
Nesse período, acionei o seguro de renda, que eu acreditava ser oferecido pela Uber, já que havia contratado. Porém, eles simplesmente ignoraram meu pedido e disseram que não era possível. Isso me deixou muito chateado.

Eu acho que a Uber precisa preservar muito o cliente, mas também olhar para o motorista. São três pernas que sustentam a relação: a empresa, nós, os motoristas, e o cliente. Sem o cliente, nada funciona, e é importante que ele fique satisfeito. Eu percebo que a Uber se preocupa com isso, mas essa experiência me mostrou que falta essa preocupação conosco, motoristas”.

O seguro ao qual Paulo se refere é o “Seguro Renda Protegida”, no qual a empresa “oferece um pagamento diário de até R$ 350/dia caso você se machuque, impedindo você de dirigir e ganhar dinheiro na plataforma da Uber”, segundo o site da companhia.
E, para participar, cada quilômetro percorrido com passageiros ou itens será deduzido em 1,7 centavos (R$ 0,017 por km).

Como foi a transição para trabalhar como motorista de aplicativo?

Para mim, não foi muito difícil. Como eu convivo bastante com questões de orçamento, de obra e tudo mais, sempre estou lidando com clientes. Então, não foi algo traumático para mim. Eu acho que não tive dificuldade nesse sentido. Faço os cálculos de quilômetro percorrido e de custos. Eu calculei e 25% do meu faturamento é para cobrir os custos com gasolina.

Qual a sua estratégia para aumentar os ganhos na temporada de final do ano?

Tenho me focado bastante nas proximidades dos hotéis aqui da região e, principalmente, no aeroporto. Tenho passado muito tempo por lá e isso tem gerado um bom movimento. Já atendi muitos passageiros nessa área.

O que você acredita que poderia ser melhorado para os motoristas na sua região?

Eu acho que precisamos abrir um diálogo com as plataformas, sentar à mesa e discutir o que pode ser melhorado. Existem, sim, alguns pontos que precisam de atenção. A remuneração, por exemplo, sem dúvida nenhuma, poderia ser melhor. Acho essencial abrir esse diálogo, sou muito favorável a isso.

Sempre acreditei que, se eu atender bem o cliente, o resto flui naturalmente. Essa é uma filosofia que apliquei durante toda a minha vida profissional. Um cliente satisfeito gera receita, e com receita eu preciso saber administrar meu fluxo de caixa, entender minhas despesas.

Se as coisas forem ficando mais caras, quem acaba arcando com o prejuízo é o cliente final. Por isso, é preciso pensar em conjunto, buscando soluções que sejam equilibradas e favoráveis para todas as partes envolvidas.

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