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“Em 2019, fazia R$ 250 líquidos por dia; hoje lucro R$ 3 mil por mês e olhe lá”, diz motorista de app de Porto Alegre 

Daniel da Silva diz que antes recebia de R$ 1,60 a R$ 1,70 por km, e hoje os valores variam entre R$ 1,15 e R$1,20. 

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Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Pessoa segurando um celular com o aplicativo da 99 aberto dentro de um carro em movimento.
Foto: Reprodução/99

Daniel da Silva diz que antes recebia de R$ 1,60 a R$ 1,70 por km, e hoje os valores variam entre R$ 1,15 e R$1,20. 

Daniel, eu queria saber primeiro como o senhor começou a trabalhar com o aplicativo e desde quando o senhor é motorista?

Daniel: Já faz cerca de seis anos que trabalho com o aplicativo, mas não lembro exatamente o ano em que comecei. Acho que em 2019. Inicialmente, foi para trocar de veículo, porque eu tinha uma moto. Após sofrer um acidente com minha esposa, ela não quis mais andar de moto, então troquei para um carro. Como o carro era caro, decidi trabalhar com o aplicativo para pagá-lo. Na época, eu também tinha uma barbearia em casa, mas o movimento estava fraco. Assim, comecei a rodar para complementar a renda e sigo até hoje.

E Daniel, você comentou que trabalha apenas com a 99 e que não gosta da Uber. Por que isso?

Daniel: A Uber não me aceitou como motorista. Por isso, desde o início, trabalho apenas com a 99.

Gostaria de saber como o senhor organiza sua rotina de trabalho. Que horas trabalha e se segue alguma meta?

Daniel: No início, eu estipulava uma meta diária para cobrir minhas despesas e sustentar a casa. Era em torno de duzentos a duzentos e cinquenta reais líquidos por dia, já descontando os custos. Hoje, porém, reduzi bastante essa meta, porque estou cansado. O trânsito é muito estressante e, como está difícil, acabo escolhendo bem as corridas. Algumas não valem a pena, principalmente quando exigem que eu busque passageiros muito longe, o que torna inviável financeiramente.

Quantas horas o senhor trabalha atualmente? Folga algum dia?

Daniel: Trabalho de segunda a sábado, geralmente cerca de seis horas por dia, mas, às vezes, faço menos. Janeiro e fevereiro são meses ruins, com poucas corridas e tarifas baixas. Por isso, diminuo ainda mais o ritmo. Já no domingo, não trabalho de jeito nenhum, é meu dia de folga sagrado, mesmo que tenha mais tabela dinâmica ou ganhos maiores.

O senhor percebe diferença nos valores pagos pelas corridas atualmente em comparação ao início?

Daniel: Com certeza. Antigamente, o faturamento era bem melhor. Não lembro exatamente o valor por quilômetro rodado, mas era algo como R$ 1,60 ou R$ 1,70. Hoje, caiu para cerca de R$ 1,15 ou R$ 1,20. Além disso, os custos do veículo aumentaram muito, enquanto as tarifas diminuíram, o que torna mais difícil atingir uma boa margem de lucro.

E Daniel, você sabe quanto, mais ou menos, consegue fazer no mês líquido hoje em dia?

Daniel: Hoje em dia, acho que meu ganho líquido não passa de três mil reais por mês.

Entendi. Antes você fazia mais, certo? Quanto você costumava ganhar?

Daniel: Sim, antes eu fazia entre quatro mil e quinhentos e cinco mil e quinhentos por mês.

Porto Alegre você considera uma cidade boa para trabalhar como motorista? É segura? Os passageiros são legais?

Daniel: Eu só trabalho durante o dia, porque minha visão para dirigir à noite não é boa. Já não sou mais tão jovem, então evito. Durante o dia, nunca tive problemas com segurança ou passageiros, ando por toda a cidade tranquilamente. O grande problema de Porto Alegre é o trânsito, que está cada vez mais caótico. Meu carro é a gasolina, e, apesar de ser econômico, no trânsito ele consome muito mais do que o normal. Isso torna bem difícil trabalhar por aqui.

Muitos motoristas reclamam que os custos, como combustível, manutenção e mecânico, aumentaram bastante, enquanto os repasses dos aplicativos diminuíram. O senhor concorda?

Daniel: Com certeza. Tudo aumentou, não só os custos do carro, como mecânica e manutenção, mas também o custo de vida. Se compararmos os preços do mercado de seis anos atrás com os de hoje, tudo está pelo menos o dobro. Meu trabalho é meu sustento, mas as tarifas não acompanharam esses aumentos. Pelo contrário, parece que diminuíram. Está cada vez mais difícil trabalhar com aplicativos.

Você acha que ainda vale a pena ser motorista de aplicativo hoje em dia?

Daniel: Não sei sobre outros aplicativos, mas na 99 ainda dá para levar. Não é que não vale a pena, mas é preciso escolher muito bem as corridas e, se possível, complementar a renda com outra atividade. Só com o aplicativo está bem complicado.

Hoje em dia o senhor trabalha apenas com o aplicativo ou tem outra ocupação?

Daniel: Trabalho só com o aplicativo.

Entendi. Gostaria de acrescentar algo mais a essa conversa?

Daniel: Sim, gostaria que as pessoas responsáveis pelos aplicativos ouvissem os motoristas. Estamos aqui para trabalhar para eles, mas precisamos ser valorizados. Não adianta competir entre si com tarifas cada vez mais baixas para atrair passageiros, porque isso só desmotiva os motoristas. Muitos já estão desistindo. Os aplicativos precisam nos valorizar para que possamos trabalhar com mais tranquilidade e manter um serviço de qualidade. É isso que espero que chegue aos responsáveis.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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