José Sangoi é motorista de aplicativo e divide seu tempo entre Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e Florianópolis, em Santa Catarina. Ele começou a trabalhar com transporte por aplicativo há cerca de três anos, motivado por um conselho do filho enquanto estava em Florianópolis. Desde então, passou a rodar principalmente pela 99, evitando a Uber devido a dificuldades com a localização dos endereços. Seu trabalho é flexível, com jornadas distribuídas ao longo do dia e sem uma folga fixa, ajustando-se às condições climáticas e à demanda de passageiros.
Na entrevista, José comenta sobre os desafios da profissão, como o impacto do aumento dos combustíveis e a variação no volume de corridas conforme a época do ano. Ele também compartilha sua estratégia de metas diárias e explica por que prefere trabalhar em Florianópolis, onde o fluxo de passageiros é maior e as tarifas são mais vantajosas. Além disso, destaca a importância do profissionalismo e do bom atendimento para quem deseja ingressar no setor.
José, eu queria entender um pouquinho, primeiro, como o senhor se tornou motorista de aplicativo e desde quando?
José: Seguinte, eu sou do Rio Grande do Sul. Tenho filhos que moram em Florianópolis faz uns sete, oito anos, e eu sempre vou para lá todos os anos. Uns três anos atrás, eu estava em Florianópolis. Quando vou, fico três, quatro meses, às vezes oito meses, às vezes um ano. Eu divido meu tempo entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Aí, quando estava lá, meu filho me perguntou por que eu não fazia aplicativo em Florianópolis. Meus filhos moram no Campeche, na ilha. Então, comecei a rodar lá. Me cadastrei na Uber e na 99, mas praticamente só rodo pelo 99, porque lá tem muito movimento para Uber. Quando estou em Florianópolis, trabalho com o 99 e continuo nele quando volto para cá. Não gosto muito da Uber por causa dos endereços, acho complicado. A Uber tem um sistema de localização que não me agrada tanto. Em dezembro, fiquei vinte dias em Florianópolis e rodei pelo 99 por oito a dez dias. Quando volto para cá, trabalho aqui.
Você trabalha em Florianópolis, mas agora está em qual cidade?
José: Estou em Santa Maria, Rio Grande do Sul. Sou daqui. Quando vou para Florianópolis, trabalho lá também.
Entendi. E eu queria saber um pouco sobre a sua rotina de trabalho. De que horas a que horas o senhor trabalha? Tem algum dia fixo de folga?
José: Praticamente rodo todos os dias. Trabalho de manhã, das 6h30, 7h até umas 9h, e depois à tarde, das 14h até as 16h, 17h, por aí.
O senhor não folga nenhum dia da semana?
José: Às vezes, sim. Se está chovendo, por exemplo, no sábado, eu sou sócio de um clube. Se não posso ir ao clube, eu trabalho um pouco no 99. Faço apenas à tarde nesses casos. No domingo, se está chovendo, saio para trabalhar de manhã. Não é que eu não goste de ficar em casa, mas não gosto de ficar parado. Sempre estou fazendo algo. O mesmo acontece quando estou em Santa Catarina. Se fico três, quatro dias seguidos na praia, tudo bem. Mas se o tempo estiver ruim, trabalho direto no 99.
E o senhor tem alguma meta diária ou semanal? Estrutura seu trabalho para atingir algum objetivo financeiro?
José: Aqui em Santa Maria, a gasolina está entre R$ 6,10 e R$ 6,20 o litro. Então, eu estabeleço metas. Se abasteço com R$ 60, preciso faturar entre R$ 200 e R$ 300 no dia. Se coloco R$ 50, tenho que fazer pelo menos R$ 180. Assim, garanto um lucro de no mínimo R$ 100 a R$ 130 por dia. O carro é meu, então eu dirijo com cuidado para evitar desgaste excessivo. Minha meta gira em torno de 30 a 35 corridas por dia. Quando as universidades estão funcionando, o movimento é bem melhor, mas agora, em janeiro, está mais fraco. A demanda caiu bastante.
Você trabalha com o aplicativo desde 2021, certo? Na sua opinião, era mais fácil ganhar dinheiro antes? As taxas eram melhores?
José: Como comentei antes, aqui em Santa Maria, toda sexta-feira, entre 16h e 19h, a 99 aplicava taxa zero. Isso ajudava bastante. Mas depois a empresa retirou esse benefício. Em Santa Catarina, a dinâmica é sempre alta porque a cidade é turística. Já aqui em Santa Maria, com 300 mil habitantes, a realidade é diferente. Desde o início do ano, a dinâmica quase não aparece. E sem dinâmica, o movimento cai.
Agora, em janeiro, muitas pessoas optaram por parar de rodar porque não está valendo a pena. Tem muito desgaste de carro e pouco retorno. Eu mesmo já faz uma semana que não consigo atingir minha meta de R$ 150 a R$ 200 por dia. Alguns motoristas mais novos tentam bater metas de R$ 300 ou R$ 400 por dia, mas não estão conseguindo. A cidade está em ritmo de férias, sem universidades e escolas funcionando. Isso impacta muito o movimento.
Você fala em faturamento de R$ 150 a R$ 180 por dia. Isso é lucro ou faturamento bruto?
José: Faturamento bruto. Depois preciso descontar o valor do combustível e eventuais manutenções no carro, embora ele não dê problemas com frequência. Em meses normais, como no período letivo, consigo faturar mais, porque há mais passageiros disponíveis. Em dias de dinâmica, chego a tirar até R$ 200 em uma jornada curta. Agora, com o aumento da gasolina, preciso recalcular meus custos para manter a rentabilidade.
E qual é o faturamento médio mensal do senhor?
José: Meu faturamento gira entre R$ 2.800 e R$ 3.500 por mês. O lucro líquido, depois dos descontos, fica entre R$ 2.000 e R$ 2.500.
Qual cidade é melhor para trabalhar: Santa Maria ou Florianópolis?
José: Florianópolis, sem dúvida. Lá o movimento é mais intenso e as tarifas costumam ser melhores, especialmente na alta temporada. Aqui em Santa Maria, o movimento depende muito das universidades. Quando estão em período letivo, o fluxo de passageiros aumenta. Mas, durante as férias, o movimento despenca e fica mais difícil atingir minhas metas diárias.
O senhor prefere trabalhar com a 99?
José: Sim. Na maior parte do tempo, uso a 99 porque toca mais corridas. Só aciono a Uber quando estou em um local distante e preciso sair de lá, pois a 99 pode demorar mais para chamar.
Quais são as maiores dificuldades de ser motorista de aplicativo?
José: O principal problema é que as tarifas dos aplicativos não acompanham o aumento dos combustíveis e dos custos de manutenção. Aqui em Santa Maria, por exemplo, o transporte coletivo está para subir de R$ 5,00 para R$ 8,00, um dos valores mais altos do país. Isso poderia incentivar mais gente a usar aplicativos, mas, ao mesmo tempo, seria necessário que as tarifas também subissem para compensar os custos operacionais dos motoristas.
Qual conselho o senhor daria para quem está começando?
José: Ser profissional, tratar bem os passageiros, cuidar da higiene do carro e manter um bom atendimento. Não adianta entrar nesse ramo e querer escolher só as corridas que parecem melhores. É preciso trabalhar com dedicação e responsabilidade.