A Cevi, aplicativo regional de mobilidade, nasceu de uma necessidade prática.
O CEO Luciano Reis conta que, antes de criar o app, trabalhava em uma empresa que precisava transportar funcionários em uma cidade sem opções de aplicativos. “Era bem complicado. Só havia táxis, e eles atendiam quando queriam. Então eu decidi abrir uma empresa de transporte corporativo”, relembra.
O início foi modesto. “Nosso primeiro mês teve um faturamento de R$ 150”, contou.
Mesmo com o retorno baixo, Reis decidiu continuar. “Muita gente teria desistido, mas a gente seguiu. Fomos crescendo e atendendo mais empresas. Aí os próprios funcionários começaram a pedir o serviço para uso pessoal.”
Com o aumento da demanda, o atendimento via WhatsApp se tornou inviável. “Chegou um momento em que não dava mais conta. Foi aí que decidimos usar uma plataforma. Em 2019 começamos a rodar como aplicativo mesmo”.
Desde então, a Cevi opera sem pausas. “Não tem feriado, Natal ou domingo. A gente trabalha todos os dias. Criamos uma central que já funciona 24 horas durante a semana e vai passar a operar 24 horas também nos fins de semana.”
Crescimento e presença regional
Hoje, a Cevi atende cerca de 70 empresas e já passou de 700 motoristas cadastrados, sendo 658 ativos. “A gente não libera motorista sem necessidade. Trabalhamos conforme a demanda. Assim, quem está ativo sabe que vai rodar e ganhar, não fica esperando corrida por horas”, explicou.
A política, segundo o CEO, ajuda a manter o nível de eficiência. “Conseguimos realizar mais de 90% das chamadas. Nossa perda é de 9%, somando cancelamentos e corridas não concluídas. Se esse número sobe, o passageiro desinstala o app. Então precisamos manter esse padrão.”
A Cevi está presente em mais de 15 cidades, entre elas Cerquilho, Tietê, Porto Feliz, Boituva e Lençóis Paulista, que se destaca pelo tamanho do mercado. “A média das nossas cidades é de 40 mil a 50 mil habitantes. Lençóis tem cerca de 80 mil e mais demanda. Mas cidades menores, como Laranjal Paulista, acabam surpreendendo também”.
Reis explica que o crescimento da empresa segue uma lógica estratégica. “A gente não escolhe uma cidade só porque quer estar lá. Normalmente a expansão vem de uma empresa que já atendemos e precisa do serviço em outro município. Aí faz sentido implantar a plataforma ali.”
Investimento e modelo de operação
O investimento para iniciar uma operação é alto e contínuo, explica o CEO. “As pessoas acham que montar um app custa R$ 5 mil. Isso é só o valor da plataforma. Mas e o marketing? E a equipe, o financeiro, o suporte, o SMS, o Google? Eu costumo dizer que, se você não tiver cinquenta mil reais para começar, é melhor nem iniciar. Vai ter um aplicativo que ninguém conhece e vai demorar um ano para aparecer.”
O app já consolidou sua presença. Hoje, realiza cerca de 5 mil corridas por dia e 280 mil por mês. “Em setembro, o faturamento foi de R$ 2,5 milhões”, afirmou Reis. A plataforma soma quase 200 mil downloads e mantém crescimento médio de 20% ao ano. “Nossa meta é repetir esse ritmo no próximo ciclo e continuar crescendo de forma sustentável.”
O modelo de receita da Cevi é baseado em taxa por corrida, variando de 10% a 20%, com diferença para motoristas mais ativos. “Quem roda de madrugada, fim de semana, ou mostra mais dedicação, paga menos taxa. Começamos sempre com 15% fixa nas novas cidades para o motorista conhecer a plataforma”, explicou.
Os pagamentos são automáticos. “O motorista tem uma carteira digital, e o dinheiro cai na hora. Ele decide quando quer sacar. Tem motorista que saca a cada corrida e outros que deixam acumular para sacar uma vez por mês.”
Segurança, atendimento e combate à clandestinidade
Além do transporte de passageiros, a Cevi atua com entregas, carros executivos e motoristas bilíngues. A empresa também criou o Cevi mulher, com carros adesivados e identificados no para-brisa. “É uma forma de promover segurança e reconhecimento fácil para passageiras”, explicou o CEO.
A Cevi também faz campanhas frequentes contra as corridas clandestinas fora do aplicativo. “Infelizmente, ainda acontece. A gente tem campanhas e termos de uso muito claros. Quando identificamos que um motorista faz corrida por fora, ele é desligado. E alertamos os passageiros: fora do app, não há cobertura da Cevi.”
Ele citou um caso emblemático. “Um motorista foi preso transportando um passageiro com material ilícito. A esposa dele entrou em contato conosco, mas a corrida não estava registrada na plataforma. Não pudemos fazer nada. É triste, mas mostra o risco de trabalhar fora do sistema regularizado.”
Ganhos dos motoristas e relação com o time
A média de faturamento dos motoristas, segundo o CEO, é de R$ 10 mil por mês, podendo chegar a R$ 17 mil em meses de maior movimento. “Tem motorista que faz R$ 1,5 mil e tem quem passe de R$ 17 mil. Isso depende totalmente do quanto ele se dedica. A empresa oferece a corrida, mas quem faz o ganho é o motorista.”
Reis afirma que a Cevi prioriza a proximidade com os condutores. “Essa é a vantagem de ser regional. A gente conversa com eles, responde no WhatsApp, tem contato direto. É diferente das grandes plataformas, que acabam perdendo essa conexão.”
Desafios, concorrência e futuro dos apps regionais
Para o CEO, o mercado de aplicativos regionais está mais competitivo e exigente. “Vai haver uma diminuição no número de apps. Hoje, muita gente entra achando que é fácil, porque viu outro aplicativo funcionando. É igual à época dos barbeiros: de repente tinha um em cada esquina. Mas manter é difícil.”
Ele também comentou sobre a regulamentação nacional que está em debate. “Fazer um planejamento de cinco anos hoje é impossível. Pode ser que a regulamentação ajude, mas também pode inviabilizar boa parte dos regionais. Ninguém fala sobre as pequenas cidades, sobre as operações locais.”
Mesmo diante das incertezas, Reis demonstra confiança. “O mercado amadureceu. Quem começou há três ou quatro anos tem chance de se consolidar. A gente já ocupou uma boa fatia e aprendeu o caminho. Agora é continuar entregando qualidade, mantendo os pés no chão e valorizando o motorista, que é quem faz o aplicativo existir.”
Indicadores operacionais
- Downloads (base de clientes): 199.601;
- Volume diário: média de 5.000 corridas/dia;
- Setembro: mais de 280 mil corridas realizadas e receita aproximada de R$ 2,5 milhões;
- Nível de atendimento: 91% das solicitações concluídas (perda total de 9% entre cancelamentos e não atendidas);
- Meta de crescimento: manter +20% no comparativo anual e repetir o ritmo no ciclo seguinte.