Ser motorista de aplicativo no Brasil não é mais tão lucrativo como antes. Isso é o que diz Gerson Ferreira, motorista desde 2021. Segundo ele. com o aumento do preço dos combustíveis, a alta nos custos de manutenção e tarifas que não acompanham a inflação, muitos profissionais enfrentam dificuldades para manter a renda. Além disso, a segurança nas ruas é uma preocupação constante, especialmente em grandes cidades como o Rio de Janeiro.
Nesta entrevista, Gerson compartilha sua experiência e explica como precisou adaptar sua rotina para continuar na profissão. Ele fala sobre seus ganhos, os desafios do dia a dia e por que acredita que ser motorista de aplicativo já não vale tanto a pena como antes.
Então, Gerson, o objetivo aqui da nossa entrevista é saber um pouco mais sobre o trabalho dos motoristas de aplicativo. A gente sabe que o Brasil é muito grande, tem muitas cidades, então cada motorista tem a sua realidade. Até mesmo em cidades grandes, cada motorista tem a sua forma de trabalhar.
Minha primeira pergunta é bem pessoal: eu gostaria de entender como você começou a trabalhar com os apps, por quê, por quais motivos e desde quando você está fazendo esse serviço?
Gerson: Sim, eu era inspetor de transporte coletivo, e a empresa onde trabalhei por 29 anos fechou as portas. Aí fui trabalhar como motorista de aplicativo em outra empresa, mas ela também fechou. Então, resolvi comprar um veículo e colocar no aplicativo. Já estou nessa batalha há quase quatro anos.
Perfeito. Então, desde 2021, mais ou menos?
Gerson: Isso, 2021.
Legal. E, Gerson, eu gostaria de saber um pouco sobre a sua rotina. De que horas a que horas você trabalha? Você opta pelos horários de pico da sua cidade? Eu acho que é o Rio de Janeiro. Você é guiado por algumas metas? Você folga em algum dia da semana? Como é isso?
Gerson: Sim, eu tenho o meu horário. Ligo o aplicativo às cinco da manhã e vou até mais ou menos uma ou duas da tarde, no máximo. Na parte da noite, eu não trabalho porque o Rio de Janeiro é muito perigoso. Eu tenho uma meta que procuro manter, que é de R$ 350 por dia, ou pelo menos R$ 300. Mas, ultimamente, está difícil de bater essa meta.
Legal. E desse valor, quanto você gasta de combustível?
Gerson: Então, o problema está no combustível. Aqui no Rio de Janeiro, o preço está absurdo. A gasolina chega a bater R$ 6,10 ou R$ 6,30, e o etanol varia entre R$ 4,40 e R$ 4,60. Ficou complicado.
Tirando todos os seus custos, desses R$ 300 que é sua meta, quanto sobraria?
Gerson: Ultimamente, com todos os gastos do veículo, no máximo está sobrando entre R$ 2.000 e R$ 2.200 por mês.
Por mês, certo. E você comentou que começou em 2021. Naquela época, você acredita que era melhor trabalhar como motorista de aplicativo? Dava mais lucro?
Gerson: Sim, era mais rentável por causa do preço do combustível, que não era tão alto. A manutenção do carro também era mais barata quando comecei. Agora, tudo aumentou, menos a tarifa da Uber.
Verdade. Naquela época, você conseguia fazer mais ou menos quanto?
Gerson: Quando comecei, fazia entre R$ 4.000 e R$ 5.000 livres.
Nossa, então praticamente foi pela metade, né? De 2021 para cá.
Gerson: Isso, caiu pela metade.
Você prefere trabalhar com algum app específico? Trabalha tanto pela Uber quanto pela 99?
Gerson: Não, eu prefiro trabalhar na Uber. Apesar da taxa que ela cobra, acho que é mais segura do que a 99 para trabalhar, principalmente aqui no Rio de Janeiro, que tem muita comunidade.
E você é seletivo nas suas corridas? Recusa bastante ou aceita todas?
Gerson: Ultimamente, tenho recusado bastante, porque o valor não está compensando. Eu gosto muito de rodar na Zona Sul da cidade e na Barra da Tijuca, mas ultimamente tem tido muito trânsito. Por exemplo, uma corrida de 3 km ou 4 km, mais um para buscar, sai por R$ 6,98, e você gasta uns 25 minutos para concluí-la. A conta não fecha, não vale a pena.
E você costuma folgar em algum dia da semana?
Gerson: Sim, eu tiro uma folga por semana, geralmente na sexta-feira. De vez em quando, também folgo no domingo, porque as corridas não têm valido a pena. Está muito distante para pegar o passageiro e o valor não compensa. Então, tenho ficado com folga na sexta e no domingo.
Para você, qual a sua média de valor pago por KM trabalhando na Uber? Ou uma média que você acha aceitável? Você aceita corridas a partir de R$ 1,50, R$ 1,70, R$ 2,00? Como é que é isso?
Gerson: Apesar de ultimamente não ter muita escolha, porque dificilmente aparece corrida de R$ 2,00 por KM, o máximo que está batendo aqui é R$ 1,50, R$ 1,40 por KM. Antes tinha, mas agora não tem mais.
Entendi. Bom, você falou que só trabalha na parte da manhã. Quando começou em 2021, ainda assim trabalhava nesse horário? Sempre foi assim?
Gerson: Sempre, sempre trabalhei de manhã. Nunca gostei de trabalhar de tarde ou à noite.
Minha próxima pergunta é: você acredita que ainda vale a pena ser motorista de aplicativo?
Gerson: Eu realmente acredito que não está valendo mais a pena. O custo de manutenção está muito alto. No início deste ano, investi uma grana forte em um carro novo e me arrependi. Gastei R$ 105 mil, dei meu carro mais velho, que era 2023, e comprei um 2025. Agora vejo que não vou recuperar esse dinheiro na Uber.
Você trabalha no UberX, Uber Comfort?
Gerson: Eu trabalho no UberX e no Uber Comfort.
Boa. E quais dicas você daria para quem está começando nesse serviço?
Gerson: Minha dica é não comprar carro usado ou muito rodado. Se comprar, logo vai ter problema de manutenção, o que acontece toda hora. Eu mesmo, com carro novo, já tenho. Imagine quem está com um carro com 100 mil km rodados, o valor só vai cair. Então, comprar um carro muito rodado pode ser um grande prejuízo.
Sim, entendi. E para você, qual a maior dificuldade que os motoristas de aplicativo enfrentam hoje?
Gerson: Hoje, a maior dificuldade é a violência e o trânsito. O trânsito está muito pesado, e a violência, principalmente aqui no Rio de Janeiro, está demais.